Sidney Magal durante performance do musical Xanadu, no teatro do Leblon, em 2009. Crédito: Shutterstock
Sidney Magal está bem. Depois de sofrer um pequeno acidente vascular cerebral em cima do palco, que o deixou internado por 11 dias, o cantor está se recuperando do susto em São Paulo e revê uma vida de excessos que agora cobra seu preço.
"Os médicos disseram, 'olha, vais ficar aqui mais uns dias porque com certeza o teu AVC foi em função da tua pressão [alta]", ele diz. "E todo mundo sabe que eu entro no palco como se fosse um touro de rodeio. Abre o portão e eu entro feito um cavalo sem me preparar antes, sem me concentrar, sem medir uma pressão, sem fazer nada."
Prestes a completar 73 anos, ele está orgulhoso de ser tema de uma exposição que estreia em São Paulo no dia de seu aniversário, na próxima segunda-feira (19). Magal estará presente na abertura da mostra, mas o retorno aos palcos ainda deve demorar até pelo menos agosto ou setembro.
Sem perder o bom humor, ele lembra passo a passo o que aconteceu na noite do dia 25 de maio, durante um show em São José dos Campos, no interior de São Paulo. O eterno amante latino estava cantando um medley de músicas de Tim Maia quando sentiu uma ligeira tontura e as pernas tremerem, exatamente na hora de "Sossego".
Ele imediatamente procurou a estrutura que suspende a bateria para se sentar. "Teve gente que achou que eu estava interpretando 'eu quero sossego', por isso sentei", diz. "Mas eu sentei porque eu fiquei tonto, e aquilo foi muito estranho para mim. Não bebo antes do show, nunca fiquei tonto para subir ao palco."
Magal falou que não sentiu dores na cabeça, apenas a tontura. "Por sorte minha, tinha uma doutora e uma ambulância atrás do palco. Era um evento numa área pública, com muita gente. Sentei lá atrás e continuei cantando, não larguei o microfone. Disse que ia voltar, mas ela disse que não, era para esperar um pouquinho.
Ele ainda brincou com a plateia, dizendo para a plateia ter calma porque "o meu sangue continua fervendo por vocês", citando uma de suas músicas mais famosas. O maestro da banda de Magal puxou o coro, e o público continuou cantando a música enquanto o artista era levado ao hospital.
A enfermeira perguntou se ele tinha algum problema em deitar na maca para ser de ambulância, no que ele respondeu, mantendo o bom humor, "desde que não seja sem volta". Já no hospital, os médicos afirmaram que a pressão do cantor estava alta, "21 por alguma coisa", conforme ele se recorda.
"Quando eles fizeram [a tomografia] da minha cabeça, viram pequeno coágulo no meu cérebro, ou seja, era um pequeno acidente vascular cerebral", diz. "Que estava ocorrendo, mas era muito pequeno mesmo."
O tratamento começou em São José dos Campos, e depois ele foi transferido para um hospital em São Paulo. "Começaram a fazer uma série de exames e constataram que era um pequeno AVC numa região do cérebro que, graças ao meu bom deus, não atingiu nenhum órgão, nenhum movimento. Não perdi a fala, não entortei a boca, não perdi movimento nas pernas nem nos braços -nada."
Hoje, Magal está "de molho", assistindo à TV e se encontrando com sua fisioterapeuta. Vê a situação como "um susto tremendo", já que poderia ter caído no palco e sofrido consequências mais graves. Considera que, pela proximidade do aniversário, está de certa forma renascendo, ainda que com 73 anos nas costas.
"Falei 'gente, tenho mais é que baixar a bola mesmo'", diz. "Tenho que ver e assumir que estou fazendo 73 anos de idade. Estou acima do meu peso. Eu sou uma pessoa de excessos. Cheguei ao hospital com quase 140 kg, saí com 130 kg. Tenho que continuar nessa de cuidar da minha alimentação, do meu peso, da minha pressão."
Sua rotina de shows, ele diz, é comer e beber de tarde, voltar para o hotel, tomar um banho, cantar, e depois comer e beber mais, antes de dormir e pegar o voo para Salvador, onde mora, no dia seguinte. Não mede a pressão e nem se prepara fisicamente com aquecimentos para as apresentações -algo que ele pretende mudar.
Um dos maiores nomes da música romântica brasileira, Magal sempre se destacou pelos movimentos e pelas danças, além do vozeirão. Hoje, quando sobe ao palco, ele quer conquistar cada uma das pessoas que foi lhe assistir, e não mede esforços para continuar a manter o rebolado.
Mas o susto em São José dos Campos já o faz pensar em aposentadoria. Não por agora, já que ele quer voltar aos palcos ainda no segundo semestre deste ano, e sim num futuro que pode não ser tão distante.
"Tenho muita coisa a aproveitar pela frente, mesmo que não seja no palco", diz. "Isso é uma coisa que me conforta também -chegar na hora da chamada aposentadoria do artista, né? Muita gente sofre com isso, mas eu não estou preparado para sofrer, não. Estou preparado para continuar vivendo muito bem, como sempre vivi -independentemente de estar no palco. Vou sentir falta do público, mas o público com certeza vai ter a lembrança eterna de quem é o Magal."
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