Terra e Paixão: capixaba Charles Fricks faz sucesso ao interpretar Ademir

Ator de 51 anos nasceu em Cachoeiro de Itapemirim e tem extensa carreira no teatro e na TV. Em bate-papo com "HZ", fala sobre a repercussão do personagem entre os fãs da novela de Walcyr Carrasco

Publicado em 28/05/2023 às 09h00
Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, Charles Fricks, por seu talento, chama a atenção em

Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, Charles Fricks, por seu talento, chama a atenção em "Terra e Paixão". Crédito: Guto Costa

Ele nasceu na "Capital Secreta do Mundo" (isso mesmo, Cachoeiro de Itapemirim), ganhou repercussão no teatro, especialmente após levar o Prêmio Shell com a peça "O Filho Eterno", e está "pocando" (como bom capixaba, vai entender o adjetivo) como o destemido Ademir, em "Terra e Paixão", nova trama das nove da Rede Globo. 

Lógico que estamos falando do ator Charles Fricks, que, aos 51 anos, está chamando a atenção por seu talento e (por que não?) beleza no drama rural de Walcyr Carrasco. Por falar em atributos físicos, o bonitão incendiou a internet nos últimos dias durante uma cena que mostrava uma briga com seu irmão na trama, Antônio (Tony Ramos). 

Na sequência que fez as redes sociais pirarem, Ademir é confrontado pelo vilão por conta das sementes compradas para o sobrinho Caio (Cauã Reymond) entregar a Aline (Barbara Reis), inimiga de Antônio. Valentão, o fazendeiro abriu a camisa, mostrou parte do peito, e sugeriu que o irmão lhe desse um tiro. Só bastou isso para os internautas gamarem. No Twitter, chegaram a pedir que Aline dispensasse os pretendentes Caio, Jonatas (Paulo Lessa) e Daniel (Johnny Massaro) para ficar com Tio Ademir. 

Lógico que "HZ" foi atrás de Charles Fricks para saber o que ele está achando de todo esse sucesso. Simpático, o cachoeirense disse estar surpreso com a repercussão, especialmente da cena em questão.

"Estava ansioso para ver essa cena. Não assistimos nada do que gravamos desde fevereiro. Adoro as cenas de confronto entre Ademir e Antônio. É muito divertido e emocionante gravar com Tony Ramos - e Glória Pires também. Ele tem uma facilidade em brincar, em 'jogar' em cena, o que facilita o trabalho do ator. Vibrei em casa, achei linda", conta.

Quando fui acompanhar os comentários nas redes sociais, só via referências à 'camisa aberta', 'peito de fora' e 'sugar daddy'. Ri muito com tudo isso. Tenho um corpo totalmente normal. O único exercício físico que faço, praticamente por obrigação, é fazer academia e caminhar. O frenesi não se justifica (risos). Mas eu só rio e agradeço

Tá bom... mas... vasculhando um post do capixaba no Instagram, vimos uma série de fotos tiradas em uma praia no último verão que também agradou (e muito) seus seguidores. Charles ganhou elogios pela forma física. Dê uma espiada e opine: é ou não é bonitão?

MISTÉRIOS

Aparências à parte, Ademir guarda um grande segredo em "Terra e Paixão", que pode estar ligado a Cândida (Susana Vieira) e Luana (Valéria Barcellos), a gerente transexual do bar mais quente de Nova Primavera.

Alguns internautas dizem que Ademir pode ter uma relação afetiva com a moça, mas também se comenta que ele teve um caso com Irene (Glória Pires), antes da ex-prostituta se envolver com Antônio. Esse seria um dos motivos para os irmãos se odiarem tanto. Comentam até que Daniel supostamente seja filho do personagem de Charles Fricks. É muita informação, gente!

Durante nosso bate-papo, o artista também comentou sobre todos esses boatos. "As novelas de Walcyr (Carrasco) são recheadas de mistérios. Alguns, nós, atores, sabemos. Mas a maioria deles…não. Vejo que saem muitas notícias sobre 'segredos dos personagens'. Um deles de que o Ademir teria uma relação amorosa com Luana. Não sei de onde tiraram essa ideia. Adoraria que essa trama realmente existisse. Seria uma excelente oportunidade para discutirmos a transfobia no Brasil em pleno horário nobre da TV. Afinal, somos o povo que mais assassina pessoas trans no mundo", reflete.

Sempre solícito, Charles Fricks, durante a conversa, também falou sobre o início da carreira, a relação com o teatro, lembranças de Cachoeiro de Itapemirim e política. Pegue uma xícara de café e vem com a gente, pois tem muita prosa.

Como pintou o convite para "Terra e Paixão"? Atuar em um texto de Walcyr Carrasco tem um atrativo a mais, visto que você já teve essa experiência com a novela "O Outro Lado do Paraíso"?

Em julho do ano passado, o produtor de elenco Fábio Zambroni, a pedido do diretor artístico Luiz Henrique Rios e do próprio Walcyr, me ligou chamando para fazer parte do elenco da novela. Tive que guardar esse segredo por meses até divulgarem em janeiro deste ano. Em "O Outro Lado do Paraíso", entrei para fazer uma participação de uns três ou quatro capítulos e acabei ficando até o final. Fiquei muito feliz e agradecido em saber que o autor lembrou de mim para fazer o Ademir agora.

Ademir tem uma relação complexa com o irmão, Antônio (Tony Ramos), como também possui uma ligação forte com Caio (Cauã Reymond). Na trama, podemos dizer que ele é a figura paterna "presente" na vida de Caio? Ele também dá suporte a Aline (Bárbara Reis) em seu recomeço. É um personagem que está no "olho do furacão"...

Dos três sobrinhos, Ademir nitidamente tem uma relação muito mais próxima com Caio. Quase paternal. Talvez uma compensação pela falta de amor do pai. Cauã e eu não nos conhecíamos. No primeiro dia de leitura do primeiro capítulo, em dezembro, ele se aproximou de mim e disse: "vamos fazer cenas lindas?!". Ali, pensei: "tenho que ter alguma intimidade com ele e em muito pouco tempo, já que as gravações iniciariam em quatro semanas". Começamos a conversar sobre a vida pessoal um do outro e acho que isso ajudou a ter algum tipo de proximidade entre os atores e, consequentemente, entre os personagens. Já Antonio e Ademir veem a vida de maneira completamente diferente. Antônio acha normal mandar matar e invadir as terras dos outros para enriquecer. Ademir é contra os métodos criminosos do irmão, tem empatia pelos outros, tem ética. Também teria uma péssima relação se tivesse um irmão como Antônio.

Falando mais de sua carreira, você tem uma formação muito ligada ao teatro. Com a elogiada "O Filho Eterno", chegou a vencer o Prêmio Shell. Um artista com esse background tem características diferentes, especialmente no que tange à mise-en-scène e à marcação de cena. Há uma diferença quando essa experiência é levada para a televisão, por exemplo?

Cauã Reymond costuma fazer brincadeiras comigo e com Inez Viana (que encarna Angelina na trama). Eu e Inez temos formação de décadas de teatro. Ambos chegamos no set com o texto estudado, decorado e nos recusamos a errar as falas... Quase como se estivéssemos nos apresentando ao vivo. Claro que é um exagero e nos divertimos com tudo isso (risos). Atores que já fazem TV há muitos anos, geralmente, têm uma agilidade maior em saber qual o melhor posicionamento para a câmera e o momento certo de se emocionar para cenas de forte carga dramática. No teatro, temos semanas ou meses para estudar as cenas. Na televisão, por sua vez, temos que gravar cinco, 10, 15 e às vezes 20 cenas por dia. Tudo tem que ser mais rápido. E isso obriga o ator a ter muita agilidade e versatilidade. 

Você é cachoeirense. Com quantos anos deixou a cidade? Teve alguma experiência em atuação no Espírito Santo? Ah, sim: fiquei sabendo que também trabalhou em uma padaria com o pai. Sabe colocar a mão na massa?

Meus pais sempre tiveram padaria, desde que eu era criança. Costumava ficar no caixa, mas nunca aprendi a fazer pães. A verdade é que nunca gostei de ficar parado no mesmo lugar. Sempre soube que não era isso que queria fazer na vida. Acho que fazer aulas de teatro na escola foram decisivas para escolher a carreira. Quando fiz intercâmbio por um ano nos Estados Unidos (onde terminei o segundo grau), fazia aulas de teatro e ganhei prêmio como Melhor Ator. Isso também foi outro incentivo para seguir na carreira. Quando cheguei no Brasil, fui logo para o Rio de Janeiro, no início da década de 1990, e nunca mais voltei. Em 1993, entrei para um grupo de teatro que acabava de se formar, a Cia Atores de Laura, dirigida por Daniel Herz, onde continuo até hoje.

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A "HZ", Charles Fricks detalha que começou a fazer teatro na adolescência, quando estudava em Cachoeiro. Crédito: Guto Costa

É impossível não fazer esta pergunta... Todo cachoeirense tem orgulho da cidade. Guarda na lembrança alguma relação afetiva com Cachoeiro? Costuma vir ao ES com frequência?

Quando penso em "memórias de Cachoeiro", nesse momento acho que o que me vem é o ambiente escolar. Com destaque para a escola Tio Patinhas, quando era bem criança, e o colégio Jesus Cristo Rei, já pré-adolescente. Foi com uma das professoras do Tio Patinhas, a ”Tia” Ângela, que me lembro de ter visto, pela primeira vez, um espetáculo de dança. Mais tarde, no Cristo Rei, durante as aulas de teatro na 5ª série, descobri o prazer de ensaiar uma peça. Na época, havia aula de Teatro e Música na 5ª série (Viva!). Depois, com uns 15 anos, participei de dois grupos de teatro amador na cidade: “Enfim Nós” e “Conto de Fadas”. Em relação à família, eles continuam morando em Cachoeiro e vou visitá-los ao longo do ano. Neste ano, será mais difícil por conta das gravações de "Terra e Paixão".

Voltando a falar da sua trajetória artística, além das inúmeras montagens teatrais, você também se destacou no cinema, em filmes como "Nise: O Coração da Loucura", como também na TV, com "O Outro Lado do Paraíso", "Amor de Mãe" e "Nos Tempos do Imperador". É uma carreira marcada por muitos êxitos...

Cheguei ao Rio em 1991 sem conhecer ninguém da área. Vim oficialmente para fazer faculdade de Comunicação. Se viesse para fazer apenas teatro, meus pais não me apoiariam. Fiz a faculdade, mas nunca parei com o teatro. Houve períodos em que fazia faculdade, trabalhava em uma produtora de vídeo e ensaiava um espetáculo ("Decote") com a Cia Atores de Laura. Quando pisei aqui, com 19 anos, acho que pensava em fazer TV. A televisão não aconteceu e o teatro me abraçou. Até por volta de 2004, me dediquei quase exclusivamente aos palcos. Na Cia Atores de Laura, fazíamos um espetáculo por ano. Foi em 2002, com a peça "As Artimanhas de Scapino", por conta da grande repercussão do meu trabalho e do espetáculo, que comecei a receber convites para trabalhos em audiovisual. Um deles foi para a série "Hoje é Dia de Maria". O diretor Luiz Fernando Carvalho assistiu ao espetáculo e me convidou para integrar o elenco. Depois vieram "Capitu" e "Meu Pedacinho de Chão". Outro momento profissional muito importante foi com meu primeiro monólogo, "O Filho Eterno", que contava com direção de Daniel Herz. Fui indicado a todos os prêmios de Melhor Ator e ganhei dois, o Shell e da Associação dos Produtores de Teatro. Outros convites vieram a partir de então...

Mudando um pouco de assunto... Você foi muito atuante nas redes sociais durante a última eleição presidencial, apoiando o candidato vencedor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O que espera do novo governo, especialmente no que tange às políticas públicas relacionadas à cultura, saúde e educação?

Foi um momento muito importante para nos posicionarmos. Ao menos senti muita necessidade. Já vejo mudanças, mesmo em tão pouco tempo de governo. Agora temos um governante que não vai imitar pessoas morrendo por falta de ar, mas sim se preocupar em levar médicos a regiões menos assistidas e fazer campanhas para aumentar a cobertura vacinal, que despencou depois de tanta mentira e bobagens proferidas por ex-governantes. O Brasil mudou! A secretaria de Vigilância Sanitária em Saúde e Ambiente, por exemplo, tem a nossa epidemiologista capixaba Ethel Maciel, entre tantos outros excelentes nomes nos ministérios. Não temos mais no governo gente dizendo que a "Terra é plana", mas sim quem acredita na ciência! Ainda falta muito. Sempre fomos um país racista, homofóbico e machista. O estrago dos últimos anos foi imenso. As mentiras e o ódio estão por aí, em todo lugar. Nas ruas, nas famílias, no WhatsApp, em Brasília… mas há também muita esperança.

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