Publicado em 1 de janeiro de 2023 às 07:00
Atire o primeiro remédio para o fígado (se você bebe, é claro!) quem nunca fez alguma bobagem após, ou durante, um porre daqueles e, no dia seguinte, "pleníssimo", não se lembrava de exatamente nada do que aconteceu? Ah, sim: festas de réveillon são ótimas para vivenciar, se assim podemos definir, comportamentos desse tipo... >
Micos à parte, a situação é mais comum do que sua vã filosofia pode pensar. Após um momento de intenso consumo de bebida alcoólica, o que resta, para algumas pessoas, são poucas lembranças (ou nenhuma) de acontecimentos passados. >
Especialistas afirmam que essa chamada amnésia ou blecaute alcoólico, um efeito provocado pelo excesso do consumo de álcool, existe, sim, podendo colocar em risco a integridade física das pessoas no momento em que acontece. Lógico que também pode causar efeitos nocivos à saúde a longo prazo. >
Tentando entender mais sobre esse tipo de esquecimento, "HZ" ouviu os neurologistas da Unimed Vitória, Paulo Rosa e Alexandre Marreco. Eles esclarecem alguns dos principais pontos sobre o assunto. >
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De acordo com Alexandre Marreco, o álcool é um potente inibidor do sistema nervoso. Por isso, consegue bloquear certas funções neurológicas, provocando desde fala arrastada e tonturas até a tão famosa amnésia.>
Paulo Rosa, por sua vez, explica que esse efeito do álcool ocorre em estruturas do encéfalo, uma porção complexa do Sistema Nervoso Central que comanda o nosso comportamento. >
Esses circuitos do encéfalo são os mesmos afetados pelas medicações utilizadas como calmantes, como o Clonazepam e o Diazepam. Além disso, o excesso de bebida alcoólica pode prejudicar o funcionamento do corpo de várias formas. >
"O uso abusivo pode ser diretamente tóxico para o encéfalo, gerando déficit de memória, crises epilépticas e até demência. O álcool pode afetar nervos periféricos, levando à polineuropatia, que gera fraqueza nas pernas e braços, além de dormências e dores nesses locais. Também prejudica o tubo digestivo, causando gastrite, úlceras, hepatites, cirrose e câncer de esôfago, e o coração, levando à cardiopatia alcoólica, com falta de ar, inchaço das pernas, barriga e edema pulmonar". >
E não é só a quantidade de álcool ingerida que está relacionada à amnésia. "O curioso é que estudos sobre o assunto mostram que, talvez, mais importante que a quantidade seria a velocidade do consumo de bebidas. Beber mais rápido parece aumentar o risco de blecaute alcoólico", aponta Alexandre Marreco. Portanto, pegue mais leve a aproveite para usufruir do seu drinque com calma!>
Os danos do blecaute alcoólico podem ir além, já que Alexandre lembra que, ao afetar o sistema nervoso, ele deixa as pessoas mais vulneráveis aos acidentes de todo o tipo. "A preocupação imediata seria a segurança. A pessoa tem sua capacidade de tomada de decisões prejudicada e, por isso, fica vulnerável a acidentes e conflitos", diz. >
Segundo especialistas, a amnésia provocada pelo abuso do álcool é temporária. Mas se a cachaçada for constante e o blackout a acompanhar, pode acontecer a lesão de repetição dos neurônios, que causa prejuízos à memória e à capacidade de atenção. >
"Existe a amnésia como uma das doenças degenerativas causadas pelo álcool, podendo levar ao quadro de Demência Alcoólica, que se comporta semelhante à doença de Alzheimer", acrescenta Paulo Rosa. >
Embora esta seja uma questão que varia de pessoa para pessoa, Paulo diz que estudos apontam que a ingestão de até 30 gramas de álcool por dia não causaria amnésia. Isso é equivalente a duas latinhas de cerveja, uma taça de vinho pequena ou duas doses pequenas de bebidas destiladas. >
Vale lembrar que o efeito entre homens e mulheres é diferente. Em entrevista ao UOL, a psiquiatra Renata Figueiredo, membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), disse que, em geral, a mulher pesa menos, tem menos quantidade de sangue, mais gordura e concentra mais o álcool no sangue. Por isso, ela é mais vulnerável a este blackout alcóolico, assim como pessoas de baixa estatura.>
Alexandre Marreco faz também um alerta: "Além de evitar o excesso, deve-se ter cuidado para não beber rápido demais. Isso serve especialmente para aqueles que já tiveram episódios de amnésia alcoólica antes". Ele lembra também que se alimentar e beber água entre as doses é importante para se evitar o quadro de amnésia.>
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