Amnésia alcoólica existe? Especialistas dizem que sim e pode causar danos à saúde

Segundo médicos, o esquecimento provocado pelo abuso do álcool é temporário. Mas, a longo prazo, lesão de repetição dos neurônios pode causar prejuízos à memória e à capacidade de atenção

Cena do filme

Cena do filme "Druk - Mais uma Rodada": excesso de ingestão de bebida pode levar a amnésia alcóolica. Crédito: Vitrine Filmes/Divulgação

Atire o primeiro remédio para o fígado (se você bebe, é claro!) quem nunca fez alguma bobagem após, ou durante, um porre daqueles e, no dia seguinte, "pleníssimo", não se lembrava de exatamente nada do que aconteceu? Ah, sim: festas de réveillon são ótimas para vivenciar, se assim podemos definir, comportamentos desse tipo...  

Micos à parte, a situação é mais comum do que sua vã filosofia pode pensar. Após um momento de intenso consumo de bebida alcoólica, o que resta, para algumas pessoas, são poucas lembranças (ou nenhuma) de acontecimentos passados.

Especialistas afirmam que essa chamada amnésia ou blecaute alcoólico, um efeito provocado pelo excesso do consumo de álcool, existe, sim, podendo colocar em risco a integridade física das pessoas no momento em que acontece. Lógico que também pode causar efeitos nocivos à saúde a longo prazo. 

Tentando entender mais sobre esse tipo de esquecimento, "HZ" ouviu os neurologistas da Unimed Vitória, Paulo Rosa e Alexandre Marreco. Eles esclarecem alguns dos principais pontos sobre o assunto. 

De acordo com Alexandre Marreco, o álcool é um potente inibidor do sistema nervoso. Por isso, consegue bloquear certas funções neurológicas, provocando desde fala arrastada e tonturas até a tão famosa amnésia.

Paulo Rosa, por sua vez, explica que esse efeito do álcool ocorre em estruturas do encéfalo, uma porção complexa do Sistema Nervoso Central que comanda o nosso comportamento.

Esses circuitos do encéfalo são os mesmos afetados pelas medicações utilizadas como calmantes, como o Clonazepam e o Diazepam. Além disso, o excesso de bebida alcoólica pode prejudicar o funcionamento do corpo de várias formas. 

"O uso abusivo pode ser diretamente tóxico para o encéfalo, gerando déficit de memória, crises epilépticas e até demência. O álcool pode afetar nervos periféricos, levando à polineuropatia, que gera fraqueza nas pernas e braços, além de dormências e dores nesses locais. Também prejudica o tubo digestivo, causando gastrite, úlceras, hepatites, cirrose e câncer de esôfago, e o coração, levando à cardiopatia alcoólica, com falta de ar, inchaço das pernas, barriga e edema pulmonar". 

"VELOZES E FURIOSOS"

E não é só a quantidade de álcool ingerida que está relacionada à amnésia. "O curioso é que estudos sobre o assunto mostram que, talvez, mais importante que a quantidade seria a velocidade do consumo de bebidas. Beber mais rápido parece aumentar o risco de blecaute alcoólico", aponta Alexandre Marreco. Portanto, pegue mais leve a aproveite para usufruir do seu drinque com calma!

Os danos do blecaute alcoólico podem ir além, já que Alexandre lembra que, ao afetar o sistema nervoso, ele deixa as pessoas mais vulneráveis aos acidentes de todo o tipo. "A preocupação imediata seria a segurança. A pessoa tem sua capacidade de tomada de decisões prejudicada e, por isso, fica vulnerável a acidentes e conflitos", diz. 

Segundo especialistas, a amnésia provocada pelo abuso do álcool é temporária. Mas se a cachaçada for constante e o blackout a acompanhar, pode acontecer a lesão de repetição dos neurônios, que causa prejuízos à memória e à capacidade de atenção. 

"Existe a amnésia como uma das doenças degenerativas causadas pelo álcool, podendo levar ao quadro de Demência Alcoólica, que se comporta semelhante à doença de Alzheimer", acrescenta Paulo Rosa. 

Segundo especialistas,  a ingestão de até 30 gramas de álcool por dia não causa amnésia

Segundo especialistas, a ingestão de até 30 gramas de álcool por dia não causa amnésia . Crédito: Shutterstock

Embora esta seja uma questão que varia de pessoa para pessoa, Paulo diz que estudos apontam que a ingestão de até 30 gramas de álcool por dia não causaria amnésia. Isso é equivalente a duas latinhas de cerveja, uma taça de vinho pequena ou duas doses pequenas de bebidas destiladas. 

Vale lembrar que o efeito entre homens e mulheres é diferente. Em entrevista ao UOL, a psiquiatra Renata Figueiredo, membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), disse que, em geral, a mulher pesa menos, tem menos quantidade de sangue, mais gordura e concentra mais o álcool no sangue. Por isso, ela é mais vulnerável a este blackout alcóolico, assim como pessoas de baixa estatura.

Alexandre Marreco faz também um alerta: "Além de evitar o excesso, deve-se ter cuidado para não beber rápido demais. Isso serve especialmente para aqueles que já tiveram episódios de amnésia alcoólica antes". Ele lembra também que se alimentar e beber água entre as doses é importante para se evitar o quadro de amnésia.

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