Anomalia anorretal: entenda condição que faz a criança nascer sem o ânus

Falha na formação do bebê necessita de tratamento cirúrgico, pois a falta de continuidade do intestino impede que o bebê defeque adequadamente, ocasionando uma obstrução intestinal

Vitória
Publicado em 12/05/2023 às 11h20
bebê sem ânus

A anomalia anorretal corre em um a cada cinco mil nascidos vivos. Crédito: Shutterstock

Recentemente, uma mãe contou o drama vivido com o nascimento da filha. Logo após o parto, a bebê foi diagnosticada com anomalia anorretal. Em depoimento ao UOL, a mulher explicou que a filha nasceu de parto normal mas, logo após um rápido contato, a equipe médica a levou para o centro cirúrgico.

“Estava exausta e em transe. Tinha ficado muito feliz pelo nascimento da minha filha e, de repente, veio uma avalanche. Eu nunca tinha escutado falar nisso, não sabia que existia. Como assim um bebê que nem veio para mim já teria que operar e ir para a UTI?”. No dia seguinte o médico explicou para Rosângela que a condição da filha não era grave, já que ela tinha o sistema digestivo funcionando normalmente, só não tinha o orifício anal.

O QUE É

A anomalia anorretal é uma falha no desenvolvimento do feto durante a gestação, sem causa específica, que corre em um a cada cinco mil nascidos vivos. Há uma curiosidade em torno do tema, porque Sasha Meneghel, filha da Xuxa, já precisou desmentir diversas vezes que nasceu com essa condição.

"É uma malformação congênita, na qual o reto e o ânus não se desenvolvem corretamente. Ela se apresenta desde o nascimento, mais comumente quando não há abertura perineal visível à inspeção para a saída de mecônio (primeiras fezes) no recém-nascido", explica o cirurgião pediátrico Jorge Abikair Filho, da Unimed Vitória.

O médico conta que a doença costuma estar associada a outros defeitos congênitos. "Está mais associada às malformações que afetam vias urinárias, vindo a seguir as alterações das extremidades e as alterações congênitas cardíacas". Após identificada a presença da anomalia anorretal, o recém-nascido precisa ser encaminhado para um setor que possua Neonatologia e especialista em cirurgia pediátrica para que receba o tratamento adequado. "Não tratar adequadamente, pode acarretar, dependendo do tipo de severidade na classificação das anomalias anorretais, em consequências desastrosas para o recém-nascido, podendo inclusive levar à morte por infecção", alerta Jorge Abikair Filho.

Bebês com anomalia anorretal não podem eliminar as fezes de forma adequada. Por isso, são várias complicações que podem ocorrer com a criança. "As mais comuns são o aumento do volume (tamanho) da barriga do bebê, vômitos, infecção de urina, não eliminação de fezes devido à inexistência da saída pelo ânus", explica  o cirurgião pediátrico. 

O médico diz que a criança nascer sem ânus é grave. "Necessita de tratamento cirúrgico, pois a falta de continuidade do intestino impede que o bebê defeque adequadamente, ocasionando uma obstrução intestinal importante, que acarreta uma série de complicações", conta Jorge Abikair Filho.

DIAGNÓSTICO

O  cirurgião pediátrico Vitor Fitaroni Neves da Cunha, da Rede Meridional, conta que quando ocorre essa má formação, dependendo do tipo da anomalia, uma pele pode recobrir a área onde o ânus deveria estar. "Existem casos em que a pele recobre a região de onde deveria estar o ânus, porém algumas vezes há um orifício mais anteriorizado, mais próximo da vagina ou da região escrotal no homem".

O médico explica que, dependendo do tipo da malformação anorretal, é necessário realizar a cirurgia imediata para criar uma passagem para as fezes e fechar a fístula. "Quando há fístula perineal (orifício onde se elimina as fezes fora do local adequado), a cirurgia pode ser postergada. Quando não há fístula, deve ser realizada cirurgia imediata. A técnica a ser utilizada varia com o tipo de malformação", diz Vitor Fitaroni Neves da Cunha. 

"O diagnóstico normalmente é realizado durante o pré-natal com a realização da ultrassonografia, que pode identificar distensão de alças intestinais e aumento do líquido amniótico (polidrâmnio). Muitas vezes também é realizado na sala de parto, após o exame físico do recém-nascido"

"O diagnóstico normalmente é realizado durante o pré-natal com a realização da ultrassonografia, que pode identificar distensão de alças intestinais e aumento do líquido amniótico (polidrâmnio). Muitas vezes também é realizado na sala de parto, após o exame físico do recém-nascido"

Vitor Fitaroni Neves da Cunha

O tratamento depende do tipo de malformação, que pode variar desde a realização de uma cirurgia perineal com a confecção do ânus dentro do complexo nervoso, até mesmo uma colostomia, que consiste na ligação do intestino grosso à parede do abdômen, permitindo a exteriorização do material fecal. "Mesmo após a cirurgia de correção, existe a possibilidade de incontinência fecal, que pode variar de acordo com o tipo. Anomalias mais altas, onde o intestino termina mais longe da região perineal, tem um pior prognóstico quanto a continência. É necessário um acompanhamento contínuo com equipe multidisciplinar na tentativa de oferecer uma melhor qualidade de vida ao paciente", ressalta Vitor Fitaroni Neves da Cunha.

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