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Cigarro eletrônico faz mal? Entenda os riscos do uso de vape

Os dispositivos funcionam a partir do aquecimento de um líquido. Entre os riscos para a saúde, no curto prazo, há danos no sistema respiratório e cardiovascular

Publicado em 11 de maio de 2022 às 12:24

Homem faz uso do cigarro eletrônico
Muitos desses cigarros liberam em seu vapor mais de 80 substâncias Crédito: pixabay

Os cigarros eletrônicos viraram moda no Brasil. E casos como o do cantor sertanejo Zé Neto, da dupla Zé Neto e Cristiano, diagnosticado com uma doença pulmonar após a Covid-19 e o uso de vape, uma espécie de cigarro eletrônico, e da cantora Solange Almeida, que contou que o o consumo excessivo da nicotina presente no dispositivo afetou as suas cordas vocais, acendem o alerta publicamente para o uso contínuo do dispositivo.

Estudos já mostram que os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vaporizadores ou vapes, possuem capacidade elevada de desenvolver dependência da nicotina ainda maior que o cigarro comum. No Brasil, a Associação Médica Brasileira (AMB) e 45 entidades médicas divulgaram esta semana um posicionamento sobre os chamados dispositivos eletrônicos para fumar. Mesmo proibidos desde 2009, os cigarros eletrônicos estão à venda em comércios. A AMB estima que 650 mil pessoas fumem com esses dispositivos, a maioria jovens.

O assunto inclusive viraliza na internet. Vídeos sobre dicas para utilização, diferenças entre os modelos e relatos de experiências de usuários ultrapassam centenas de milhares de visualizações no Youtube. Em redes como TikTok e Instagram, perfis, muitos de jovens, compartilham seus sabores preferidos, exibem os aparelhos e fazem ainda propaganda dos locais onde foram adquiridos.

O QUE É?

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), os cigarros eletrônicos são conhecidos pelo termo Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs). São chamados de ‘vapes’, e-cigarros, e-cigs, e-cigarretes ou pen drive. Eles representam uma combinação de riscos: os efeitos danosos à saúde e o aumento progressivo do seu uso no país.

"Sabemos que os cigarros eletrônicos contêm nicotina e várias dezenas de substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados para pulmão, bexiga, esôfago e estômago. Há o risco de explosões do aparelho e intoxicação", conta a pneumologista Jessica Polese.

Os cigarros eletrônicos são compostos, no geral, de uma lâmpada de LED, bateria, microprocessador, sensor, atomizador e cartucho de nicotina líquida. Os dispositivos funcionam a partir do aquecimento do líquido, produzindo um aerossol inalado pelo usuário.

Nicotina e outras substâncias psicoativas podem ser utilizadas, como o tetraidrocanabinol (THC) e o canabidiol, componentes da maconha. A composição e a concentração de nicotina nos líquidos variam de fabricante para fabricante, sendo diluída em uma substância, habitualmente o propilenoglicol, acroleína, glicerina e aromatizantes. A concentração de nicotina presente nesses reservatórios do e-cigarro costuma ser bem maior que aquela encontrada nos cigarros convencionais.

A pneumologista explica que eles têm nicotina, então a substância penetra no sistema de circulação, e é um dos causadores do aumento da pressão arterial, dos problemas metabólicos, principalmente cardiovasculares, idêntico ao cigarro. "Também tem os conteúdos oleosos. Além deste óleo, que faz mal ao pulmão como um irritante, eles têm os aromatizantes, que dão cheiro. Então, para quem é alérgico, a situação piora - tanto para o fumante quando para quem está ao redor".

"A principal substância da dependência química é a nicotina, por isso que é tão perigoso, e a gente fala muito do cigarro eletrônico, porque ele continua tendo a nicotina"

CÂNCER E OUTROS RISCOS

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), muitos desses cigarros liberam em seu vapor mais de 80 substâncias. Entre elas estão a nicotina, substâncias cancerígenas e com potencial explosivo, metais pesados, além de produtos utilizados na indústria alimentícia.

"Um exemplo, é o propilenoglicol. Embora seja uma substância segura para a saúde humana, quando serve de diluente para a nicotina e é vaporizada e inalada, ela libera uma substância chamada formaldeído, em concentrações de 5 a 15 vezes maiores do que encontradas nos cigarros tradicionais. Essa substância é, reconhecidamente, um agente capaz de provocar o câncer", conta a oncologista Juliana Alvarenga Rocha, da Oncoclínicas. 

Entre os riscos para a saúde, no curto prazo, o cigarro eletrônico pode levar a danos no sistema respiratório e cardiovascular. Por ser um produto relativamente novo da indústria do tabagismo, desconhece-se ainda todos os danos que o cigarro eletrônico pode causar a longo prazo.

"Sabe-se que a composição do vapor do cigarro eletrônico contém substâncias derivadas de metais pesados, que podem levar não só o câncer de pulmão, mas também o câncer dos seios da face, ao enfisema pulmonar e também à fibrose pulmonar. O equipamento gera partículas ultrafinas que conseguem ultrapassar a barreira dos alvéolos pulmonares e ganhar a corrente sanguínea, fazendo o corpo reagir com uma inflamação sistêmica", explica a oncologista. 

Muitas vezes, quando a inflamação acontece na parede do endotélio, que recobre as artérias, ele pode ser lesionado e deflagrar eventos cardiovasculares agudos, como infarto e síndrome coronariana aguda. A nicotina também tem influência no coração, porque aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial.

Os médicos ressaltam que o cigarro eletrônico não ajuda a parar de fumar. Aquelas pessoas que passaram a usar o cigarro eletrônico continuaram dependentes da nicotina. O percentual de indivíduos que utilizam o produto e conseguem largá-lo definitivamente é igual ao daqueles que tentam parar de fumar sem usar outro método: de 3% a 5%. 

"Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o uso de cigarro eletrônico aumenta em três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e em mais de quatro vezes o risco de se tornar um tabagista. Um dos possíveis motivos é, além do vício em nicotina, o fato do cigarro eletrônico não possuir fatores inibidores como o cheiro"

Os médicos alertam que o tabagismo é uma dependência química. É preciso uma conscientização de que, para parar, é necessário um tratamento multidisciplinar. "O tratamento da dependência do tabagismo deve ser feito por uma equipe multiprofissional, composta por médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos e assistentes sociais", diz Juliana Alvarenga Rocha. 

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito para quem quer deixar o tabagismo. Com o Programa Municipal de Combate ao Tabagismo, feito regularmente via Atenção Básica, é possível fazer o acolhimento e o acompanhamento da cessação do consumo do tabaco. O tratamento oferecido segue as diretrizes do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) e inclui desde a avaliação clínica até terapia medicamentosa, se houver necessidade.

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