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Como é feito um transplante de coração? Entenda os riscos da cirurgia

Faustão, que está internado, terá que ser submetido ao procedimento cirúrgico. Apresentador espera na fila do SUS por um doador. Entenda como é a cirurgia

Publicado em 21 de agosto de 2023 às 15:47

O apresentador Fausto Silva, o Faustão
O apresentador Fausto Silva precisa de um transplante de coração Crédito: Renato Pizzutto/Band

Faustão, de 73 anos, precisa de um transplante de coração, informou boletim médico do hospital Albert Einstein, onde ele está internado desde o dia 5 de agosto. 

O apresentador trata de uma insuficiência cardíacadoença que se caracteriza por deficiência do coração em enviar fluxo de sangue suficiente para oferecer nutrientes e oxigênio para os órgãos e tecidos (coração mais fraco), ou seu enchimento é feito à custa de pressões mais elevadas com aumento da pressão do sangue na circulação pulmonar ou veias sistêmicas (coração mais rígido). 

Segundo o boletim médico, o quadro de insuficiência de cardíaca de Faustão se agravou. O apresentador está realizando diálise e necessita de medicamentos para ajudar no bombeamento do coração. Ele pode ter de esperar até 18 meses por um coração.

"Em 5 de agosto, Fausto Silva deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein para tratamento de insuficiência cardíaca, condição que vem sendo acompanhada desde 2020. Ele encontra-se sob cuidados intensivos e, em virtude do agravamento do quadro, há indicação para transplante cardíaco. O paciente está em diálise e necessitando de medicamentos para ajudar na força de bombeamento do coração. Fausto Silva já foi incluído na fila única de transplantes, regida pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que leva em consideração, para definição da priorização, o tempo de espera, a tipagem sanguínea e a gravidade do caso", diz a nota. 

Na sexta (18), o apresentador divulgou um vídeo gravado no hospital em que contava estar em tratamento. O vídeo foi compartilhado por João Guilherme, seu filho, em uma rede social.

COMO O TRANSPLANTE É REALIZADO

O transplante de coração é um procedimento cirúrgico complexo no qual um coração doado saudável é substituído pelo coração do paciente, que está em falência cardíaca avançada. "Geralmente, é a última opção para pacientes que não responderam a outras formas de tratamento, como medicamentos, implante de dispositivos eletrônicos para sincronização cardíaca, correção cirúrgica das valvas cardíacas com defeito, implantes de dispositivos de assistência circulatória mecânica como ventrículo e coração artificial. O transplante cardíaco entre humanos ainda permanece com padrão ouro de tratamento da insuficiência cardíaca terminal, por isso o processo de doação é fundamental", explica Melchior Luiz Lima, cirurgião cardiovascular da Unimed Vitória.

O médico conta que, inicialmente, o paciente com falência cardíaca grave é submetido à avaliação detalhada para determinar a viabilidade do transplante. Uma vez considerado elegível, o paciente entra em uma lista de espera para receber um coração doado compatível. "Quando um doador adequado é encontrado, inicia-se todo o processo de captação do órgão doado, seja localmente ou em outra cidade ou Estado. Enquanto isto, o paciente a receber o órgão doado (receptor) é preparado pela equipe transplantadora no hospital credenciado pelo Ministério da Saúde para realizar transplantes", conta Melchior Luiz Lima.

"Após a anestesia, o cirurgião cardiovascular faz a incisão no peito para acessar o coração doente e instalar o sistema de circulação extracorpórea, conhecido como "bomba coração-pulmão", que mantém o fluxo sanguíneo para todo o corpo durante o transporte. O passo seguinte é remover o coração doente com cuidado, preservando as estruturas circundantes"

O novo coração é então conectado por meio de suturas nos vasos correspondentes. Uma vez que o novo coração está no lugar, os vasos sanguíneos são reativados e o fluxo sanguíneo é restaurado. "Após a cirurgia, o paciente é monitorado de perto na unidade de terapia intensiva para detectar qualquer sinal de rejeição ou complicações. Terapia imunossupressora é iniciada para evitar a rejeição do órgão. O processo de recuperação é gradual e pode levar semanas ou meses, dependendo da resposta individual do paciente", diz Melchior Luiz Lima. 

QUANDO O TRANSPLANTE É INDICADO?

O cardiologista Bruno Barros, da MedSênior, conta que o transplante é indicado quando o paciente apresenta insuficiência cardíaca avançada, é dependente de medicação venosa ou suporte circulatório mecânico. "Em casos de arritmias ventriculares que não respondem às medicações, dispositivos elétricos ou procedimentos de ablação e doença isquêmica do coração, com presença de angina, sem possibilidade de cirurgia de revascularização".

O transplante é considerado quando a função do coração está tão comprometida que afeta significativamente a qualidade de vida e a expectativa de sobrevida do paciente. Alguns critérios que podem levar à indicação de um transplante cardíaco incluem:

  • Insuficiência cardíaca severa: quando o coração não é mais capaz de bombear sangue suficiente para atender às necessidades do corpo.

  • Esvaziamento de tratamentos alternativos: se outras intervenções médicas, como medicamentos, terapia de ressincronização cardíaca ou dispositivos de assistência ventricular, não estão mais sendo eficazes.

  • Risco de vida iminente: quando a condição do paciente é tão crítica que a expectativa de vida é consideravelmente reduzida sem um transplante.

  • Qualidade de vida deteriorada: quando a falência cardíaca afeta gravemente as atividades diárias e a qualidade de vida do paciente.

  • Idade e estado de saúde geral: a idade e a saúde geral do paciente são levadas em consideração para determinar se ele é um candidato adequado para a cirurgia e para enfrentar o processo de recuperação pós-transplante.

Bruno Barros diz  que o pós-operatório é complexo. "É uma cirurgia de grande porte. Necessitando de um empenho e preparo de toda equipe hospitalar. Porém, após o sucesso e a alta hospitalar, com acompanhamento médico, o paciente consegue ter uma vida normal". 

OS RISCOS

Melchior Luiz Lima ressalta que o transplante cardíaco é um procedimento complexo e, como qualquer cirurgia importante, apresenta riscos significativos. Alguns dos riscos associados ao transplante cardíaco incluem: 

  • Rejeição do órgão: o sistema imunológico do receptor pode reconhecer o coração do doador como estranho e tentar atacá-lo. Para prevenir isso, os pacientes precisam tomar medicamentos imunossupressores por toda a vida, o que pode enfraquecer o sistema imunológico e aumentar o risco de infecções.

  • Infecções: devido à supressão do sistema imunológico, os pacientes transplantados estão mais suscetíveis a infecções graves e oportunistas.

  • Efeitos colaterais dos medicamentos: os medicamentos imunossupressores podem causar uma série de efeitos colaterais, como pressão alta, diabetes, osteoporose e problemas renais.

  • Complicações cirúrgicas: como em qualquer cirurgia, há riscos de complicações durante o procedimento, como sangramento excessivo, coágulos sanguíneos e infecções da ferida cirúrgica.

  • Complicações cardiovasculares: além do risco de rejeição, o paciente pode enfrentar complicações relacionadas à circulação sanguínea e ao sistema cardiovascular.

  • Doença arterial coronariana pós-transplante: as artérias do novo coração podem desenvolver doença arterial coronariana, semelhante à aterosclerose, que pode afetar a função do órgão transplantado.

  • Falência do órgão transplantado: mesmo com todos os cuidados, o novo coração pode eventualmente falhar, exigindo tratamentos adicionais ou até mesmo um segundo transplante.

  • Morte: infelizmente, em alguns casos, complicações graves podem levar à morte do paciente durante ou após o procedimento.

FILA DO SUS

Já incluído na fila de transplante cardíaco do Sistema Único de Saúde (SUS), Faustão pode ter de esperar de 12 a 18 meses por um coração. As informações são do Hospital do Coração (HCor). Segundo o hospital, atualmente cerca de 40 mil pessoas aguardam pelo órgão no Brasil. A fila é gerenciada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Após a inclusão do paciente, são informados detalhes como gravidade do quadro, tipo sanguíneo e a data da inclusão. Os dados são cruzados em um sistema que indica qual paciente deve receber o órgão. A fila é atualizada de acordo com a evolução do quadro clínico. No caso do coração, a preferência é sempre para pacientes em estado grave.

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