• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica:  Encanto mesmo

Publicado em 21/05/2023 às 07h00
casal

É aquilo mesmo, encantar é se deixar levar pela magia que haja. De modo que, a felicidade significa perceber estas possibilidades... . Crédito: Shutterstock

Antes mesmo de nascer o menino foi encantado. Deram a ele o nome do avô materno – que fora um guerreiro, homem amoroso e, para muitos, um sábio. Álvaro era ao mesmo tempo, um nome e um presságio. Uma convocação simbólica, um feitiço discreto, um encantamento.

Nota: encantar é dar sentido. Dar o olhar, a atenção, considerar. Encantado é um estado tal qual o apaixonado... Estado daquele que acredita e sente na pele os significados que a vida pode adquirir (ainda que subitamente).

Encantar é co-criar. É dar à vida.

Encantamos quando banhamos de sentido – e tanto faz que seja uma pessoa, um amuleto, uma história ou uma melodia.

Seguindo, o menino nasceu e cresceu carregando este chamado à honra. Deu certo. Coincidência ou não, orgulhoso das histórias contadas sobre seu avô, Álvaro andava de peito estufado e mirava um futuro grandioso. Melhor da turma em ciências e matemática; artilheiro do time futebol da escola; carinhoso; boa pinta; bom garoto.

Lá pelas tantas, talvez por volta do capítulo 17, Álvaro conheceu Gabriela. Foi numa festa à toa que ele viu a garota que usava o cabelo cor de rosa e 'AllStar' lilás, dançava na pista de olhos fechados e cantava alto "Come as you are", do Nirvana. Bastou. Quando a música acabou ele a ofereceu uma cerveja dizendo a verdade mais pura "você tá brilhando, sabia?"

Gabi riu tímida, mas não escondeu gostar do modo com que os olhos dele a refletiam.

Conversaram a noite inteira e dividiram um Uber pra casa. Depois de boas risadas e de ouvir as histórias de Álvaro, a menina se encantou de volta. Se apaixonaram. E esse foi só o começo da história. Anos depois, ele encantou um anel com palavras e deu a ela como símbolo do próximo passo.

É aquilo mesmo, encantar é se deixar levar pela magia que haja. De modo que, a felicidade significa perceber estas possibilidades... E agir! Seja“se deixando”deslumbrar, seja "oferecendo" encantamento; seja para o nome dos filhos, passando pelos amores, rezos, bolos e penteados.

Mas atenção, qualquer "esforço para encantar" envenena a chance-de-magia, porque quer queira quer não, ela depende da 'pura verdade', lembra? Verdade essa que não a simples interpretação que prevaleceu às outras. Mas aquela enquanto força magnética. Poder, direção, destino, seta.

Finalmente, deslumbrar-se com a vida é um exercício. Treino do poder mágico (que nos cabe).

Eu, sempre que posso, enfeitiço mesmo. Tento – sobretudo, com palavras.

– Valei-me!

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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