Voltar de um festival transformativo é como operar uma aterrissagem de paraquedas. A transição dos “pés nas nuvens” para “pés no chão” precisa ser suave… Do contrário, machuca. Do mesmo modo, sair do “tempo fora do tempo” e voltar ao tempo linear, ou da utopia para a realidade cotidiana, pode ser uma operação delicada.
Me arrisco até a dizer que essa talvez seja a parte mais desafiadora da experiência.
Dessa vez, contudo, me sinto mais sabida e escrevo essa crônica confiando que essa aterrissagem, digo, a transição não precisa ser assim tão complicada.
Vejamos.
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Durante os festivais transformativos, abandonamos a percepção daquilo que conhecemos como tempo linear, ou aquele determinado pela mente analítica, e entramos em outro reino que oferece profundas oportunidades de aprendizado, cura e selvageria: o tempo fora do tempo. Há quem o chame de tempo eterno.
Este é o reino temporal da espiritualidade e de toda a criação.
Nesse espaço, você está conectado ao seu eu maior, esse que não precisa ser um conceito distante, etéreo ou vago, mas íntimo. Se você o experimenta vezes o suficiente, durante momentos de alegria, encantamento e êxtase, você se familiariza com ele. Nota: êxtase é um termo derivado do grego “ex stasis”, que significa literalmente estar fora de si mesmo, além dos limites habituais da mente.
Isso acontece quando a mente analítica e os limites habituais do nosso ego se dissolvem e novas conexões são formadas no cérebro, novos caminhos neurais surgem, e uma nova versão de si mesmo é criada.
E quando isso acontece, o tempo também se torna fluido: pode passar mais rápido ou mais devagar do que o habitual.
Em festivais transformativos você está conectado ao seu eu maior. Crédito: Shutterstock
Nesse estado de presença experimentamos o fluxo, a sincronicidade, a telepatia… Magia mesmo. E isso é justo o potencial desse tempo fora do tempo: nossos limites se dissolvem e a gente se conecta com o agora, com a presença, com a nossa intuição, com os outros e com a sabedoria atemporal!
Perceba, no esquema da sociedade em que vivemos, cada um de nós tem uma narrativa dominante, além de inúmeras histórias que contamos sobre nós mesmos. E nesse tempo fora do tempo são justo essas crenças que vão se desintegrando lentamente, na medida em que o pensamento se flexibiliza e novas pontes neurais são construídas.
Detalhe, tudo isso acontecendo 2024, enquanto nossa visão de mundo passa pelo que talvez seja a mudança mais fundamental da história humana: a pesquisa quântica e a ciência começaram a validando muitos princípios espirituais.
Narrativas alternativas estão surgindo de todas as direções. E isso é maravilhoso.
Pessoalmente, sinto que é hora de trazer as vivências do festival utópico para o mundo real, e poder enfim contribuir para ampliação da nossa consciência transformadora. Esse é meu desejo.
Sem dúvida, na volta a vida acelera com a quantidade de tarefas que ficaram suspensas durante a viagem de imersão, mas mesmo assim, ainda consigo parar e respirar profundo, ligar o som e dançar sozinha no banheiro, me envolver num estado de criação em absoluta presença… Admirar a beleza descomunal da lua cheia. É assim voltar para meu estado maior.
É possível acolher esse estado diariamente, mesmo quando ele se sente tímido imerso na vida cotidiana.
Novamente, há anos a neurociência e a física quântica confirmam: aonde a atenção vai, a energia flui.
Por isso colocar em prática ao menos duas vezes por dia esse estado de êxtase, ou de presença plena, praticado no tempo dilatado, me faz construir a cada dia a certeza de que o meu ser selvagem (e magnífico), que dança com total entrega não é apenas uma experiência passada, utópica… Ela é real e se manifesta através da minha simples presença.
Maria Sanz Martins
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