• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: Do tempo que é quando

Publicado em 01/01/2023 às 09h00
Atarefado, atrasado, trabalho, compromisso, atraso

Crédito: Shutterstock

Terça-feira, cheguei em casa morta do trabalho, tomei coragem e um banho, me arrumei e fui me arrastando para uma festa de aniversário. Como era de uma colega querida, apesar do cansaço, já na metade do caminho, depois de aumentar o volume do rádio, comecei a ficar animada.

Chegando na rua onde ela mora, achei tudo muito calmo... Quase não havia carros estacionados e o portão de madeira da garagem estava fechado... Que dúvida resta? É claro que eu compareci à véspera da festa. O que fazer? Como já estava pronta, emendei um drink, num restaurante bacana.

Também domingo passado, eu saí atrasada de casa para um espetáculo de dança que aconteceria à tardinha no parque. Cheguei esbaforida, carregando meu neném de um lado, e do outro, uma bolsa e uma bola. Fui entrando apressada e dei de cara com um cenário pra lá de calmo... Até os patos passeavam despreocupados.

Como o parque da Pedra da Cebola é cheio de rampas e tem um tamanho respeitável, fui logo perguntado às pessoas que passavam aonde estava acontecendo o espetáculo? Ninguém sabia dizer. Corri de um lado para o outro, subi e desci algumas rampas, sempre perguntando, e nada.

Quando eu já estava suada e cansada de tentar convencer meu filho a vir comigo, ao invés de correr atrás dos patos, eu desisti. Entre inconformada e frustrada, despenquei no gramado, deixei a bolsa e a bola de lado. Não era possível... Estava marcado!

Apanhei o celular para reler o convite que me havia sido enviado e, mais uma vez, desacreditei! De novo, eu estava comparecendo, só que com uma semana de antecedência. Jeito foi ficar brincando entre os patos, com meu menino até o dia escurecer...

Quando chega o fim do ano, a lista de afazeres aumenta tanto, que a cabeça (numa tentativa surtada de demonstrar eficiência) passa a executar automaticamente os prazos... É, ela começa a achar que é agenda, coitada. E a minha, no caso, inclusive, reedita as datas.

Ansiedade? Primeiros sinais da idade? Princípio de loucura? Consequências do cansaço? Ou tudo, somado à famigerada iminência do fim do mundo? (Ai, e eu ainda quero da vida quase tudo...).

Não, não é que eu esteja preocupada. Mas, dizem, e eu ouço desde menina, que esta hora chegaria. Me lembro como se fosse hoje do dia em que uma senhora que passava roupa lá de casa, contou num tom sombrio, sobre uma espécie de profecia... Quer saber?

Ela perguntou meio maligna, e então deixou o ferro quente apoiado sobre a tábua, se abaixou para ficar na minha altura e disse olhando nos meus olhos (arregalados): o mundo terá a mesma quantidade de anos quanto havia de grãos num punhado de areia que o Senhor apanhou do chão...

Que maldade... Na praia, na infância, enquanto as outras crianças brincavam de fazer castelinho, eu tentava contar grãos.

Já mais velha, não fiquei menos impressionada no dia em que me falaram sobre um certo documentário que teoricamente prova por A mais B que é fato o fim previsto…Vai entender!

Dizer a verdade? Quero nem saber! Como disse, minha cabeça metida a sabida, continua fazendo planos e os executando à revelia do mundo, seus prazos, datas, verdades e mentiras.

Sei não, acho que sinto uma espécie de pressa de viver... Tenho urgência de alegrias. De novidades, sou faminta! Deve ser por isso que quando minha seta encontra o alvo, eu aproveito; quando erra, eu aproveito do mesmo jeito. Às vezes, até mais ainda.

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Porque, fique sabendo, comigo é aquilo mesmo: festa, parque, réveillon todos os dias, o ano inteiro, na vida... Antes, durante ou depois, eu compareço! Vem ano novo, to te esperando há dias!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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