• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: Espada própria

Publicado em 21/08/2022 às 02h00
Espada

É velha aquela do príncipe que virou sapo e vive versa; velha aquela do cavaleiro salvando da torre a princesa. Crédito: Shutterstock

Quantas de nós desejavam a espada e não o príncipe encantado?

Espada enquanto material de criação, ferramenta de proteção, enfeite de cinturão. Espada como força, como espelho, como faca! Espada para demarcar, para guerrear, ou só para ter em casa. Espada como um troféu, ou uma arma.

O uso talvez não importe, mesmo porque toda mulher tende a ser super-talentosa no quesito “multiuso” de coisas apresentadas.

Fato é que essa escolha tanto poder ser feita com o metro da razão, quanto com o coração... Esse que se tornar míope na hora que tudo brilha e embaça. É, você sabe, quando a noite do amor anuncia sua chegada, o príncipe que vem de lá, galopando, refletindo raios horizontais, trazendo na cintura a espada, tudo fica confundido...

Claro, certo é que ele tem o que falta! (Assim pensa quem conhece a ausência). Talvez seja grande, talvez seja leve, talvez seja afiada. Esse é um segredo revelado apenhas a quem se atreva conhece-lo desmontado.

Arrisca-se aquela que busca, aquela que sabe, aquela que não aguenta a vontade de matar a curiosidade, matar o desejo, a pressa ou a inveja (!).

Mas espada é sempre uma promessa (de saciedade, proteção, plenitude, etc.). Veja bem, promessa! Pode ser que se suceda ou pode ser que não... Fazer o que? Se o desejo mastiga o juízo, atropela a dúvida, e engole com papel e tudo o coração?

Ora, é velha aquela do príncipe que virou sapo e vive versa; velha aquela do cavaleiro salvando da torre a princesa; também a metade da laranja já é quase antiga... Enfim, saber ser feliz sozinho é a conversa moderna – dizem.

Mas e sem o outro, como obtê-la? Se não um presente, se não uma parceria, se não um assalto, ou mesmo uma vitória sobre aquele que chegou armado, como deter uma espada própria?

Ainda que psicológica – ou dourada, ou prateada, ou cravejada com iniciais cuidadosamente gravadas.

Os oráculos garantem: há caminhos que cruzam rios, outros que atravessam os vales, mas todos passam pelo desfiladeiro do coração – que obviamente demanda sensibilidade e destreza. Posto que a construção da própria espada, digo estrada, é cheia de surpresas e não tem mapa.

Enfim, nós mulheres, que não somos bobas nem nada, como via de regra preferimos o combo clássico número um: cavaleiro encantado com espada, por favor.

Mas, como não é sempre que a realidade atende a expectativa, e como raramente a fêmea desarmada fica esperando na janela – a busca segue!

Mas atente, quando a gente faz conta de si, percebe que fazer sentido é menos importante que o sentir... E assim seguimos, entre a espada e o coração.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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