Arte: estética-capa, receptáculo para conteúdos inefáveis, abissais, perturbadoramente singulares. Crédito: Freepik
“Eu realmente acredito que existem coisas que ninguém veria a não ser que eu fotografasse”. Diane Arbus
É essencialmente isso: o preenchimento de uma falta – que ninguém mais veria a não ser que a arte a apontasse.
Materialização de singularidades (e sua beleza sempre latente). Um ponto de visão específico a ser notado – tanto pela beleza, força, curiosidade, quanto pela absoluta necessidade.
Ontem ouvi de um jovem, porém contemporaneamente consagrado, artista que: “arte é a realização da energia”.
“Isso é arte” – Antônio Bokel
Na mosca, entre as asinhas.
Realizar de fazer, realizar de executar, de reverberar, de ter lugar, de se dar. Do dar-se ao fazer. Do respirar o fazer; transpirar o fazer; fazer o fazer. Pôr em marcha o exercício constante de focar no sentido daquilo que se vê. Demandas da vista. Engenharia do olhar. Ofício: manusear, repetir, sobrepor, desfazer, refazer, recomeçar, burilar e materializar a energia que emana do sertão, litoral, centro e fronteiras do coração. Ou ainda, habilidade de dar contorno aos próprios círculos (vazios) – estética em forma de bordas (palavras, imagens, gestos, tecidos, cores, texturas).
Arte: estética-capa, receptáculo para conteúdos inefáveis, abissais, perturbadoramente singulares. Irrefutáveis. Sutilmente absolutos. Vorazes na captura de almas que vagam por vernissages (ou pelas ruas). Troca de fluídos invisíveis, ora imundos, noutras, puros.
Seguindo este princípio é possível dizer que não existe arte boa ou ruim. O que existe é arte ou não. (Básico: qualquer coisa que careça de alma jamais será extraordinária). De modo que limpo, sujo, simples, exuberante, feio ou bonito – apenas um radical importa: espírito.
Sem isso de arte melhor ou pior – porque ela sempre polariza. Aliás, ela só será unânime em as ocasiões raríssimas. Sem nunca falhar, contudo, a presença daquela peça avulsa do reino indizível.
Um peteleco, um soco ou um belisco. Uma verdade, uma energia, um chamado – não interessa o nome que um artista possa dar aquilo que o impele, incita ou o obriga a realizar. Fazer, fazer, fazer até arder, até sangrar; fazer, matar ou morrer; fazer, libertar. Experimentar, quantas vezes seja possível, o breve gozo de existir.
Gênios, livres, atormentados, intensos, inquietos, profundos o artista responde – constante é o chamado. Faz o que for preciso para sobrevir e atrair e exibir. Pois não se engane, expor a própria singularidade é também uma necessidade – uma maneira de ser reconhecido (ainda que por si mesmo).
É isso, enfim. Como o amor, que só existe quando existe pra valer, o fazer só se eleva à arte quando ele é a aorta. A única escapatória.
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