• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: Nunca é o outro

Publicado em 24/09/2023 às 10h00
Nos últimos dias o assunto nas mídias sociais foi traição

Nos últimos dias o assunto nas mídias sociais foi traição. Crédito: Shutterstock

Por acaso, nos últimos dias o assunto nas mídias sociais foi traição. Como se sabe, não é raro entre nós ouvir e dividir histórias de corações partidos.

Sem importar idade, classe e região; sem importar o enredo, o alcance, nem a proporção, a sensação é sempre a mesma: dor de amor lateja.

Arde ser ignorada, traída, mal tratada. E beira o insuportável seguir sem poder dizer a última palavra, àquele que nos fez sofrer – beira! Sei bem como é. Mas não escrevo para me juntar ao lamento, ao contrário, venho dizer do aprendizado de uns bons km de joelho ralado e da percepção que se reforça cada dia mais um pouco: nunca é o outro.

Somos nós, os envolvidos, ou envolvidas, no caso, que precisamos dar conta daquilo que escolhemos sentir mediante outra pessoa. Porque apontar aquele que mentiu, enganou, ignorou, sumiu, por mais dolorido que seja, ainda é mais fácil do que olhar pra gente mesmo.

Engraçado, o desamor quando vem do outro parece fazer mais sentido do que quando vem do espelho...

Mas, a verdade é que dá no mesmo. Apenas com uma sutil diferença: criticar e apontar o dedo para aquele que nos faz sofrer não resolve – ao contrário, gera discórdia, ressentimento e multiplica a dor. Já encarar o espelho e escolher abraçar a si mesma, com todas as sombras e feridas abertas, aí, sim, é o começo de uma trilha que pode dar na melhor saída.

Ninguém muda o outro porque quer... simplesmente não é possível. Uma porque só podemos ser responsáveis por nós mesmas, depois porque a essência alheia simplesmente não obedece ao nosso (nobre ou vão, generoso ou egóico, genial ou insensato) desejo.

Aliás, qualquer desejo de transformar o outro aponta uma fuga. Parece mais fácil consertar o outro do que a gente mesmo, não é verdade? Via de regra (inconsciente), quando existe um outro "problemático", fica ainda mais fácil despistar nossos próprios problemas. Claro, quando o foco é dar jeito no defeito alheio, estamos assumindo que está tudo bem com a gente mesmo.

De modo que olhar para si é uma escolha a ser feita.

Repare, quando estamos em paz parece que o mundo inteiro sorri... Isso não é mera coincidência. É que na medida em que nos aceitamos e nos curamos de nossos próprios medos, ou no mínimo, na medida em que vamos nos conhecemos por dentro, deixamos de procurar culpados para os nossos dilemas. Nos tornando menos combativos e, consequentemente, mais leves.

Seguindo o pensamento, uma vez mais leve, sem querer, condenamos o outro ao próprio enfrentamento... e aí, ele também desperta!

Percebe? Quando um cresce, cresce o mundo ao seu redor.

Ou seja, na medida em que fazemos paz com nós mesmos, afetamos também o outro (em alguma medida). Concluindo que não é a vontade de transformar o outro que o faz mudar... é mudança em nós mesmos.

Sejamos inteiras! Eu sei, dá um trabalho danado – mas é a única maneira de encontrar ou construir uma relação verdadeira com quem quer que seja.

Sabe aquela história de duas metades? Incompletos brincando de "mostra o seu que eu mostro meu"? Pois então, esta é uma boa receita para se transformar em "gerente da melhoria dos defeitos alheios".

Já "inteiros", integrados à própria verdade ou responsáveis pelo próprio crescimento, quando atraem outro inteiro, vira dupla, vira força, foguete – gosto disso.

Finalmente, acredito no amor sobretudo. Que fique dito.

Mas o amor, por si, tem que vir primeiro.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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