• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: Ong Namo (seja gentil)

Publicado em 15/01/2023 às 02h00
Mulher com a mão no coração

Como bem se sabe, dia após dia, cada um de nós vive uma peleja própria. Crédito: Shutterstock

Existe um velho dito que sugere: “Seja gentil. Todo mundo que cruza seu caminho está lutando uma batalha”.

Procede, com certeza. E eu reforço: no mundo, nada mais forte que um ato de gentileza.

Como bem se sabe, dia após dia, cada um de nós vive uma peleja própria – seja por opção, ou não. Importante é que, dada a oportunidade, saibamos escolher bem essas nossas batalhas – já que muitas delas são absolutamente desnecessárias.

De um modo estranho, não raro nos deixamos levar por sentimentos de vibração barata, como o drama, a autopiedade, o apego, a ganância, a raiva, e tantos outros bestas vilões da emoção.

E por que? Por que nos entregamos, passamos o recibo, devolvemos a bola?

– Por que não simplesmente abrir mão?

Deixar a emoção passar, como quem observa um cavalo bravo, que resmunga, provoca, desafia, dá voltas e implora para ser montado, mas sabe: se ninguém der bola, vai ter que seguir viagem, vai embora.

(E como é bom assistir o rastro da poeira quando ele se vai. Mansa vitória.)

Tsc, ser melhor nem sempre significa ser o campeão. Não quando a disputa é para decidir quem pode mais, quem fica com mais, quem machuca mais, quem aguenta mais. Nas guerras mesquinhas o vencedor carrega pra casa um troféu enlameado, sujo pela porca ambição de vencer por vencer. E veja se concordamos: ter na estante da sala uma insígnia emporcalhada, pingando restos de discórdia no chão, vale a pena não... (não para a saúde, para o espírito e, por que não dizer, para o bolso).

Por isso o reforço: por que não abrir mão?

Sabe que eu conheço um rapaz que lutou anos a fio para conquistar uma porção (que ele considerava) razoável das ações na empresa da família, e para isso, se desentendeu com o irmão, brigou feio com o pai, parou de falar com o tio, perdeu a esposa e agora partilha a guarda dos filhos.

Aquela velha história: tudo o que ele queria era mais, mas advinha?

Precisou perder o que mais amava para descobrir o verdadeiro valor do dinheiro em sua vida. E só sentindo o cheiro do ralo do fundo do poço, ele teve força para procurar ajuda. E com muito esforço (ou quase três anos de terapias, caminhadas e meditação) o sujeito, enfim, aprendeu a abrir mão.

Entregou a presidência da firma para o irmão, pediu perdão ao pai, ao tio, reconquistou a confiança e o amor da esposa, voltou a ter uma família, parou de fumar e de brigar com a vida. E acredite ou não, desde então, tudo passou a fluir de forma absurdamente parecida com os planos que ele tinha – só que não sabia, até então...

Enfim, perder tempo se preocupando com aquilo que não temos só faz reforçar a presença dessa falta – é como ampliar sua manifestação.

De modo que, se formos capazes de compreender que não precisamos guerrear para provar que somos mais que apenas uma gota no oceano, então o Universo gentilmente nos fará entender que cada um de nós é um oceano inteiro, dentro de uma gota.

E somos muitas!

Sejamos gentis umas com as outras.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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