• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: Pequenas grandes escolhas

Publicado em 30/10/2022 às 02h00
Mulher tomando café

Café com leite ou café puro? Escolhas... Parecem simples, mas encobrem um poder que detemos, sobre o qual pouco sabemos. Crédito: Shutterstock

Ar condicionado ou ventilador? Lençol ou edredom? Camisolinha ou camisão? Pijama ou samba-canção? Série ou novela? Banho frio ou quente? Sabonete líquido ou sabão?

Café com leite ou café puro? Pão de sal ou de fôrma? Manteiga ou margarina? Queijo branco ou mussarela? Catupiry ou requeijão? Carro ou condução? Escada ou elevador? Terno e gravata ou tênis e bermudão? Risoto ou macarrão? Filé ou peixe? Sorvete ou picolé? Uva ou limão? Praia ou piscina? Whisky ou caipirinha? Paletó ou moletom?

Jornal ou iPad? Ouro ou prata? Estados Unidos ou Europa? China ou Japão? Pimenta do reino ou malagueta? Short ou saia? Teatro ou cinema? Fernando Pessoa ou Manoel de Barros? Fernando de Noronha ou Bahamas? Fernanda Lima ou Gisele Bündchen? Marilyn ou Audrey? Beatles ou Rolling Stones? Silvio Santos ou Faustão?

Floresta ou Savana? Guarapari ou Maguinhos? Moqueca ou bobó? Tigre ou leão? Chapolin ou Chaves? Santa Tereza ou Pedra Azul? Tênis ou futebol? Academia ou calçadão? Salto alto ou rasteirinha? Estampa de zebra ou de oncinha? Salvador ou Floripa? Skate ou patins? Moto ou bike? Esmalte vermelho ou francesinha?

Isto É ou Veja? Natal ou Réveillon? Quibe ou coxinha? (Se quibe, de carne ou de coalhada? E coxinha, de camarão ou de galinha?) Brigadeiro ou cajuzinho? Bolo de fubá ou de chocolate? Aventura ou romance? Suspense ou drama? Kevin Costner ou Robert De Niro? Zico ou Pelé? Surfe ou pelada? Janela ou corredor? Gol ou Tam?

Vinho branco ou tinto? Andar a cavalo ou passear de lancha? Feira de rua ou supermercado? Casaco de couro ou jaqueta jeans? Barba ou bigode? Biquíni ou maiô? Casa ou apartamento? Sakerinha de lima ou de lichia? Cerveja ou chopp? Gato ou cachorro? DJ ou banda? iPhone ou Androide? Domingo na cama ou domingo no parque? Farofa de cebola ou farofa de ovo? X-burguer ou X-Tudo? Beyoncé ou Madonna?

Rock ou balada? Pipoca doce ou salgada? Opereta ou Serenata? Nova York ou Paris? Praia do Canto ou Jardim Camburi? Cinemark ou Jardins? Açaí puro ou com banana? Caetano ou Gil? Rosas vermelhas ou brancas? Casa na praia ou na montanha? Neosaldina ou Rivotril? Sítio próprio ou dos amigos? Juntar ou casar? Filho único ou “dois, no mínimo”?

Escolhas... Parecem simples, mas encobrem um poder que detemos, sobre o qual pouco sabemos...

– Ou você tem a consciência de que somos seres normativos? Absolutamente aparelhados para criar (nossas próprias) leis?

Claro, sem nos darmos conta, fazemos isso todos os dias. Especialmente com escolhas fáceis, como as colocadas acima, quando não sentimos nenhum medo de errar – não há como! Não há certo ou errado, e uma não é melhor que a outra. De modo que nos sentimos livres para escolher, determinar e se preciso for, até justificar. “Ah, só tenho gato! Cachorro é carente, muito chato” – assim uma vizinha emendou a própria Constituição outro dia.

O problema está nas decisões difíceis... – como escolher a profissão, ou com quem se casar – quando, aí sim, sentimos o tenebroso medo de errar, pensamos mais, falamos menos e, muitas vezes, acabamos ficando com a opção que parecer menos arriscada. – O que, diga-se de passagem, costuma ser uma furada.

Ora, o terreno das escolhas difíceis é o cenário ideal para o exercício normativo!

Até tentamos racionalizar (avaliamos prós e contras, consultamos opiniões de sábios, uns consultam o tarô, outros até fazem cálculos), mas a verdade é que diante de uma bifurcação entre, digamos, direito e medicina, Pedro e Gustavo, ou Vitória e São Paulo, a razão, a ciência e os livros não nos dirão absolutamente nada!

– Para qualquer um desses casos é o coração quem deverá ser consultado.

Sim, o coração. Esse legislador mal interpretado e tantas vezes difícil de compreender, que a cada novo desafio, dá um jeito e fabrica, uma a uma, nossas próprias e únicas razões de ser.

Nota final: hoje meu coração diz que não é para direita, nem para esquerda, é pra cima!

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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