Crônica: Ser livre, da colunista Maria Sanz. Crédito: Pexels/Min An
Entre a expectativa e a recompensa existe um buraco perigosíssimo.
Quando esperamos muito de qualquer coisa, quase sempre abrimos as portas para frustração. Desejar "grande" por si só, já atrai a expectativa, que motiva o esforço, que aumenta a exigência, que interfere no resultado, que frustra a gente, e assim por diante.
E você sabe, a exigência é mãe da culpa, que é, por sua vez, a fonte de todas as ansiedades...
Nota: ansiedade e medo são coisas diferentes. Você pode ter medo de avião, de uma prova, ou de qualquer outra coisa específica. Já a ansiedade é uma coisa mais complexa... Ansiedade é quando se tem medo do nada! Nada, como a solidão, a escassez, a morte. De modo é mais fácil lidar com o medo que é um oponente com cara (às vezes nome e sobrenome). Já a ansiedade é mais complicada porque ela ameaça de todos os lados, sem cara. E aí é que mora o perigo, o tal buraco de que falo. Porque entre a expectativa e a recompensa, a própria vida fica ameaçada.
De modo que o combo perfeccionismo + grandes objetivos pode ser sim causa da ausência de tranquilidade. E de presença, claro. Porque quando estamos vidrados, olhando para o futuro desejado, é óbvio que abandonamos o aqui agora. E aí pisamos na bola, nos sentimos culpados, e isso quase sempre custa caro.
Portanto, a base do que queremos precisa estar ligada às nossas capacidades, não aos nossos desejos!
Aliás, pense comigo se não é verdade: liberdade não é fazer aquilo que a gente quer, mas querer aquilo que somos capazes de fazer.
Isso é muito sério...
Uma vez, depois de uma conversa com meu irmão, que já é um cara bem sucedido e tal, eu achei que era hora de fazer meu negócio crescer. É, porque eu entendi que também devia ser grande e livre como ele. Aí chamei um consultor grandão, que me sugeriu dar passos maiores, com metas alargadas para ampliar meu business. Pronto, acreditei que mudando o tamanho do remo eu cresceria e me tornaria livre! Coloquei um "let it go" para tocar na vitrola e fui.
Pausa contemplativa (livre de que mesmo?)
– Exatamente daquilo que eu amo (e sei) fazer?
Corta pro fim –– entrei exatamente no vazio entre a expectativa e a recompensa (por todo investimento, esforço e sapos engolidos). E dei de cara no chão.
Claro, ficou a lição.
Não adianta, liberdade é aprender a amar aquilo que somos e aquilo que faz sentido para gente.
As metas dos outros, o que os outros acreditam que seja melhor, ou mesmo aquilo que os especialistas apontam como ideal, bem pode parecer interessante, mas não falha em nos arrastar para o buraco onde a ansiedade corrói a vida, a expectativa mastiga a gente vivo e a recompensa esperada simplesmente não existe...
Donde concluo que ser grande é estar presente, ocupando o espaço disponível para a vida. Participando de cada passo.
E ser livre... Ser livre é saber amar o que já existe.
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