Cronista expressa seu carinho e admiração pela artista capixaba Elisa Lucinda. Crédito: Jonathan Estrella
Em qualquer circunstância, é chique a poesia.
A alegria, quase sempre, é chique. E, especialmente, no carnaval também é chique a ufania.
Quem pode resistir ao contágio de um desfile com esta mistura que seria fina, se não fosse explosiva? Poesia, cerveja, purpurina e uma escola de samba atravessando a avenida com pique de menina. Menina da terra – de Cariacica, para ser mais precisa, correndo descalça, rodando a saia e mordendo os lábios, com dois olhos de esmeralda cravados na cara. Menina danada...
Essa Elisa chegou ao mundo na puxada do dia 02 do mês segundo - dia da Rainha do Mar. Veio homenagear... brindar a beleza da vida, sacando do peito, ora para arrumar sobre a mesa, ora para soprar ao vento, palavras a moda de poesia. É mulher que faz rima entre o reino e as dunas, e monta rede sob as buganvilles, no caramanchão em Itaúnas. Mulher que cresceu com olhos de reparar tudo e alma de gozar o mundo. O pôr do sol, o canto da cigarra e o voo da pipa lubrificam Lucinda.
Depois de muito tecer a trilha entre o quintal e a rua, fez-se moça doutora, jornalista; e deixou Vitória para viver na cidade-maravilha – que é coisa prescrita para quem quer ser artista. Para além da poesia, fez teatro, novela, cinema e escreveu uma porção de livros.
(Eu, aqui, poderia dizer que ela ficou famosa, mas não se trata disso. Elisa é f.).
Na primeira vez que a vi, ela estava nua. No teatro, do alto do palco, emergiu de uma banheira branca declamando como quem improvisa e foi colocando a roupa, o perfume e os brincos como quem faz streeptease... Sei dizer que, antes mesmo de ela estar vestida, eu já me sentia intima. Na época, eu já havia ouvido falar um bocado de suas virtudes, mas a presença cênica, a voz e a paixão daquela mulher conterrânea foram uma senhora estreia na realidade particular que chamo de vida.
Tsc, depois disso, comprei vários livros e virei fã assumida. Claro, como toda boa leitura, Elisa é irreversível.
Tempos atrás, no Sambão do Povo, logo depois de ter cruzado a avenida, de plumas e sapatilha (ao lado do meu irmão e meu pai, inclusive – e, portanto, esburrando de adrenalina), eis que topei com a diva! Não tive dúvida, acho que nem mesmo sóbria eu teria, e gritei:
– Eliiisa!!
Ao que ela retribuiu com um largo sorriso – me deixando morta de alegria. No dia seguinte, ou melhor, na madrugada de sábado para domingo, voltei ao Sambão só para assistir de pertinho ao desfile da Unidos de Boa Vista. Delirei! Foi incrível viver a ufania, cantar o orgulho, sambar a melodia e erguer os braços para a capixaba que brilha no mundo inteiro, brindando a vida com poesia.
Depois de já ter perdido, literalmente, a voz de tanto repetir "canta, canta, Madalena/ bota a saia pra rodar, ninguém resiste"; e de ter ficado com o colo vermelho, de tanto bater no peito dizendo "ser capixaba... também é chique!", fiquei com os olhos cheios... Elisa veio no último carro, balançando contra o vento, alça do vestido caído, uivando, alucinada de felicidade, senhora da noite, nossa poetisa. Linda!
Sim, senhora! Estamos orgulhosos. Ao menos eu, que muito metida, uso biquini e luva, e na escrita, também me atrevo, fiquei orgulhosíssima!
Nossos segredos de espuma, nossas conversas de duna, nossas montanhas namoradeiras e nossa moqueca perfeita; nossa força de povo, nosso disse me disse, nosso carnaval e nossa poetisa, finalmente, provam que você sempre esteve certa, Elisa:
– Ser capixaba é muito chique.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.
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