Administrador / [email protected]
Publicado em 31 de maio de 2023 às 08:00
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno comportamental que geralmente surge na infância, por volta dos 12 anos, e acompanha o indivíduo durante toda a vida adulta. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o número de casos de TDAH variam entre 5% e 8% a nível mundial. Além disso, estima-se que 70% das crianças com o transtorno apresentam outra comorbidade e pelo menos 10% apresentam três ou mais comorbidades.
Rafael Engel, neuropediatra e especialista em Neurociências, explica que os sintomas centrais do TDAH são desatenção e hiperatividade/impulsividade. A desatenção é vista como divagação frequente, falta de persistência, dificuldade de manter o foco e desorganização, apesar de o indivíduo ter uma boa compreensão do que está sendo solicitado e de não estar sendo desafiado.
A hiperatividade se refere a uma atividade motora excessiva em momentos inapropriados. Isso pode ser observado, por exemplo, quando uma criança corre descontroladamente em qualquer ambiente ou quando um adulto demonstra uma grande inquietação, chegando a cansar os outros com sua agitação.
Já a impulsividade está relacionada à intromissão social, como interromper os outros com frequência, ou a ações precipitadas que podem colocar a pessoa em risco, como atravessar uma rua sem olhar. Também pode envolver a tomada de decisões importantes sem considerar as consequências a longo prazo, como aceitar um emprego sem ter informações adequadas sobre ele.
Segundo Rafael Engel, as causas e os fatores de risco para o TDAH são desconhecidos, mas vários estudos demonstram a base neurobiológica do transtorno, ou seja, fatores genéticos e bioquímicos. “Acredita-se que a intensidade das manifestações seja uma combinação principalmente da genética com alguns fatores ambientais, como exposição a toxinas durante a gestação, sobretudo tabaco, prematuridade e baixo peso ao nascer. Fatores que são considerados de risco para qualquer transtorno do neurodesenvolvimento”.
O diagnóstico do TDAH é clínico, ou seja, é realizado apenas por médicos especializados, como neuropediatras e psiquiatras. “No Brasil, costumamos utilizar os critérios descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), organizado pela Academia Americana de Psiquiatria, para uma padronização do diagnóstico”, diz Rafael Engel.
Conforme explica o neuropediatra, o tratamento é a longo prazo e primordialmente baseado em intervenções terapêuticas e educacionais, direcionadas ao próprio indivíduo e aos seus familiares. Também é baseado em mudanças e adaptações sociais que atendem à legislação de inclusão vigente.
A curto prazo, existem alguns medicamentos disponíveis que ajudam a amenizar os sintomas, mas que precisam ser avaliados e indicados caso a caso. Alguns estudos estão avaliando o benefício de outras intervenções, como práticas manipulativas de energia, mas ainda sem indicação científica precisa.
Além disso, conforme explica o especialista, assim como em todo transtorno, não há uma cura para o TDAH. O tratamento apenas ajuda o paciente a desenvolver ferramentas e estratégias para lidar com suas características, de forma que não seja mais prejudicado por elas e, com isso, melhorar sua qualidade de vida.
Para considerar o diagnóstico de TDAH, é importante observar se há um impacto negativo no desempenho acadêmico, que não está relacionado a problemas de inteligência. “Isso ocorre porque os sintomas de desatenção e hiperatividade /impulsividade dificultam a concentração nas aulas, o planejamento, a organização e a execução das tarefas, além do cumprimento de prazos escolares (o que chamamos função executiva)”, diz o especialista em Neurociências.
Muitas vezes, o prejuízo acadêmico de crianças, adolescentes e, até mesmo, adultos jovens pode ser difícil de ser percebido, pois os cuidadores e professores geralmente fazem um esforço extra para controlar os sintomas e garantir que os trabalhos e prazos não sejam perdidos.
Embora o TDAH geralmente se inicie na infância, os prejuízos associados a ele podem ser observados também na vida adulta. Em alguns casos, suspeita-se do diagnóstico quando indivíduos apresentam histórico de troca frequente de empregos, dificuldade em manter relacionamentos estáveis ou cometem pequenas infrações no trânsito devido a descuido, ou à desatenção.
Além dos prejuízos evidentes nas relações sociais e no desempenho acadêmico e profissional, notam-se complicações principalmente associadas à falta de diagnóstico e tratamento adequados. “Essas complicações incluem riscos de acidentes, abandono escolar, maior propensão ao desenvolvimento de outros transtornos, como ansiedade, depressão e abuso de drogas e álcool, e um maior risco de suicídio. Por isso é tão importante o conhecimento sobre o transtorno, que as crianças sejam encaminhadas para avaliação desde cedo e que os adultos procurem ajuda adequada ou sejam encaminhados por seus familiares”, finaliza Rafael Engel.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta