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Publicado em 7 de dezembro de 2022 às 09:53
No último sábado (3), em plena Copa do Mundo, o Brasil parou para ouvir que o ex-jogador Pelé, de 82 anos, não estava respondendo ao tratamento quimioterápico que realizava desde setembro de 2021, em razão de um câncer no cólon (intestino grosso). O jornal Folha de São Paulo divulgou que o ídolo do futebol interrompeu a terapia e está em cuidados paliativos, o que gerou dúvidas na população.
De forma tímida, o cuidado paliativo está sendo inserido no vocabulário da saúde brasileira. Baseado em uma medicina humanizada, essa área de atuação é indicada para pacientes que possuem doenças graves e sem perspectiva de cura, com objetivo de prevenir e aliviar o sofrimento, tanto do paciente quanto da família. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada ano, mais de 20 milhões de pessoas necessitam de Cuidados Paliativos ao final de suas vidas no mundo.
De acordo com o portal da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, a prática sempre existiu na história, mas não era referida desta forma. Alguns historiadores contam que os cuidados paliativos começaram na Idade Média, durante as Cruzadas, que ocorreram entre os séculos XI e XII. Em um ato verdadeiro de cuidar, era comum achar hospedarias com doentes, pessoas com fome, mulheres em trabalho de parto, pobres e órfãos. Mais do que procurar a cura para estes problemas, essa forma de acolhimento buscava cuidar, amenizar a dor e o sofrimento.
No Brasil, as práticas paliativas se iniciaram nos anos 1990, ou seja, são recentes. Segundo a médica paliativista Isabela Gava, os cuidados paliativos ainda fazem parte de "uma área ainda muito embrionária à nível de Brasil".
De acordo com a profissional, "os cuidados paliativos, por definição, é uma assistência multiprofissional que busca prevenir e avaliar o sofrimento através da atuação em quatro esferas de cuidados, pensando em sempre proporcionar ao paciente uma qualidade de vida". As quatros esferas citadas se referem ao alívio do sofrimento físico, social, espiritual e psicológico.
Segundo Isabela, "todo paciente que tem uma doença que ameaça a continuidade da vida, é um candidato para seguir em conjunto com profissional do cuidado paliativo". Ainda conforme a especialista, esses cuidados estão alinhados com a chamada 'slow medicine' (medicina lenta), onde o médico pratica o tempo de qualidade com o paciente, fugindo do rumo das consultas ágeis do cotidiano, com resoluções objetivas.
Os cuidados paliativos são capazes de interferir diretamente na dignidade dos pacientes, onde, por diversas vezes, alguns fatores importantes da vida do paciente são ignorados pela pressa e obsessão de tratar algo que, talvez, atrapalhe ainda mais a vida do enfermo. "Interfere na qualidade de vida, planejamento de cuidados, oportunidade de falar e lidar sobre questões relacionadas à doenças, abordagens de sintomas e sofrimento", garante Isabela sobre a importância desse estilo de cuidado.
Na prática, os cuidados paliativos podem englobar diversas ações diretas dos profissionais responsáveis para com a pessoa cuidada. "Se comunicar adequadamente com o paciente, de forma empática, oferecer informações de qualidade e que o ajudem, ajustar medicações para controlar os sintomas e aliviar o sofrimento físico, ter escuta ativa e não realizar intervenções e tratamentos que são desproporcionais a fase de doença que o paciente se encontra" são algumas das formas de pôr em prática estes cuidados, cita Gava.
É necessário reforçar que os cuidados paliativos são multiprofissionais, a depender da demanda do paciente, sendo, por vezes, necessário solicitar acompanhamento com nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta, assistente social e, até mesmo, de capelães quando a religião está envolvida.
"Cuidados paliativos é sinônimo de cuidar. Mesmo em cenário de doenças graves, mesmo que não consigamos fazer um tratamento específico para aquela doença, a gente sempre vai ter como cuidar do paciente", ressalta a Isabela.
*Daniela Salgado é estagiária sob supervisão do editor de HZ, Erik Oakes
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