Entenda por que o risco de trombose aumenta durante viagens longas

Com a  morte da dona de casa Maria de Lourdes durante um voo para Paris, ficou o questionamento: por que o risco do desenvolvimento desse quadro é potencializado em grandes deslocamentos?

Publicado em 16/02/2022 às 21h22
Ia a Paris

Maria de Lourdes iria visitar cinco filhos em Paris. Crédito: Arquivo da família

Com a confirmação de que foi uma trombose a causa da morte da dona de casa Maria de Lourdes Araújo dos Santos, de 75 anos,  durante um voo entre São Paulo e Paris na última segunda-feira (14), fica o questionamento: por que o risco do desenvolvimento desse quadro é potencializado em viagens longas? Para sanar esta e outras dúvidas, a reportagem conversou com o médico angiologista e cirurgião vascular Frederico Christo Torezani.

Em primeiro lugar, o especialista explicou o que vem a ser uma trombose: é a coagulação do sangue dentro de um vaso sanguíneo, com a consequente interrupção do fluxo nele.

Há riscos maiores de desenvolver uma trombose em viagens longas, segundo Torezani, porque há tendência de a pessoa se manter parada por longos períodos, sem movimentar os membros, em especial as pernas. "Isso faz com que o fluxo sanguíneo se torne mais lentificado e com volume maior retido na região do que habitualmente. Associado a isso, o indivíduo fica mais desidratado, ou menos hidratado do que o normal, e consequentemente gera uma concentração de sangue maior do que o habitual", acrescentou.

COMO EVITAR UMA TROMBOSE NO AVIÃO

Para o angiologista, o ideal para evitar os riscos de uma trombose em trajetos longos é que o indivíduo se movimente com frequência. O médico recomenda movimentar os pés para forçar a contração das panturrilhas, bem como manter-se hidratado em um padrão maior do que no dia a dia. "Assim a pessoa também vai mais ao banheiro, o que aumentará a movimentação, estimulando uma boa drenagem. Pedimos também para que, em voos longos, seja usada meia elástica de compressão", disse.

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O  angiologista e cirurgião vascular Frederico Torezani recomenda meias de compressão. Crédito: Arquivo pessoal

Sobre quem tem mais predisposição a desenvolver o quadro, Frederico afirma que geralmente são as pessoas de idade mais avançada; quem tem histórico de doenças malignas, como o câncer; indivíduos que se submeteram a cirurgias recentes; pessoas obesas ou mesmo quem já teve episódio anterior de trombose ou histórico familiar.

De todo modo, para o especialista, ocorrendo um evento de trombose venosa e embolia pulmonar sintomática, quando são apresentados sinais, o tratamento médico deve ser imediato.

Na maior parte dos casos, quando o indivíduo que enfrenta a trombose sobrevive, é possível que restem sequelas, sendo que as mais leves podem até passar despercebidas em análise clínica. Já as mais graves podem causar repercussões na circulação dos membros. "Também podem eventualmente levar a reduções da capacidade pulmonar hemodinâmica - de fluxo através do pulmão -, o que leva à hipertensão pulmonar, que pode ocasionar restrições físicas. Na maioria das vezes, há alterações nos membros inferiores. Na parte pulmonar, costuma haver boa recuperação", afirmou o médico.

Nos membros inferiores, segundo Torezani, o volume de sequelas é maior, podendo levar a inchaços prolongados, desconforto e dores nos membros, além de alterações nos tecidos sujeitos a progredir até a formação de úlceras crônicas.

RELEMBRE O CASO DA DONA LOURDES

Maria de Lourdes viajava para Paris ao encontro dos filhos e outros familiares que moram na França. Durante o voo, ela passou mal. Integrantes da comissão técnica, incluindo médicos, da seleção feminina de futebol do Brasil, chegaram a prestar atendimento à idosa no avião. Posteriormente o socorro foi continuado em solo, mas a moradora de Cariacica não resistiu.

Esta seria a terceira vez que Lourdes desembarcaria no país europeu para ficar com os filhos. Ela já havia viajado em 2012 e em 2019, acompanhada pelo marido. Além de Lucilene e Leandro, Lourdes deixou outros cinco filhos: Paulo, Erasmo e Rosânia, que também moram na França, e Edna e Edson, que residem no Espírito Santo. A dona de casa era avó de 24 netos e ainda bisavó de oito bisnetos.

Maria de Lourdes é natural da Bahia e morava havia mais de três décadas no bairro Nova Rosa da Penha, onde era muito conhecida e querida. A perda repentina dela rendeu homenagens e comoveu amigos, vizinhos e conhecidos em Cariacica.

Desde que foi informado sobre a morte da mãe, Leandro, um dos filhos da idosa, que mora em Paris, se deslocou até a Espanha. No país vizinho, é ele quem cuida de todos os detalhes burocráticos para a liberação do corpo, velório e sepultamento. Entretanto, diante das dificuldades em solucionar os entraves, ele e os demais familiares optaram por cremar Maria de Lourdes por lá, visto que boa parte da família da idosa, incluindo filhos e netos, reside na Europa.

Ia a Paris

Em 2019, Maria de Lourdes esteve em Paris. Na foto, está com o filho Leandro. Crédito: Arquivo da família

No fim da manhã desta quarta-feira (16), Leandro comunicou que foi procurado pela aérea Latam, que se mostrou "solícita e disposta a ajudar".

POSICIONAMENTO DA LATAM

Demandada por A Gazeta na terça e novamente nesta quarta-feira, a Latam disse, em nota, que "o voo LA702 (São Paulo/Guarulhos – Paris), que decolou às 23h05* de domingo (13), precisou pousar no aeroporto de Madri às 13h03* (horário local) de segunda-feira (14) para que uma passageira recebesse atendimento médico. A companhia se sensibiliza com o ocorrido e informa que está buscando contato com os familiares da passageira para prestar toda a assistência necessária", informou a companhia aérea.

No começo da tarde, a assessoria da empresa deu detalhes do caso envolvendo a passageira e reiterou que está colaborando com a família neste momento de perda.

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