Esclerose múltipla: entenda o que é e os sintomas da doença de Guta Stresser

É uma doença neurológica, ou seja, ela afeta o sistema nervoso central que é o cérebro e a medula. Ocorre porque o sistema imune ataca a barreira de proteção dos neurônios

Vitória
Publicado em 22/06/2022 às 11h38
Guta Stresser

Atriz diz que descobriu doença autoimune após fazer exames em 2020. Crédito: Reprodução @Gutastresser

A atriz Guta Stresser, que interpretou a personagem Bebel, em "A Grande Família", revelou que foi diagnosticada com esclerose múltipla (EM), doença crônica sem cura, progressiva e autoimune que tem como características a inflamação e as perdas neuronais. A atriz de 49 anos percebeu os primeiros sinais da doença autoimune quando participou da Dança dos Famosos, em 2020. "Nem sabia direito o que era aquilo, só que afetava o cérebro, e só isso me soou aterrorizante". Além dela, artistas como Claudia Rodrigues e Ana Beatriz Nogueira também têm a doença. 

Entre os sintomas, a atriz contou que notou perda de memória, inclusive de palavras simples. "Parecia tudo normal até que, durante os ensaios da Dança dos Famosos, eu passava a coreografia e, quando terminava, não lembrava de mais nada, nada mesmo. Não entendia o motivo, sempre tive facilidade para essas coisas", comentou.

A EM é uma doença neurológica, ou seja, ela afeta o sistema nervoso central que é o cérebro e a medula. Ocorre porque o sistema imune ataca a barreira de proteção dos neurônios. É considerada uma doença crônica, autoimune e progressiva. "É uma doença inflamatória crônica, provavelmente autoimune. Em que existe uma desregulação do sistema imunológico, que passa a atacar a mielina do sistema nervoso central. A mielina é uma espécie de gordura que protege os prolongamentos dos neurônios e facilita a comunicação entre eles", explica a neurologista Vanessa Loyola, da Rede Meridional/Kora Saúde. 

A médica conta que a EM é uma doença de difícil diagnóstico. Isso porque a forma comum é chamada de recorrente remitente (RR). "E a pessoa tem o que podemos chamar de 'surtos' em que qualquer função do sistema nervoso pode ser comprometida. Então os sintomas mais comuns são paralisia, geralmente de um membro ou metade do corpo, perda de equilíbrio, alterações de sensibilidade e alterações visuais".

Os sintomas são muito variados e tendem a melhorar espontaneamente. Passado alguns dias, o sintoma melhora sozinho, nessa forma que é a mais comum da doença. Então a pessoa pode, por exemplo, sentir uma área do corpo, como a perna, fraca. Ela pensa que dormiu por cima da perna, ou até fica preocupada e marca um médico, mas em poucos dias o sintoma melhora e o paciente desmarca a consulta. E isso dificulta um pouco o diagnóstico da doença

TRATAMENTO

A doença pode atingir qualquer faixa etária, porém é mais comum em mulheres jovens, com até 40 anos. O avanço costuma ser lento e os sinais podem ser leves e esporádicos, e ainda se confundirem com os de outras doenças. "Existem muitas formas, sendo a mais comum a RR. Muitas vezes com a progressão da doença, as pessoas vão acumulando déficits. Quando a pessoa começa a ter muitos sintomas transitórios, e muitas vezes de áreas muito diferentes, como sensitivos, cognitivos, é preciso pensar se não há uma ligação entre esses sintomas tão distintos", diz Vanessa Loyola. 

Para o diagnóstico, é feito um exame físico, para avaliar tudo o que aconteceu e resquícios desses surtos. E também exames complementares, como uma ressonância e exames de sangue. O tratamento é multidisciplinar. "Existem uma série de medicações que são administradas e a fisioterapia é muito útil para a recuperação do paciente. E muitas vezes precisa de apoio psicológico, porque a pessoa tem dificuldade de lidar, pois é uma doença imprevisível", conta a neurologista. 

CANNABIS MEDICINAL

Por indicação de médicos, Guta Stresser também tem utilizado o óleo de canabidiol, substância encontrada em pequeno volume no caule e na folha da maconha, como um complemento ao tratamento para reduzir o impacto da doença e melhorar a qualidade de vida.

A médica Mariana Maciel, especialista em Medicina Canabinoide e co-fundadora da Thronus Medical, explica que os fitocanabinoides podem auxiliar na desaceleração do processo neurodegenerativo, na neurorregeneração e na limitação da progressão da doença, já que o canabidiol possui propriedades anti-inflamatórias. "É possível aprender a conviver com a doença e ter qualidade de vida, e é isso que a cannabis pode trazer ao paciente. O uso de fitocanabinoides como tratamento complementar ou substituto aos tradicionais com alopatia pode ter muitas vantagens, como na espasticidade da dor". 

A cannabis pode ter o efeito de melhora do humor e da diminuição de quadros de depressão – muito comuns em pessoas acometidas pela doença. Ou seja, contribui para a melhora da qualidade de vida dos pacientes

A cannabis pode ser associado ou utilizado sozinho. A decisão, assim como dosagem e demais orientações, deve ser feita sob orientação de um médico. Os riscos são bem menores em comparação às medicações convencionais.

"Por se tratar de um composto fitoterápico, a cannabis não apresenta efeitos colaterais graves, como costuma acontecer com os alopáticos. Além disso, os canabinoides possuem enorme segurança farmacológica com toxicidade praticamente nula. Em relação aos efeitos colaterais leves, pode acontecer fadiga, tontura e sonolência, mas todos os sintomas tendem a desaparecer após poucos meses de uso e adequação de dosagem", diz Mariana Maciel.

SEQUELAS

A neurologista Vanessa Loyola diz que as sequelas da EM têm a ver com os surtos, com o acúmulo de lesões no sistema nervoso. "As pessoas têm uma 'idealização' com o conceito de cura e se assustam quando é dito que não há uma. Mas, se pensarmos, a maioria das doenças crônicas não tem cura. Hipertensão arterial, diabetes, são doenças que você trata e controla ao longo da vida. A esclerose segue o mesmo princípio. Com o tratamento adequado, as pessoas com esclerose múltipla podem ter uma vida produtiva, mas necessitam de acompanhamento médico regular", finaliza. 

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