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Publicado em 12 de janeiro de 2023 às 14:00
Beber duas a três xícaras de café por dia está associado a uma vida útil mais longa e menor risco de doenças cardiovasculares em comparação com evitar o café, de acordo com pesquisa recente publicada no European Journal of Preventive Cardiology, um jornal da Sociedade Europeia de Cardiologia.
“Os resultados se aplicaram às variedades moídas, instantâneas e descafeinadas. Os três tipos foram associados a reduções equivalentes na incidência de doenças cardiovasculares e morte por doença cardiovascular ou qualquer outra causa. Os resultados sugerem que a ingestão leve a moderada de café moído, instantâneo e descafeinado deve ser considerada parte de um estilo de vida saudável”, explica a médica nefrologista Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.
Há pouca informação sobre o impacto de diferentes preparações de café na saúde e sobrevivência do coração. Este estudo examinou as associações entre tipos de café e arritmias incidentes, doenças cardiovasculares e morte usando dados do UK Biobank, que recrutou adultos entre 40 e 69 anos. A doença cardiovascular foi composta por doença cardíaca coronária, insuficiência cardíaca congestiva e acidente vascular cerebral isquêmico.
O estudo incluiu 449.563 participantes livres de arritmias ou outras doenças cardiovasculares no início do estudo. A idade mediana foi de 58 anos e 55,3% eram mulheres. Os participantes preencheram um questionário perguntando quantas xícaras de café bebiam por dia e se geralmente bebiam café instantâneo, moído (como cappuccino ou café filtrado) ou descafeinado. Eles foram então agrupados em seis categorias de ingestão diária, consistindo em nenhum, menos de um, um, dois a três, quatro a cinco e mais de cinco xícaras por dia. O tipo usual de café era instantâneo em 198.062 (44,1%) participantes, moído em 82.575 (18,4%) e descafeinado em 68.416 (15,2%). Havia 100.510 (22,4%) não bebedores de café que serviram como grupo de comparação.
Segundo a médica, os bebedores de café foram comparados aos não bebedores para a incidência de arritmias, doenças cardiovasculares e morte, após ajuste para idade, sexo, etnia, obesidade, hipertensão arterial, diabetes, apneia obstrutiva do sono, tabagismo e consumo de chá e álcool. As informações de desfecho foram obtidas de prontuários médicos e registros de óbito. “Um total de 27.809 (6,2%) participantes morreram durante o acompanhamento. Todos os tipos de café foram associados a uma redução na mortalidade por qualquer causa. A maior redução de risco observada com duas a três xícaras por dia, que em comparação com não beber café, foi associada a uma probabilidade 14%, 27% e 11% menor de morte para preparações descafeinadas, moídas e instantâneas, respectivamente”, diz a médica.
A doença cardiovascular foi diagnosticada em 43.173 (9,6%) participantes durante o acompanhamento. Todos os subtipos de café foram associados a uma redução na incidência de doenças cardiovasculares. Mais uma vez, o menor risco foi observado com duas a três xícaras por dia, que em comparação com a abstinência de café foi associada a uma probabilidade reduzida de 6%, 20% e 9% de doença cardiovascular para café descafeinado, moído e instantâneo, respectivamente.
Uma arritmia foi diagnosticada em 30.100 (6,7%) participantes durante o acompanhamento. “Café moído e solúvel, mas não descafeinado, foi associado à redução de arritmias, incluindo fibrilação atrial. Em comparação com não bebedores, os menores riscos foram observados com quatro a cinco xícaras por dia para café moído e duas a três xícaras por dia para café solúvel, com riscos reduzidos de 17% e 12%, respectivamente”, conta a médica intensivista.
Segundo a médica nutróloga Marcella Garcez, o café é uma das bebidas mais ingeridas no mundo e traz mais de mil ingredientes ativos. “O café tem aproximadamente 300 elementos químicos no grão e 850 após a torrefação responsáveis pelo aroma e sabor do café. Quanto aos efeitos sobre a saúde, mais de 20 compostos foram descritos cientificamente, entre eles xantinas (cafeína, teobromina, teofilina, paraxantina), ácidos orgânicos (ácido clorogênico 5 a 10%, e os ácidos cafeico, metilúrico, vanílico, hidroxibenzoico e ferrúlico), flavonóides (caempferol, quercetol 40%), diterpenos (cafestol, caveol), salicilatos (salicilato de metila), EDTA, ácido benzoico, derivados nicotínicos (trigonelina), óleos essenciais (ácido cinâmico, aldeído cinâmico), vitaminas (nicotinamida, ácido ascórbico, tiamina, riboflavina e caroteno) e minerais (cálcio, fósforo e ferro)”.
No entanto, existe uma resposta heterogênea com relação à cafeína: enquanto algumas pessoas simplesmente não conseguem viver sem, outras não podem nem sonhar em ingerir. “Algumas pessoas são sensíveis à cafeína, apresentando problemas de digestão e gástricos, alterações de ritmo cardíaco e pressão arterial, agitação emocional e distúrbios do sono, situações em que o café tradicional deve ser deixado de lado. Para esses casos, o consumo do café descafeinado é interessante”, afirma a nutróloga.
“O café descafeinado não faz mal para quem não quer ou não pode ingerir cafeína, como no caso de indivíduos com gastrite, hipertensos ou com insônia, por exemplo, porque o café descafeinado tem pouca quantidade de cafeína, apenas 0,1% da cafeína presente no café normal. A produção de café descafeinado requer um processo delicado, não retira outros compostos que são essenciais para o sabor e aroma do café normal, sem o efeito estimulante da cafeína”, explica Marcella Garcez.
A cafeína é o constituinte mais conhecido do café, mas, como demonstra o estudo, é provável que os compostos não cafeinados tenham sido responsáveis pelas relações positivas observadas entre o consumo de café, doenças cardiovasculares. “As descobertas indicam que beber pequenas quantidades de café de todos os tipos não deve ser desencorajado, mas pode ser apreciado como um comportamento saudável para o coração", finaliza a médica Caroline Reigada.
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