Implantes de silicone podem estar ligados ao câncer, alerta agência americana. Crédito: Shutterstock
Em um país que está entre os campeões quando o assunto é implante mamário - seja por questões estéticas ou mesmo reconstrução por motivos de saúde -, uma nota emitida recentemente pela da FDA (agência que regula alimentos e drogas nos Estados Unidos), espécie de Anvisa norte-americana, causou alarde. O comunicado alertava que mulheres que têm implantes mamários, ou pensam em colocá-los, podem desenvolver certos tipos de câncer no tecido cicatricial que se forma ao redor deles.
Conversamos com o cirurgião plástico capixaba Dr. Ariosto Santos, que é membro ativo da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery), membro da ASPS (American Society of Plastic Surgeons) e membro titular da Federação Ibero Latino-Americana de Cirurgia Plástica (FILACP). O especialista informou que as malignidades são raras de aparecer em qualquer tipo de implante, seja com superfícies texturizadas ou lisas ou mesmo os preenchidos com silicone.
"O comunicado da FDA citou o linfoma (câncer do sistema imunológico) anaplásico de grandes células e o carcinoma espinocelular. No Brasil, segundo dados dos últimos dez anos, tivemos apenas 16 casos de linfoma anaplásico e nenhum de carcinoma espinocelular. E olha que estamos falando de um país que conta com cerca de 290 mil implantes mamários por ano", tranquiliza o especialista, revelando que, no Espírito Santo, o número de implantações chega a ser de sete a oito mil por ano, sendo, em sua maioria, estéticos.
Segundo o especialista, o câncer, normalmente, se desenvolve na cápsula que envolve a prótese de silicone, uma espécie de cicatriz natural criada pelo próprio organismo.
"Um dos sintomas comuns é o aparecimento de seroma, um acúmulo de líquido inflamatório sob a pele que acontece no local da cicatriz e nas regiões próximas ao corte, o que causa inchaço. Em alguns casos, é normal aparecer. O tratamento é tranquilo e pode ser feito com repouso e um pouco de gelo. Outra forma de resolver é o médico retirando o líquido com uma seringa", explica.
"O seroma se torna mais perigoso quando surge há mais de dez anos após o implante. Mas isso é incomum, pois 82% das pacientes trocam de prótese em um tempo menor, até por conta do próprio envelhecimento e a queda natural do seio", detalha, dizendo que a prótese preferida entre as capixabas é o shape de perfil superalto, o que pode proporcionar um colo maior e mais realçado.
EXPLANTES MAMÁRIOS
Por falar em troca ou retirada das próteses, os conhecidos explantes mamários também estão em alta. De acordo com Dr. Ariosto Santos, um estudo feito pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps) apontou que casos de extração das próteses de silicone subiram de 169 mil, em 2017, para 206 mil, em 2020. Já no Brasil, a retirada teve um aumento de 92% em 2020, em comparação a 2017 (último dado divulgado). Em números, tivemos 13 mil explantes em 2017, contra 25 mil, em 2020.
Recentemente, as atrizes Fiorella Martins e Giovanna Antonelli retiraram as próteses por conta de desconfortos físicos. Mesmo com a maior exposição do corpo na imprensa e nas mídias sociais, elas afirmam que essa foi e melhor escolha.
Giovanna Antonelli retirou as próteses de silicone no início de 2022. Crédito: Reprodução/Instagram @giovannaantonelli
Dr. Ariosto destaca que os motivos para realizar o explante mamário podem ser tanto por saúde quanto por questões estéticas. "A remoção das próteses pode ocorrer devido a doenças relacionadas ao implante de silicone, contratura capsular (mama endurecida), ruptura da prótese e reações sistêmicas que podem ocorrer no organismo. Muitas também querem mudar a textura da prótese ou mesmo o local", disse, também ressaltando que a mudança do comportamento da sociedade em relação à mulher moderna impulsionou essa nova tendência estética.
"Uma nova geração de mulheres está preferindo ter um corpo mais natural, e isso inclui o tamanho do seio. Em outros tempos, era obrigatório colocar silicone para se mostrar bonita. Hoje, elas não querem uma mama com um volume exagerado e desejam moldar o colo de forma mais natural possível. Nos consultórios, a tendência é uma prótese de, no máximo, 280ml a 300ml", aponta.
Voltando a falar dos explantes mamários, o especialista afirma que um dos motivos para a retirada das próteses pode ser o surgimento da ASIA (Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvante). O silicone, em pessoas geneticamente suscetíveis, funcionaria como o tal coadjuvante, aumentando a resposta inflamatória e desencadeando uma reação imunológica.
"Também temos os casos que chamamos de 'Doença do Silicone', igualmente responsáveis por parte dos explantes. Trata-se de queixas subjetivas, quando a paciente nos retorna dizendo que quedas de cabelo, insônia, dores articulares e até mesmo unhas fracas estão relacionadas diretamente à prótese".
CORREÇÃO
O médico destaca que o explante mamário é feito de forma cirúrgica, utilizando a mesma cicatriz da cirurgia anterior. "A anestesia pode ser geral, peridural ou local, dependendo do caso da paciente. Com isso, pode ser feita apenas a remoção da prótese ou a retirada da prótese e de sua cápsula. Vale destacar que pode ocorrer uma flacidez no local por conta do estiramento do tecido mamário", informou.
A boa notícia é que a paciente que desejar corrigir esse pequeno probleminha nos seios pode fazer uma cirurgia. "Para a paciente que quiser somente retirar a prótese, pode realizar uma enxertia de gordura, que aumenta sutilmente o volume da mama. Normalmente, esse procedimento não é muito indicado, pois esta gordura pode trazer microcalcificações e, futuramente, atrapalhar exames de rotina, como a mamografia".
Em alguns casos, essa flacidez e excesso de pele que fica no local também pode ser resolvido com uma cirurgia usando o próprio tecido do seio. Essa correção pode dar firmeza e estrutura ao colo, sendo considerada a mais natural.
Dr. Ariosto Santos é cirurgião plástico e e membro titular da Federação Ibero Latino-Americana de Cirurgia Plástica (FILACP). Crédito: Reprodução/ Instagram @drariostosantos
"Também há casos de usar o procedimento da mastopexia (também conhecida como lifiting da mama), que serve para corrigir problemas que o explante de prótese pode causar, especialmente a sobra de pele. Ela é feita, normalmente, em uma chamada área 'T invertida' do seio. A ação passa pela aréola, percorrendo todo o sulco", explica.
Ariosto reforça, ainda, a importância de fazer sempre uma revisão com o cirurgião plástico a fim de evitar complicações. "É importante sempre consultar o médico de confiança periodicamente (no máximo anualmente), com os exames de mama de rotina. Quaisquer suspeitas de alterações também devem ser comunicadas ao cirurgião plástico", complementa.
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