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Publicado em 29 de agosto de 2022 às 08:48
A insuficiência cardíaca ocorre quando o coração se torna incapaz de bombear adequadamente o sangue para nutrir o corpo. Ela acomete 2% da população mundial, o que corresponde a cerca de 26 milhões de pessoas. "A insuficiência cardíaca é uma doença que se caracteriza por deficiência do coração em enviar fluxo de sangue suficiente para oferecer nutrientes e oxigênio para os órgãos e tecidos (coração mais fraco), ou seu enchimento é feito à custa de pressões mais elevadas com aumento da pressão do sangue na circulação pulmonar ou veias sistêmicas (coração mais rígido)", explica o médico Edimar Bocchi, coordenador da Unidade de Insuficiência Cardíaca do InCor.
O profissional conta que os sintomas da doença incluem dificuldades respiratórias, fraqueza, cansaço e pernas inchadas. "O aumento das pressões e da quantidade de líquidos na circulação do pulmão e veias pode determinar a falta de ar (dificuldade para respirar quando faz exercício ou mesmo em repouso), a falta de ar quando deitado, o inchaço nas pernas, no abdômen e veias no pescoço salientes. O enfraquecimento pode determinar palidez, taquicardia, diminuição da quantidade de urina, astenia, cansaço geral, arritmia, queda da pressão arterial e morte, se não tratada", conta.
A insuficiência cardíaca é a via final das doenças do coração. Quando o paciente tem doença do coração e não tem morte súbita ou não morre de outra causa não cardíaca, vai ter insuficiência cardíaca. "A pessoa deve procurar um médico quando apresentar qualquer um dos sintomas. Ou quando for portador de doença do coração. Os pacientes devem fazer exames periódicos para diagnóstico de possível insuficiência cardíaca para tratamento o mais precoce possível", diz Edimar Bocchi.
O tratamento pode ser feito com medicações que eliminam ou evitam a retenção de líquidos pelo organismo (coração fraco ou coração rígido); medicamentos que diminuem a ativação dos sistemas neuro-hormonais que determina produção de catecolaminas, angiotensina, aldosterona; que reduzem a frequência cardíaca; que eliminam a glicose do sangue; e também marca-passo, dispositivos implantáveis para reduzir a morte súbita por arritmia. "O tratamento mais precoce, principalmente com beta-bloqueadores, pode estar associado com reversão do comprometimento cardíaco ou estabilização do quadro clínico", diz o cardiologista.
O InCor iniciou um estudo pioneiro no país para o tratamento da doença a partir do uso de um Regulador de Fluxo Atrial (AFR, na sigla em inglês). De acordo com Edimar Alcides Bocchi, o objetivo é que o implante ajude o coração enfraquecido a bombear o sangue, reduza as pressões no pulmão, diminua os sintomas da doença e consequentemente melhore a qualidade de vida dos pacientes.
O procedimento com esse dispositivo específico inédito no Brasil consiste na inserção de uma pequena prótese de nitinol (tipo de metal com superelasticidade e maleável) no coração doente, que fará a comunicação entre os dois átrios do órgão, responsáveis por receber o sangue do pulmão e de outras partes do corpo, e devolvê-lo ao organismo. Nos quadros de insuficiência cardíaca, o coração tem dificuldade em realizar este processo por conta própria, atrapalhando o atendimento das necessidades do nosso corpo, como a oxigenação, circulação, pressão sanguínea, funções renais e hepáticas.
“O desenvolvimento de novos métodos para o tratamento da insuficiência cardíaca é crucial para o aumento da sobrevida dos pacientes. Realizamos o primeiro procedimento do Brasil aqui no InCor, poucos foram feitos até o momento no mundo. A expectativa é confirmar se este tratamento intervencionista é uma opção terapêutica eficaz para a melhoria da saúde e para a qualidade de vida daqueles acometidos pela doença”, explica Edimar Alcides Bocchi.
A cirurgia é feita por um método minimamente invasivo, a partir de uma punção em veia na região da virilha, por onde o cardiologista intervencionista, especialista em procedimentos do tipo, insere um cateter que leva o implante até o coração. “O implante se assemelha a um carretel de linha e tem um orifício de 8 a 10 milímetros de largura, o equivalente a um botão de costura, que permitirá a passagem do sangue entre os átrios. Todo o procedimento é feito por esta única punção, sem a necessidade de se abrir o tórax, e tem duração de cerca de 40 minutos”, explica o médico Fábio Sândoli de Brito Junior, coordenador do programa de Intervenção em Cardiopatia Estrutural do InCor. A alta do paciente é feita em 24 horas, com a recomendação de retomar as atividades diárias normalmente.
O estudo será realizado em 60 pacientes de insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER) e que, apesar de receberem tratamento médico adequado, apresentam sintomas de agravamento. “Os tratamentos que temos à disposição são medicamentosos, ou, então, o transplante de coração, nos casos em que as opções terapêuticas foram esgotadas. Sabemos que nem todos os pacientes com insuficiência cardíaca precisarão de um novo coração para sobreviver, portanto, oferecer opções eficazes e minimamente invasivas, que vão diminuir as pressões no músculo cardíaco e o prognóstico da doença, é imprescindível para melhorar a qualidade de vida”, afirma Alexandre Abizaid, diretor do Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do InCor.
O implante foi aprovado para uso no Brasil em protocolo de pesquisa, coordenado pelo InCor, e ainda não está disponível na rede de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) ou privada, mas será utilizado nesse estudo do InCor.
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