Lula passou por um procedimento para retirar lesões identificadas na laringe. Crédito: Reprodução @Lula
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve alta do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, nesta segunda-feira, após passar por um procedimento cirúrgico para retirar lesões na laringe. O diagnóstico foi identificado no último dia 12 após exames de rotina mostrarem "alterações inflamatórias decorrentes do esforço vocal e pequena área de leucoplasia na laringe".
Lula foi submetido a uma laringoscopia para retirada de leucoplasia da prega vocal esquerda. De acordo com o boletim médico, foi verificada a ausência de neoplasia, ou seja, não se tratava de tumor maligno.
A chance da lesão retirada das cordas vocais de Lula ser maligna é "quase zero", disse ao Estadão Luiz Paulo Kowalski, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Sírio-Libanês e membro da equipe que cuida do petista. De acordo com o especialista, apesar da amostra removida já ter indicado ausência de neoplasia, a peça cirúrgica foi enviada para exame patológico detalhado, cujo resultado deve sair entre 24 e 48 horas.
A leucoplasia é o desenvolvimento de placas ou manchas brancas em regiões como interior das bochechas, fundo da boca, língua ou laringe. Elas podem ser sinais precoces de um câncer. "Estaticamente, em cada 10 pessoas um caso pode virar câncer. É uma lesão com potencial para virar um carcinoma", explica o cirurgião de cabeça e pescoço Marco Homero de Sá.
O médico diz que a placa branca não sai com escovação ou com o limpador de língua, por exemplo. "Quem tem mais predisposição são os tabagistas, os etilistas ou pessoas com uma prótese dentária mal posicionada que fica raspando na bochecha ou gengiva. A célula reage e acaba fazendo a leucoplasia", conta Marco Homero de Sá.
"A doença não tem sintomas, a pessoa não sente incômodo e pode arder quando ela se alimenta. Se tiver uma leucoplasia na prega vocal, a pessoa pode ter uma alteração na voz"
Marco Homero de Sá
Como costuma ser assintomática, o médico diz que é fundamental a pessoa realizar o autoexame da boca. "A pessoa deve ficar de frente para o espelho, abrir a boca e olhar a bochecha, a gengiva, jogar a língua para os lados, para cima, além de observar o céu da boca. Se perceber alguma área excessivamente branca deve procurar o médico", diz o cirurgião de cabeça e pescoço.
A dentista oncológica Beatriz Coutens diz que a doença é causada por uma agressão ao tecido celular e um dos principais agentes causadores é o cigarro. "As células vão tentando se reproduzir para reparar a agressão ao tecido e acabam ocasionando essa anormalidade. Cerca de 25% das leucoplasias são pré-cancerígenas, por isso, toda lesão deve ser monitorada".
Beatriz Coutens explica que a maioria dos casos não apresenta sintomas e sim sinais, como as placas esbranquiçadas. "No caso do Lula, como ele já faz exames periódicos em razão do câncer que teve no passado, provavelmente o diagnóstico dessa leucoplasia ocorreu em um exame de rotina".
TRATAMENTO
Fernanda Mombrini, patologista oral no Núcleo Especializado em Oncologia (Neon), diz que os tipos homogêneo e não homogêneo são as duas variantes clínicas reconhecidas. "A expressão 'não homogêneo' é aplicada tanto para a cor (mistura de branco e vermelho) quanto para a textura. O tipo homogêneo é comumente assintomático, enquanto o tipo não homogêneo pode provocar ardor e sensação de incômodo na garganta, dor ao engolir e fadiga. Esses são sintomas de alerta e que indicam que é preciso uma avaliação com especialista", explica Fernanda Mombrini.
O tratamento da leucoplasia deve ser planejado após a realização da biópsia, que definirá o grau de acometimento da lesão ou até mesmo se já existe um câncer na região.
"Várias modalidades de tratamento têm sido empregadas para as leucoplasias, como a remoção cirúrgica, crioterapia, laser cirúrgico de CO2, terapia fotodinâmica e tratamento farmacológico com retinoides e outros medicamentos. De modo geral, cirurgia é o tratamento mais recomendado para as leucoplasias"
Fernanda Mombrini
Fernanda Mombrini diz que, sempre que possível, as leucoplasias devem ser removidas. "No entanto, em lesões com grau de acometimento leve, a decisão sobre realizar ou não o tratamento pode ser influenciada, principalmente, pelo local de ocorrência e tamanho da lesão". Beatriz Coutens diz que a cirurgia é recomendada, geralmente, quando a lesão se tornar maligna. "Ou se for observado que há um alto potencial para se tornar um câncer", diz.
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