A capixaba Roberta Borges dos Santos, de 22 anos, viralizou com um vídeo no TikTok no último mês, ultrapassando a marca de oito milhões de visualizações na rede que hoje é febre entre os adolescentes. Moradora de Ibiraçu, a jovem, que trabalha como lavadora de carros, expôs na rede social uma condição curiosa e pouco conhecida por muitos: a língua geográfica, cientificamente conhecida como glossite migratória.
Em uma trend, em que o desafio é mostrar a língua com um filtro de imagem, a jovem faz o que é pedido e surpreende os internautas, já que a língua de Roberta apresenta algumas manchas, algo que lembra um mapa geográfico. Veja abaixo:
"Chegou a mais de 1 milhão de visualizações. Foi um vídeo totalmente aleatório que eu quis fazer porque estavam falando que não era pra eu mostrar minha língua com esse efeito do TikTok. Como eu tenho língua geográfica, se eu colocasse o efeito, lógico que ia dar diferença", detalhou.
Segundo a dentista Patrícia da Costa Gomes, em entrevista ao Bom Dia ES, a língua geográfica é uma condição benigna e inofensiva que afeta a superfície da língua. A causa, no entanto é desconhecida.
"Apresenta-se com manchas irregulares na lateral ou superfície da língua. Pode migrar de um lugar para o outro, e por isso ela promove um aspecto semelhante a um mapa geográfico", explica.
Como muitos internautas não sabem do que se tratava, logo começaram a aparecer diversos comentários até mesmo preconceituosos sobre a situação. Os mais comuns eram relacionados à jovem não escovar língua. Roberta, que vive com a condição desde os 2 meses de vida, acabou pegando um dos comentários e fez outro vídeo.
A resposta irônica da jovem viralizou de novo. "Muita gente se sentiu à vontade para comentar. Vieram no meu direct no Instagram para falar sobre, gente que nem sabia que tinha e descobriu a partir do meu vídeo. Me surpreendeu e fiquei bem feliz", disse.
À reportagem de HZ, Roberta conta que não esperava tamanha repercussão e que nunca sofreu preconceito antes porque sempre soube explicar o que se tratava aquilo em sua língua. Mas dúvidas e perguntas sempre apareceram em sua vida. Ela lembra de quando um menino que estava interessado nela foi perguntar à sua amiga o que era aquilo na língua.
"Não me lembro de ter sofrido nenhum tipo de preconceito porque eu sempre soube explicar o que era. Me lembro de uma vez específica em que um menino queria ficar comigo e pediu pra uma amiga me perguntar o que tinha na minha língua e se era contagioso"
Roberta Borges
Ainda adolescente, Roberta levou a situação com o rapaz na esportiva e explicou do que se tratava. A ficada acabou nem rolando, mas ficou a lembrança de que a curiosidade existe, sim. O vídeo da jovem, segundo ela, começou a viralizar no dia em que ela postou.
Roberta ainda diz que o assunto é muito inexplorado e que, como a língua geográfica é uma condição que não é classificada como doença, acaba sendo um assunto em que as pessoas não se preocupam muito. 'Não tem muito estudo sobre e nem muita divulgação. Para muitas pessoas, acaba com a autoestima. Estou aberta para falar sobre", concluiu.
É CONTAGIOSO?
A causa exata da língua geográfica, cujo nome científico é glossite migratória, não é conhecida, mas de acordo com a National Organization for Rare Diseases (NORD), a aparência de mapa que a língua adquire é resultado de uma inflamação.
Normalmente, a língua é coberta com uma camada de pequenas protuberâncias chamadas papilas, mas se por alguma razão algumas dessas protuberâncias semelhantes a dedos desaparecem, as áreas da língua ficarão lisas e vermelhas, com bordas levemente elevadas.
Segundo a dentista Patrícia da Costa Gomes, a condição não é contagiosa, e a pessoa costuma identificar por conta das manchas que podem aparecer, sem provocar nenhum tipo de dano. Quando apresenta algum desconforto, deve receber uma atenção maior.
"É importante evidenciar que a língua geográfica é inofensiva, mas sempre prestar atenção se tiver lesão na língua. Se apresentar sintomas, evitar alimentos ácidos ou picantes, e comidas muito salgadas", relatou a especialista ao Bom Dia ES.
Roberta Borges conta que tem língua geográfica desde os dois meses de idade. Crédito: Arquivo pessoal
TEM DOR?
O Centro de Informações Genéticas e de Doenças Raras do National Institutes of Health afirma que cerca de 5% das pessoas com língua geográfica sentem-se incomodadas com dor ou sensibilidade, principalmente quando comem alimentos condimentados ou ácidos.
Se você sentir que sua língua está dolorida, fica facilmente irritada por certos alimentos e bebidas ou está muito inchada (interferindo na alimentação, fala ou deglutição), consulte o dentista para ter um diagnóstico.
Nos casos em que houver dor, o médico ou dentista pode prescrever o uso de medicamentos anti-inflamatórios para ajudar a aliviar o desconforto. Para problemas mais leves de ardência ou sensibilidade, evitar alimentos condimentados e bebidas alcoólicas até que o episódio passe pode ser a única medida necessária, afirma o National Institutes of Health.
A higiene bucal rigorosa é sempre recomendada, mas preste atenção especial à saúde da sua boca se apresentar língua geográfica. Escove os dentes e a língua duas vezes ao dia e não se esqueça de usar o fio dental diariamente. Você também pode fazer bochechos com um enxaguante bucal, para proteger a boca contra germes por mais tempo, mesmo depois de comer e beber.
MULHERES SÃO MAIS PROPENSAS
A língua geográfica não pode ser evitada ou curada. A NORD relata que a glossite migratória ocorre em cerca de 3% da população, sendo que as mulheres são mais propensas a essa condição do que os homens. Também afeta os adultos mais jovens com maior frequência. Parece ocorrer em pessoas da mesma família, então pode haver uma relação genética.
Pessoas com língua fissurada, uma condição em que a língua apresenta sulcos profundos e aparência enrugada, também podem ter um risco maior de desenvolver glossite migratória, assim como aquelas que têm deficiência de vitamina B ou doença inflamatória da pele, a psoríase.
Embora existam alguns distúrbios que ocorrem frequentemente junto com a língua geográfica - distúrbios hormonais, estresse emocional, diabetes juvenil, alergias e síndrome de Reiter - não há evidências reais de que eles sejam a causa dessa condição. Manter a boca sempre limpa e ficar longe de alimentos que causam irritação já ajuda a lidar com este e vários problemas bucais.
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