Bebidas industrializadas como refrigerantes são ricas em açúcar ou adoçantes artificiais. Crédito: Shutterstock
O câncer é um termo que abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas que têm em comum o crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos adjacentes ou órgãos a distância.
"É uma doença multifatorial que surge quando acontece alguma modificação que altera a estrutura genética da célula de algum órgão ou tecido do corpo, fazendo com que ela comece a multiplicar-se fora de controle e a originar várias células anormais. Geralmente, essas células continuam crescendo e podem invadir tecidos próximos ou ir para outras partes do corpo", explica a oncologista clínica Carla Loss.
A doença pode ocorrer em todas as idades, mas torna-se mais comum com o envelhecimento, em especial, depois dos 65 anos. "A ciência ainda não sabe exatamente como e porque isso ocorre, embora o aparecimento do câncer pareça ter relação com o acúmulo de mutações genéticas no organismo ao longo da vida, seja em razão de processos inflamatórios, envelhecimento celular com dificuldade de combater essas mutações ou como consequência de causas ambientais, como o tabagismo, o etilismo, o sedentarismo, o raios UV, o vírus e contato com metais pesados", diz Carla Loss.
Ter algumas atitudes no dia a dia é fundamental para evitar os tumores, como não fumar, se proteger do sol em excesso e manter o peso. Evitar alguns tipos de bebidas está na lista de prevenção. "Além da alimentação, principalmente em relação ao consumo de alimentos ultraprocessados, também precisamos de atenção no consumo de bebidas alcoólicas de qualquer tipo, das com alto teor de açúcares e bebidas muitos quentes", diz a oncologista Juliana Alvarenga.
A ingestão de 'bebidas açucaradas' como refrigerantes, sucos artificiais energéticos e chás adoçados, entre outros, também é potencialmente perigosa. Uma pesquisa publicada pela revista Gut procurou estabelecer a ligação entre a ingestão de bebidas adoçadas na adolescência e idade adulta e o risco de câncer colorretal precoce entre as mulheres. Os pesquisadores avaliaram mais de 94 mil enfermeiras, com idades entre 25 e 42 anos, que foram acompanhadas de 1991 a 2015. O estudo também observou um subgrupo de 41.272 enfermeiras que informaram ter consumido bebidas doces entre 13 e 18 anos. O maior consumo dos produtos com adição de açúcar na idade adulta e na adolescência foi associado a um maior risco de as mulheres desenvolverem tumores de intestino mais precocemente. As chances de um diagnóstico de câncer podem aumentar de forma considerável (de 35% a 40%) para quem bebe mais de 250 ml destes produtos por semana.
"O álcool é apontado em estudos como responsável por cerca de 6% das mortes no mundo inteiro, e ele está envolvido na formação dos tumores de boca, de faringe, de laringe, de esôfago, de estômago, de fígado, de intestino (cólon e reto) e de mama"
Juliana Alvarenga
A médica diz que todos os tipos de bebidas alcoólicas são potencialmente cancerígenas. "Foi observado em alguns estudos que mesmo o fato de beber socialmente pode levar ao aumento do risco de desenvolver certos tipos de tumores. É claro que a quantidade de bebida ingerida influencia muito, principalmente as com maior graduação alcoólica, como os destilados. Mas a dose limite permitida ainda não é algo que está estabelecido na medicina, pois não existe consenso sobre níveis seguros. Para a prevenção de câncer, não há níveis seguros de ingestão", diz Juliana Alvarenga.
CONSUMO DE ÁLCOOL
A oncologista Taynan Nunes Ribeiro, da Rede Meridional, diz que as bebidas industrializadas como refrigerantes, energéticos, sucos de caixinha e em pó, são ricas em açúcar ou adoçantes artificiais. "Além de conter corantes e conservantes que consumidos em excesso podem fazer mal à saúde. Além disso, as bebidas alcóolicas aumentam o risco de diversos tipos de câncer".
Estudos mostram que o consumo de bebidas açucaradas aumenta o risco de câncer em cerca de 10%, porém o risco é dose-dependente, ou seja, quanto maior o consumo, maior o risco, podendo subir para 17% com o consumo de 250 ml por dia. "Os cânceres mais associados são o de pâncreas, de mama e o colorretal. Além disso, a ingestão desse tipo de bebida aumenta a mortalidade por câncer em 6%. Vale lembrar que o consumo excessivo de bebidas açucaradas estão associadas à obesidade e diabetes mellitus tipo 2, que também elevam o risco de câncer", diz Taynan Nunes Ribeiro.
Alguns estudos sugerem ainda que o consumo excessivo de adoçantes artificiais, que estão presentes nos refrigerantes, energéticos e sucos diet, especialmente o ciclamato de sódio, podem aumentar o risco de câncer de bexiga, dentre outros.
A médica conta que o consumo regular de álcool aumenta o risco de diversos tipos de câncer como o de boca, de faringe, de laringe, de esôfago, de estômago, de pâncreas, de fígado, de intestino e de mama. "Para o câncer de cavidade oral, faringe e esôfago o risco é cerca de cinco vezes maior para os etilistas pesados, quando comparado com os não etilistas", conta Taynan Nunes Ribeiro.
"Após o consumo, o álcool é metabolizado em acetaldeído, uma substância que tem a capacidade de causar danos no DNA das células. O acúmulo desses danos pode gerar mutações em genes que propiciam o aparecimento de células malignas que vão originar o câncer"
Taynan Nunes Ribeiro
A médica ressalta que, para uma substância cancerígena aumentar o risco de câncer, depende da quantidade, da frequência e da duração do consumo. "O ideal seria evitar essas bebidas, mas quando não for possível, deve-se consumir em pequena quantidade e com o maior intervalo de tempo possível", diz Taynan Nunes Ribeiro.
Juliana Alvarenga conta que bebidas muito quentes, como chás, chimarrão e café, podem facilitar o desenvolvimento do carcinoma epidermoide de esôfago, o tipo de câncer de esôfago. "Mas não é a bebida em si, mas a alta temperatura que acelera o processo de carcinogênese: a bebida quente causa lesão na mucosa do esôfago. E o que se dá é uma combinação de fatores de risco, com a associação da lesão ao tabagismo e o etilismo. 90% dos pacientes com câncer de esôfago no Brasil são tabagistas e etilistas", finaliza.
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