• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

O fim do ano é o tempo certo para se transformar e afastar a melancolia

Publicado em 25/12/2022 às 08h00

"Não te inquieteis pelo dia de amanhã, posto que o dia de amanhã cuidará de si mesmo".  (Matheus 6:34)

Uma vez, quando eu era criança, sentada no chão do quarto dos meus pais, iluminada pela luz da tv, disse à minha mãe: “Eu tenho 5 anos, mas é claro que eu tenho muito mais, né? (Aquela era uma certeza que eu tinha)

Noutra feita, aos 9 anos, à beira da piscina do play, contei chorando à minha prima Marina uma coisa que eu também sabia: “prima, nessa vida a gente tem essa família, esse pai, essa mãe, esse irmão… Mas isso era só dessa vez mesmo. Na próxima, todo mundo vai ser diferente”.

Existencial… Desde sempre, compreendia que a transcendência (felicidade, paz de espírito, com queira) não era uma questão lógica, nem racional. Mas uma experiência que vivenciamos através da nossa relação com o outro.

Com o outro e com o nosso corpo;

Com o outro e com o nosso tempo;

E sobretudo com o outro que comprova: a natureza da vida é absolutamente transitória.

Talvez venha daí essa minha insistente nota de fundo melancólica… Ao mesmo tempo que desejo as transformações, sinto uma precoce nostalgia dessa vida.

Melancolia, pôr do sol, tristeza, reflexão, lago

Crédito: Shutterstock

Pois bem, fato é que os objetivos "mundanos" sempre me interessaram menos que os objetivos “humanos”… Posto que os símbolos que, de modo geral, eletrificam os homens desacordados, ou capturados pela Matrix, nunca fizeram arder meu coração.

Assim como diria “o último homem” de Nietzsche (piscando o olho): “somos nós que inventamos a felicidade.”

Nisso eu acredito! Falar a verdade, estamos aqui para isso.

De modo que, ao meu ver, “ser grande” ou ter um “bom coração” deveriam ter o mesmo significado, o mesmo peso e a mesma medida. Mas desde que o mundo é mundo, o homem deseja o poder acima da paz de espírito. Vai entender… E assim, não nos ensinaram na escola o valor transformativo da paz, da verdadeira intimidade consigo.

Ora, saber-se passageiro nessa jornada é permitir-se aproveitar cada encontro (com o outro que nos revela à nós mesmos). Seja para o manejo da nossa condição material; seja para construção de um elevado espiritual.

Assim, a consciência de necessidade para um tempo próprio, tempo pra si, tempo para encontrar nosso singular, para praticar o cultivo da vida, para criar, para aprender a se relacionar, é nativa do espírito existencialista – como o meu, vossa cronista.

Infelizmente, contudo, de certo modo somos politicamente incitados à uma forma de melancolia que nos paralisa. Um tipo de melancolia que traz consigo a sensação de que nada pode mudar, que o mundo não vai se transformar, que não tem jeito, que não há nada a ser feito… Gerando progressiva e culturalmente um estado de descontentamento coletivo. O que diga-se de passagem, é bastante propício para aqueles que já detêm alguma forma de poder.

Essa sensação de que a luta é impossível, que nos é proposta através do medo, gera sentimento de desamparo. E assim nos mantém pessimistas, como se estivéssemos eliminados, fora do jogo (da nossa própria vida), incapazes de realizar ou transformar a nós mesmos, nossas realizações e o contexto.

Aproveitando o fim do ano e o espírito de renascimento, repito a mim e a quem possa estar lendo: não se engane pelo pessimismo, pela tristeza ou pela melancolia. Tome posse do seu tempo, do seus relacionamentos, abandone os ídolos e os ideais, desperte para o valor da criação que está em nossas mãos.

Crie, invente seu modo próprio de existir por aqui. Avancemos!

Essa é a hora. Essa agora mesmo. O dia de amanhã cuidará de si mesmo. Assim está escrito.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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