Obesidade: entenda as diferenças entre as canetas emagrecedoras

Ozempic e Wegovy são fabricados com o mesmo princípio ativo, a semaglutida, mas apenas o Wegovy tem autorização para uso contra obesidade

Vitória
Publicado em 05/01/2023 às 17h15
medicamento injetável para obesidade

A droga é aplicada com a ajuda de uma "caneta". Crédito: Shutterstock

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o primeiro medicamento injetável de uso semanal indicado exclusivamente para sobrepeso e obesidade, o Wegovy (semaglutida 2,4mg)O medicamento injetável de uso semanal tem ação semelhante à do Ozempic, mas é o primeiro a ter a autorização para o tratamento do sobrepeso e obesidade no país.

De forma geral, é possível dizer que os dois medicamentos (Wegovy e Ozempic) são "iguais" e ainda produzidos pela mesma farmacêutica, mas eles têm indicação em bula diferente. Além disso o Wegovy pode ser aplicado em doses maiores.

A endocrinologista Priscila Pessanha, da Unimed Vitória, explica que o Wegovy está sendo indicado na bula para obesidade e para pessoas com sobrepeso com comorbidades associadas. "A indicação formal vem de um estudo que fala que a aplicação de 2.4 miligramas por semana, sendo a dose preconizada, que dá resultado para esse tipo de comorbidade. A gente já tem no mercado há algum tempo a semaglutida estudada em outra dose para pacientes diabéticos. Trata-se do Ozempic, que é a semaglutida injetável, com dose de 1 miligrama por semana, e o Rybelsus, que é a semaglutida oral, que a gente vai aumentado a dose gradualmente até 14 miligramas". 

A médica conta que o medicamento é indicado para pacientes com obesidade, com IMC maior ou igual a 30, e para pacientes com sobrepeso (IMC maior ou igual a 27) com comorbidades associadas. "Desde que estejam também associados à mudança de estilo de vida, que inclui a reeducação alimentar e a prática de atividade física", ressalta Priscila Pessanha.

Segundo a médica, os efeitos colaterais não são muito significativos. "Mas, por conta de alguns efeitos colaterais, alguns pacientes não conseguem continuar tomando a medicação. Os mais comuns estão ligados à alteração do trato gastrointestinal, como enjoo, mal-estar. Alguns pacientes podem até ter vômitos na fase de adaptação. Pode também haver constipação intestinal ou diarreia. É preciso que seja aplicada a dose adequada a cada paciente. Pacientes que já tiveram pancreatite têm uma contraindicação absoluta do medicamento, pois o uso pode aumentar a chance de novos episódios de pancreatite", diz Priscila Pessanha.

OZEMPIC

O Ozempic é o tratamento de diabetes tipo 2 ganhou notoriedade nos últimos anos como aliado no emagrecimento de pessoas obesas ou com sobrepeso. "É um medicamento que contém o princípio ativo semaglutida, utilizado para tratar a diabetes 2", diz a endocrinologista Gisele Lorenzoni.

Especialistas ressaltam que a medicação é indicada e usada para o tratamento de obesidade e sobrepeso em pacientes diabéticos. Além de tratar o diabetes tipo 2 e reduzir a produção de insulina no sangue - que é a proposta do medicamento -, ele reduz o esvaziamento gástrico, fazendo com que a digestão fique mais lentificada, promovendo saciedade. "Ele tem uma ação melhor para controlar a glicemia se for associado a dieta e exercícios. E também é utilizado junto a outras medicações para diabetes quando, sozinho, não consegue controlar os níveis glicêmicos", explica Gisele Lorenzoni.

Por causa do 'efeito secativo', o Ozempic passou a ser indicado “off label” (fora da bula) por médicos, apesar de não ter aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nem da empresa que o fabrica, a Novo Nordisk, para ser usado visando o emagrecimento. Porém, a endocrinologista alerta que só vale a pena tomar após criteriosa avaliação individual do paciente. "Só podemos prescrever uma medicação se houver respaldo científico e avaliação criteriosa do paciente".

"É preciso estar atento ao princípio ativo do medicamento – no caso, a semaglutida – e assim, quem for alérgico a esse substância ou outras na fórmula, quem tem problemas no fígado, histórico de carcinoma medular de tireoide, pacientes com diabetes 1 e gestantes não podem usar"

"É preciso estar atento ao princípio ativo do medicamento – no caso, a semaglutida – e assim, quem for alérgico a esse substância ou outras na fórmula, quem tem problemas no fígado, histórico de carcinoma medular de tireoide, pacientes com diabetes 1 e gestantes não podem usar"

Gisele Lorenzoni

CUIDADOS

A endocrinologista Claudia Chang explica que a semaglutida é um análogo do GLP1, hormônio produzido no intestino após a ingesta de alimentos. "Além da ação no pâncreas - estimulando a produção de insulina quando a glicemia está alta -, a droga também atua no centro da fome na região hipotalâmica. Além disso, também há uma redução do esvaziamento do estômago o que leva a uma maior saciedade", diz.

Ela é aplicada com a ajuda de uma "caneta". E a endocrinologista lembra que todas as medicações, sejam ela “on label” ou “off label”, devem ser prescritas somente pelo médico e acompanhadas. O “off label” significa fora da indicação de bula. Na medicina, é comum acontecer de um remédio ser criado para um determinado fim e se descobre depois que ele também teria outra atuação.

Entre os efeitos colaterais mais comuns, estão a náusea, o vômito, a constipação (intestino preso) e a queimação. Outro remédio que também tem sido usado pelas pessoas para emagrecer é Saxenda, este também fabricado pela Novo Nordisk. Claudia Chang explica que ele é o liraglutida, mesma classe do Ozempic. "Mas ao contrário do Ozempic, que a aplicação é semanal, o Saxenda é diário. Ambos são injetáveis. As contra indicações e efeitos colaterais seriam muito semelhantes", diz.

A endocrinologista Priscila Pessanha conta que o Saxenda também é injeção. "A diferença do Saxenda para o Wegovy é que ele tem um princípio ativo chamado liraglutida, que deve ser aplicada de forma diária, e o Wegovy tem um princípio ativo chamado de semaglutida, que pode ser aplicada semanalmente. O saxenda também é injetável e subcutâneo e eles pertencem à mesma classe. Eles também têm o mesmo mecanismo de ação: diminuem a fome, aumentando a saciedade a nível de sistema nervoso central, diminuem o esvaziamento gástrico, ou seja, a gente fica com sensação de plenitude por mais tempo, e diminuem a resistência insulínica e a vontade de comer carboidratos de forma geral". 

A caneta do Saxenda vai até no máximo 3 mg. "A gente também começa com doses menores e vai aumentando progressivamente. É o que chamamos de escalonamento. Nem todos os pacientes têm tolerância à dose máxima e por isso o tratamento deve ser individualizado", diz Priscila Pessanha. Para o uso dos medicamentos é necessário acompanhamento.

EMPRESA NÃO RECOMENDA O USO OFF-LABEL DO OZEMPIC

A empresa Novo Nordisk, que fabrica o Saxenda e o Ozempic, ressalta que não recomenda o uso off-label de nenhum de seus medicamentos. "É importante ressaltar que a companhia não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off label, ou seja, em desacordo com a bula de seus produtos. O Ozempic®, aprovado e comercializado no Brasil para diabetes tipo 2, não possui indicação aprovada pelas agências regulatórias nacionais e internacionais para obesidade", explica a companhia.

A Novo Nordisk esclarece ainda que "atualmente, o único medicamento da companhia disponível no Brasil para o tratamento da obesidade é Saxenda, lançado no país em 2016. Em 2020, Saxenda foi aprovado para prescrição também em adolescentes de 12 a 18 anos, tornando-se o único tratamento para obesidade aprovado para faixa etária no Brasil".

Sobre o Wegovy, a companhia disse que "o preço no Brasil, ainda vai passar pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) para definição de preço. Depois, seguirá os demais trâmites de importação e logística para, somente após isso, chegar às farmácias, o que pode atingir o segundo semestre."

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