Olhos amarelados podem ser sinais de hepatite A e B. Crédito: Shutterstock
As hepatites virais podem não apresentar sintomas durante um período da infecção e passam despercebidas por milhares de pessoas, que convivem com a infecção sem saber. São doenças causadas por vírus, que podem atingir diretamente o fígado, ocasionando inflamações de diferentes níveis. A hepatite viral afeta o fígado e é caracterizada por cinco tipos: A, B, C, D e E. Sendo que o tipo C possui uma taxa de mortalidade comparável à do HIV ou da tuberculose, segundo o Ministério da Saúde.
No Brasil, foram registrados mais de 718 mil casos de hepatites virais entre 2000 e 2021, totalizando cerca de 34 mil casos/ano, segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. A hepatite também é a maior causa de câncer de fígado de acordo com a Sociedade Brasileira de Patologia e a American Cancer Society.
Amanda Takenaka, infectologista na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, destaca que a prevenção da hepatite pode ser feita por meio de vacinação e uso de preservativos durante a relação sexual. “Os tipos mais frequentes de hepatite no país são o A, B e o C. Existem ainda, com menor frequência, o vírus da hepatite D, mais comum na região Norte do país, e o vírus da hepatite E, que é menos frequente no Brasil”, comenta.
Mesmo que em algumas ocasiões a hepatite possa ser silenciosa, a doença possui diversos sinais e cada tipo pode trazer sintomas mais característicos do que outros, de acordo com a especialista. Embora existam cinco tipos diferentes de hepatite viral, eles podem apresentar sintomas semelhantes. Segundo a infectologista, os mais comuns são dores abdominais, perda de apetite, febre e náuseas. No entanto, cada uma possui sintomas mais característicos:
- Hepatite A: o paciente também pode apresentar dores musculares e nas articulações, assim como diarreia, vômito e urina escura ou pele e olhos amarelados.
- Hepatite B: a maioria das pessoas pode não apresentar sintomas, mas além dos mais comuns, algumas pessoas podem ter coceira, olhos amarelados e sensação de cansaço.
- Hepatite C: Algumas pessoas também podem não apresentar sintomas, mas também é possível ter inchaço, líquido no abdômen, sangramento, depressão e perda de peso.
- Hepatite D: podendo ser desenvolvida somente por quem já porta o tipo B, dentre os sintomas mais característicos estão tontura, fezes claras e dor abdominal.
- Hepatite E: com sintomas semelhantes ao tipo A, pode apresentar fadiga, urina escura, pele e olhos amarelados, vômito e dores nas articulações.
TATUAGEM
A infectologista Amanda Takenaka diz que a tatuagem pode ser uma forma de contrair hepatite. O compartilhamento de objetos de higiene pessoal e perfuro cortantes como, alicates de unha, lâminas de barbear, escovas de dente, agulhas, entre outros, podem ser portas de entrada para a hepatite C. "Também é preciso ter atenção à higienização dos produtos em consultórios médicos, odontológicos, manicures e até mesmo estúdios de piercing e tatuagem".
A falta de saneamento básico é outro fator. Quando se trata das hepatites A e E, elas são transmitidas via fecal-oral e, devido a isso, são mais frequentes em locais com condições ruins de saneamento básico. "Por isso, recomenda-se higienizar e cozinhar bem os alimentos, lavar sempre as mãos, manter-se distante de lugares com água contaminada e hidratar-se apenas com água potável", conta Amanda Takenaka.
PREVENÇÃO
A médica Juliete de Fátima Rocha conta que a prevenção das hepatites B, C e D requer atitudes e práticas e seguras, como o uso adequado do preservativo e o não compartilhamento de instrumentos perfurocortantes e objetos de higiene pessoal, como escovas de dente, alicates de unha e lâminas de barbear ou depilar. "Exija sempre materiais esterilizados ou descartáveis em estúdios de tatuagem e piercing, consultórios médicos, odontológicos e manicures". Já as medidas de prevenção para hepatites A e E incluem melhorias no saneamento básico, além de evitar o contato com água contaminada e lavar bem os alimentos antes do consumo".
Há vacina contra as hepatites A e B. "Em relação à hepatite B, temos a imunoprofilaxia com imunoglobulina hiperimune (para casos indicados). A testagem para hepatite B das mulheres grávidas ou com intenção de engravidar também é fundamental para prevenir a transmissão da mãe para o bebê", diz Juliete de Fátima Rocha.
Para o diagnóstico, é comum a realização de testes rápidos para a obtenção de resultados, mas, segundo o hepatologista, só essa testagem não é suficiente. Em geral, a doença é diagnosticada com uma combinação de exames de sangue, de imagem e alguns casos podem ser necessária a biópsia hepática. "Como já foi exposto, os pacientes podem se apresentar com quadro de hepatite aguda (sintomático), como também podem não apresentar sintomas por um longo período. Ou mesmo já ser diagnosticado em uma fase com sequelas no fígado decorrentes da infecção".
A médica explica que se houver suspeita de hepatite viral, exames de sangue são realizados para detectar a presença de um vírus específico da hepatite ou de anticorpos produzidos pelo sistema imunológico para combater esse vírus.
TRATAMENTOS
- Hepatite A: não há nenhum tratamento medicamentoso específico disponível até o momento; assim, o tratamento consiste em cuidados de suporte. Na maioria dos casos, ocorre resolução completa do quadro e não deixa sequelas no fígado.
- Hepatite B: na fase aguda deve ter cuidados de suporte. Na fase crônica, o monitoramento regular de sinais de progressão da doença no fígado; alguns pacientes são tratados com medicamentos antivirais específicos e indicados durante o seguimento com seu médico. Atualmente o tratamento visa a “cura funcional”, onde o vírus da Hepatite B pode persistir em estado latente. Esses pacientes estão potencialmente em risco de reativação se expostos à quimioterapia do câncer ou terapias imunossupressoras (após o transplante, por exemplo).
- Hepatite C: as pessoas devem ser consideradas para tratamento se a infecção se tornar crônica. Nesta fase, existem vários medicamentos disponíveis para tratar a hepatite C crônica da classe conhecida como antivirais de ação direta (DAAs). Os tratamentos atuais geralmente envolvem de 8 a 12 semanas de terapia oral (pílulas) e curam mais de 90% das pessoas com poucos efeitos colaterais.
- Hepatite E: também não existe medicação específica para o tratamento. Geralmente a infecção é autolimitada e com eliminação espontânea do vírus, alcançando a cura sem deixar sequelas no fígado. Alguns casos podem gerar infecção crônica.
- Hepatite D: é mais rara, a indicação do tratamento medicamentoso vai depender da ausência de contraindicações à medicação usada e conforme indicação médica.
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