O Ozempic se popularizou nos últimos tempos após estudos e relatos de usuários associarem seu o uso à perda de peso significativa. Crédito: Shutterstock
O Ozempic, droga aprovada para o tratamento do diabetes tipo 2, se popularizou nos últimos tempos após estudos e relatos de usuários associarem seu o uso à perda de peso significativa. O princípio ativo do Ozempic é a semaglutida, uma forma sintética do hormônio GLP-1, que promove a saciedade. Por conta deste mecanismo, ele ajuda a emagrecer.
A endocrinologista Flávia Tessarolo explica que a indicação em bula do Ozempic é o controle do diabetes mellitus tipo 2, em doses de até 1 mg por semana. "Ele vem sendo utilizado 'off label', ou seja, sem indicação em bula, para tratamento da obesidade, porque os estudos com a droga continuaram. Eles demonstraram benefício e segurança da semaglutida para tratamento de sobrepeso e obesidade, em doses até maiores que a dose do Ozempic. Assim, temos o respaldo dos estudos científicos", diz a médica.
A médica conta que a medicação atua no pâncreas, melhorando a função das células Beta, que são as produtoras de insulina, e reduzindo a secreção de glucagon, que é um hormônio que aumenta a glicose, o açúcar do sangue. "Essa ação ocorre em resposta a uma alimentação, quando a glicose está elevada, controlando assim os níveis de glicose. Atua também no hipotálamo, que é o centro regulador do apetite e saciedade, reduzindo o apetite e a preferência por alimentos gordurosos. Além disso, tem também uma ação direta no estômago, deixando o esvaziamento desse órgão mais lento, ou seja, estômago cheio mais tempo", explica Flávia Tessarolo .
A endocrinologista diz que os efeitos colaterais mais graves, que são mais raros, incluem pancreatite e reações alérgica graves, como reações anafiláticas.
"É um medicamento anti-diabético, usado 'off label' como medicamento anti-obesidade. Nos dois casos, a indicação de uso deverá ser feita pelo médico, após avaliação clínica das indicações, padrão alimentar e descartando as contra indicações. Tomar por conta própria é o mesmo que uma pessoa que tem a pressão normal, tomar por conta própria um anti-hipertensivo. Vai ter problema"
Flávia Tessarolo
LIMITAÇÕES DE USO
A endocrinologista Amanda Araujo, da clínica Giane Giro, conta que entre os efeitos colaterais da droga, o mais comum é a náusea. "Outros que podem estar presentes são diarreia ou constipação intestinal; algumas vezes, a piora de eructações e dos sintomas da doença do refluxo gastroesofágico. Colelitíase (pedra na vesícula), também é uma situação que pode ocorrer nas pessoas em uso da semaglutida, mas muito mais associada a perda rápida de peso do que a um efeito da droga".
A médica diz que a semaglutida é uma das medicações mais seguras do ponto de vista neuropsiquiátrico, com pouquíssima interação com as medicações de sistema nervoso central. "Além disso, é muito segura e, inclusive, uma ótima opção a ser usada em pacientes com risco cardiovascular elevado, hipertensos e diabéticos", diz Amanda Araujo.
Apesar disso, a medicação não deixa de ter suas limitações de uso, como em pessoas muito intolerantes ao medicamento, gerando prejuízo na qualidade de vida. "Além disso, é um medicamento contraindicado para uso em gestantes e lactantes, não deve ser usado em pessoas com história de carcinoma medular de tireoide e deve ser avaliado com cautela em pacientes com história prévia de pancreatite", ressalta Amanda Araújo.
"Por ser uma medicação que inibe a fome do paciente, muitas pessoas acabam reduzindo substancialmente a ingestão alimentar. Quando isso é feito de forma não orientada, pode acarretar uma deficiência importante de micro e macronutrientes. Inclusive, é muito importante a orientação da quantidade correta de proteínas ingeridas, pois, na perda de peso, além da perda de gordura, se não houver uma ingestão adequada de proteínas, há também perda de massa magra"
Amanda Araujo
Com o corte do apetite, pode ocorrer das pessoas se esquecerem de se alimentar, ou fazerem escolhas pouco nutritivas, que podem causar problemas de saúde. Flávia Tessarolo explica que o objetivo do tratamento não é ficar totalmente sem fome. "A fome é um sinal fisiológico do nosso corpo, para podermos suprir nossas necessidades energéticas e nutricionais. Para que a pessoa não se esqueça de comer devido a total falta de apetite, existe a titulação de dose, que deve ser individualizada, além de toda orientação com relação à hidratação, ingesta adequada de proteínas, vegetais, carboidratos, e ordem dos alimentos ingeridos em cada refeição", conclui.
EMPRESA NÃO RECOMENDA O USO OFF-LABEL DO OZEMPIC
A empresa Novo Nordisk, que fabrica o Saxenda e o Ozempic, ressalta que não recomenda o uso off-label de nenhum de seus medicamentos. "É importante ressaltar que a companhia não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off label, ou seja, em desacordo com a bula de seus produtos. O Ozempic, aprovado e comercializado no Brasil para diabetes tipo 2 e cujo princípio ativo é o mesmo do Wegovy ™, ainda em fase de aprovação pela ANVISA (semaglutida), não possui indicação aprovada pelas agências regulatórias nacionais e internacionais para obesidade", explica a companhia.
A Novo Nordisk esclarece ainda que "atualmente, o único medicamento da companhia disponível no Brasil para o tratamento da obesidade é Saxenda, lançado no país em 2016. Em 2020, Saxenda foi aprovado para prescrição também em adolescentes de 12 a 18 anos, tornando-se o único tratamento para obesidade aprovado para faixa etária no Brasil".
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