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Paulinha Abelha teve fígado lesionado por emagrecedores; entenda os perigos

A cantora morreu aos 43 anos.  O exame toxicológico deu positivo para anfetaminas e barbitúricos. Também foi encontrada uma receita feita por nutróloga com fórmulas que ajudam a emagrecer

Publicado em 10 de março de 2022 às 11:49

Corpo de Paulinha Abelha, do Calcinha Preta, é velado em Aracaju
O marido de Paulinha Abelha revelou que a esposa fazia uso de remédios para emagrecer. Crédito: Reprodução/Instagram/@PaulinhaAbelha

A morte da ex-vocalista da banda Calcinha Preta, Paulinha Abelha, aos 43 anos, trouxe de volta a discussão sobre os perigos do consumo das substâncias para emagrecer. O laudo da biópsia apontou para uma lesão hepática aguda com necrose. O fígado da cantora estava fortemente debilitado, com áreas mortas. Isso pode ter levado ao quadro grave que terminou com a morte da artista.

Um exame toxológico apontou para a presença de anfetaminas, substâncias que agem no cérebro aumentando estado de alerta e que diminuem o apetite, e barbitúricos, droga usada como sedativo. Além disso, foi encontrada uma receita feita por sua nutróloga com sete medicamentos ou fórmulas que ajudam a emagrecer.

ANFETAMINAS

O fígado exerce funções vitais no nosso organismo. Primeiramente, ele produz a bile, um adstringente natural das gorduras, essencial para a correta digestão e absorção dos lipídeos no nosso organismo. Secundariamente, o fígado armazena a glicose absorvida pelos alimentos na forma de glicogênio, servindo como um tanque de combustível quando necessitamos de energia.

É no fígado que se produz as principais proteínas do nosso corpo, como a albumina, que leva os hormônios, pigmentos e drogas para todo o corpo. Produz também as proteínas da coagulação, responsável por estancar os sangramentos em casos de cortes ou hemorragias. Mas a função mais conhecida por todos é a sua capacidade de filtrar as toxinas e drogas ingeridas, servindo como um verdadeiro filtro contra todas as impureza e microrganismos como as bactérias, vírus e fungos.

O gastroenterologista Henrique Perobelli, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica que a hepatite fulminante é uma síndrome grave de necrose maciça do fígado, levando a sua atrofia aguda, geralmente causada por um quadro de hepatite viral, toxinas ou fármacos (remédios).

"Neste momento o fígado perde todas as suas funções e se torna incapaz de filtrar o sangue, especialmente a amônia, uma substância derivada da dieta, especialmente proteína animal. Esta amônia, não depurada, chega ao cérebro pela corrente sanguínea e pode levar a confusão mental, sonolência, crises convulsivas, coma e morte. A insuficiência hepática causada pela hepatite fulminante pode levar a um quadro de coagulopatia, causando uma doença chamada coagulação intravascular disseminada e insuficiência renal", diz. 

No caso da cantora, o marido dela revelou que a esposa usava remédios para emagrecer. Além disso, o exame toxicológico da cantora indicou a presença de anfetaminas em seu organismo. O resultado de uma biópsia indicou lesão hepática aguda com inflamação e morte das células que formam o fígado, o que poderia ter sido causado pelo uso de medicamentos para emagrecer.

O médico Henrique Perobelli explica que as anfetaminas são drogas sintéticas que aumentam os níveis de noradrenalina, dopamina e serotonina. Geram no organismo uma sensação de euforia, agitação, alerta e de bem-estar. 

SUBSTÂNCIAS TÓXICAS

Ainda no painel toxicológico, entre as 16 substâncias encontradas no corpo da cantora, os barbitúricos estava entre as listadas. A gastroenterologista Alzimara Hemerly de Almeida Freitas, da Unimed Sul Capixaba, conta que os barbitúricos são drogas que agem no sistema nervoso central, causando depressão do mesmo, sendo metabolizados no fígado.

"O uso crônico pode induzir o aceleramento do metabolismo de outros medicamentos (anticoncepcional, anticoagulante, corticoide, etc.) e causar dependência química. A intoxicação leve pode causar tontura, vertigens, labilidade emocional e, nos casos de intoxicação mais intensa, pode causar depressão respiratória e choque e edema pulmonar", ressalta.

Os exames médicos de Paulinha Abelha também mostraram que o receituário assinado por uma médica nutróloga indicava um conjunto com 7 medicamentos ou fórmulas. Ao todo, eram 18 substâncias com o foco de inibir a absorção de carboidratos, gordura, atuar no humor, no sono e apoiar nos treinos físicos para ganhar massa muscular.

A médica  Alzimara Hemerly explica que essas fórmulas contendo várias substâncias ao mesmo tempo podem causar dano hepático por vários mecanismos, tanto pela interação entre as drogas quanto pela composição química da medicação, que pode ser hepatotóxica diretamente.

"Há um mito de que, por serem naturais, os chás de emagrecimento não fazem mal. É um grande erro. Cada vez mais, vemos aumentar a incidência de alteração da função hepática relacionada a essa prática.  As lesões causadas no fígado podem ser desde leves alterações das enzimas hepáticas até hepatite crônica, hepatite aguda fulminante e cirrose"

ALERTA

Com o desfecho da história, muita gente ficou em dúvida se é possível descobrir se uma substância é tóxica para o fígado ou outros órgãos? É sim. 

O gastroenterologista Henrique Perobelli explica que  cabe ao médico saber qual a dosagem ideal e qual o nível sérico tóxico das substâncias que prescreve. "O paracetamol, analgésico amplamente utilizado no Brasil, tem a sua dose máxima ao redor de 3g por dia. As drogas que produzem aumentos significativos das enzimas envolvidas na biotransformação de drogas no ser humano incluem os barbitúricos, hidrocarbonetos da fumaça de cigarro, carbamazepina, ingestão crônica e excessiva de etanol e rifampicina", diz. 

O médico ressalta ainda a importância da população ter a consciência de não se medicar por conta própria ou adquirir medicamentos em site. "A automedicação deve ser fortemente desestimulada e deve-se evitar a todo custo a polifarmácia. Não se pode tomar um remédio para dormir e outro para acordar. Um remédio para emagrecer e outros para fortalecer seus músculos. Este antagonismo e dicotomia devem ser combatidos a todo custo. O uso indiscriminado de medicamento está associado ao aumento do risco e da gravidade das reações adversas e podem precipitar diversas interações medicamentosas e reações adversas tóxicas e por vezes fatais", alerta Henrique Perobelli. 

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