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Publicado em 13 de setembro de 2022 às 19:41
"Aqueles que me têm muito amor/ Não sabem o que sinto e o que sou…/ Não sabem que passou, um dia, a dor"/ Em tom de elegia sobre a morte, Florbela Espanca descreve, em "Sem Remédio", o suplício de sobreviver em meio à depressão. Em 1930, aos 36 anos, a poeta portuguesa tirou a própria vida.
Poesias à parte, o suicídio - que possuiu uma relação direta com a necessidade de manutenção da saúde mental - é uma triste realidade que atinge o mundo moderno. Segundo última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019 foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo.
Precisa de ajuda?
Acione o Centro de Valorização da Vida (CVV) no telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br
No Brasil, os números não são menos alarmantes. Registros indicam 14 mil casos por ano, ou seja, em média, 38 pessoas por dia tiram a própria vida e o autocídio mata um brasileiro a cada 45 minutos. Os números, por conta da pandemia da Covid-19 e do isolamento social, que ressaltou a depressão de viver afastado de entes queridos, podem ser muito maiores que os divulgados.
Essa triste matemática ressalta a importância de debatermos a prevenção do suicídio, especialmente com o Setembro Amarelo, que, em 2022, traz o lema "A Vida é a Melhor Escolha!".
Em conversa com "HZ", a psicóloga Andréia Ferreira Araújo, voluntária no Centro de Valorização da Vida (CVV) e atuante há 10 anos em situações de urgências ou crises de saúde mental, defende ações como o Setembro Amarelo, especialmente por abrirmos uma porta para debater a prevenção do suicídio.
"Essa luta traz como foco o assunto 'Conhecer para Prevenir'. Durante muito tempo na sociedade, falar sobre suicídio sempre foi um tabu. E justamente por não falar, muitas vidas foram perdidas", acentua.
É preciso encarar o suicídio como um problema de saúde pública, com impactos danosos à sociedade. Segundo dados da OMS, todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que com HIV, malária ou câncer de mama, ou mesmo guerras e homicídios.
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o autocídio foi a quarta causa-morte, depois de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Um fenômeno que não vê origem, sexo, cultura, classe social e idade.
No Brasil, ainda conforme a pesquisa de 2019, 12,6% por cada 100 mil homens - em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres -, morrem devido ao suicídio. As taxas entre os homens são geralmente mais altas em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa-média renda (7,1% por 100 mil).
Mundialmente, os índices de suicídio estão diminuindo, mas, na Região das Américas, em que se encaixa o Brasil, as taxas aumentaram 17% no mesmo período, entre 2000 e 2019. Segundo Andréia, o Brasil ocupa o 8º lugar no ranking mundial em suicídios.
"Para combater este estigma, é necessária uma abordagem educativa, aumentando o conhecimento da sociedade sobre o tema. Precisamos falar sobre a gravidade do problema e fortalecer a empatia, em especial acolher pessoas que tentaram o suicídio e seus familiares, a fim de evitar também o efeito de contágio", assinala a psicóloga.
Abaixo, acompanhe trechos da conversa com Andréia Ferreira Araújo:
A luta pelo suicídio traz como foco principal "Conhecer para Prevenir". Isso porque durante muito tempo na sociedade falar sobre suicídio sempre foi um tabu. E justamente por não falar, muitas vidas foram perdidas. Por esse motivo, é importante que saibamos identificar quando uma pessoa está passando por um sofrimento psíquico relevante, que possa estar prestes a cometer suicídio. Quando falamos em suicídio, pensamos em fatores de risco (que precisam ser eliminados) e de proteção, sendo a conscientização da sociedade um mecanismo potente de proteção.
O Brasil ocupa o 8º lugar no ranking mundial, tornando o suicídio um problema grave de saúde pública, o que pode ter sido agravado durante a pandemia da Covid-19. Para combater este estigma, é necessária uma abordagem educativa, aumentando o conhecimento sobre o tema. Por isso, a importância do Setembro Amarelo: precisamos falar sobre a gravidade do problema e fortalecer a empatia, em especial acolher pessoas que tentaram suicídio e seus familiares, a fim de evitar também o efeito de contágio.
A depressão é o transtorno mental mais associado ao suicídio. Esse transtorno é caracterizado por comprometimentos cognitivos, emocionais e comportamentais. A intensidade e a persistência dos sintomas podem contribuir para o risco de suicídio. Nesse sentido, o diagnóstico precoce pode ser um fator protetivo. É importante que familiares e pessoas que convivam com depressivos percebam as mudanças comportamentais, como negatividade extrema e desesperança.
Dados da OMS mostram que as taxas variam entre países, regiões e entre homens e mulheres. No Brasil, existem múltiplos fatores que envolvem o suicídio. Mais de 70% são do gênero masculinos. Isso pode ser explicado pelo fato de que os homens buscam menos ajuda do que as mulheres. Acredita-se que estar casado pode ser fator de proteção, uma vez que aumenta a rede de suporte social. A tentativa de suicídio entre adolescentes que se mutilam é um dos principais motivos de buscas de atendimentos psiquiátricos. Entre os jovens, o suicídio aumentou em todo o mundo, incluindo no Brasil, representando a terceira principal causa de morte nessa faixa etária no país. Outro dado relevante, é que o número de suicídio entre a população LGBTQIA + é de duas a quatro vezes maior do que aqueles identificados entre jovens héteros. De acordo com dados do Ministério da Saúde de 2019, 96,8% das pessoas que se suicidam, tem transtorno mental.
É importante que a pessoa fale, que peça ajuda, apoio dos familiares e converse com alguém. Aqui no Brasil, temos o Centro de Valorização da Vida (CVV), um instrumento muito valioso, uma de rede de suporte importante que está 24 horas disponíveis para quem precisa de ajuda. Basta ligar 188.
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