Publicado em 24 de outubro de 2021 às 16:24
Muitas mulheres têm como sonho de consumo turbinar os seios com próteses de silicone. A vontade de ter seios fartos leva milhares de jovens e adultas para a sala de cirurgia, principalmente após a amamentação. Mas este desejo pode virar um pesadelo. A Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants (ASIA) ficou em evidência nos últimos meses por uma associação com implantes de silicone. Isso tem preocupado mulheres, levando algumas a retirar as próteses. Mas será que o silicone pode mesmo resultar em uma doença autoimune?
Uma pesquisa feita pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), divulgada em dezembro de 2019, mostra que foram registradas mais de 1 milhão 498 mil cirurgias plásticas estéticas em nosso país e o implante de silicone está em 1ª lugar. A otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez também teve este sonho após amamentar as duas filhas, mas por algum motivo ela procrastinou a ideia. Agora, 18 anos depois, ela agradece por não ter realizado a cirurgia.
“Conhecer o profundo arrependimento de mulheres que sofreram com vários sintomas após a colocação do implante de silicone mexeu muito comigo. Eu me coloquei no lugar delas. Como médica de visão integrativa, optei por divulgar alguns riscos menos comentados. Não sou contra a cirurgia; sou a favor da conscientização dos riscos para que a decisão de cada mulher seja mais embasada”, diz Tanit.
Sanchez afirma que é necessário que as mulheres estejam atentas para todos os prós e os contras da cirurgia de implante de silicone, pois o sistema imunológico é a frente de batalha do corpo contra invasores. Ele é diferente para cada pessoa e, infelizmente, em algumas mulheres ele é menos preciso, por isso elas desenvolvem doenças autoimunes.
O implante de silicone é visto pelo corpo como um invasor. O sistema imunológico tenta expulsá-lo, mas não consegue porque ele é grande e chegou para ficar. Então, esta frente de batalha produz uma capa protetora ao redor dele para isolá-lo do restante do corpo.
A questão é que essa capa deveria ser suficiente para tranquilizar o sistema imunológico. Já que o invasor não poderá ser expulso, pelo menos ele está quieto e isolado. Só que isso infelizmente não acontece.
Como qualquer corpo estranho, Tanit salienta que a prótese de silicone pode provocar efeitos colaterais cumulativos, seja porque ela contém neurotoxinas e metais pesados (que são tóxicos para as células e ainda se acumulam em órgãos vitais como cérebro, fígado, rins, ossos e coração) ou porque o sistema imunológico de algumas mulheres luta constantemente contra o silicone. Em lutas constantes, sobram tiros perdidos para células normais do corpo.
Com toda esta batalha no corpo, vários sintomas podem aparecer pouco ou muito tempo após a cicatrização da cirurgia. E eles vão além das mamas e aparecem em momentos tão diferentes que a mulher nem desconfia que eles possam estar relacionados entre si e com o silicone.
São eles: fadiga crônica, névoa cerebral (dificuldade de reunir pensamentos, se concentrar ou lembrar coisas recentes), queda de cabelo, boca seca, dores musculares ou articulares, formigamento, baixa libido, insônia ou sono não reparador e suor noturno (Brawer, 1998, 2017, 2018; Colaris e cols, 2017; Watad e cols, 2018; Borba e cols, 2020). Problemas de ouvido como zumbido, tontura, ouvido tampado ou perda de audição foram o caminho para esse assunto chegar até a Dra. Tanit, com relatos de algumas pacientes.
Muitos ainda não acreditam na toxicidade do silicone, mas basta uma mulher explantar o silicone e se livrar dos sintomas prévios para provar que o problema estava na prótese. Pesquisas mostram que mais de 50% das mulheres que viveram o pesadelo da síndrome ASIA melhoraram dos sintomas após o explante do silicone. Elas finalmente estão podendo voltar a sonhar com uma saúde melhor.
"As próteses de silicone preenchem espaços vazios que nem sempre são de glândulas mamárias, mas sim de autoestima. Sonhar na frente do espelho com uma imagem diferente que nos traga amor e realização pode parecer uma ajuda para a saúde mental, mas pode virar um pesadelo para a saúde física", disse a médica.
Segundo o cirurgião plástico Fernando Amato, a cirurgia de explante, procedimento que retira as próteses de silicone, tem sido muito procurado nos consultórios. Ele afirma que a cirurgia pode ser realizada por questões estéticas ou complicações, o que têm sido mais comumente relatadas pelas pacientes que buscam o explante.
"A doença do silicone e a síndrome ASIA estão cada vez mais ganhando destaque. É verdade que a cirurgia plástica traz muitos benefícios, incluindo a melhora da autoestima, mas não se pode ofuscar os riscos também presentes", afirmou.
O profissional explica que a doença do silicone é um termo genérico, que pode englobar as complicações relacionadas ao implante. Porém, muitos a associam apenas com toxicidade do silicone, que extravasa do implante sem ele estar rompido. Essa situação é chamada de bleeding.
“É importante lembrar que é comum formar, ao redor de qualquer material implantado, uma cápsula. No caso dos implantes mamários essa cápsula pode ficar endurecida, com deformidade visível e até causar dor. Apesar de raro, existe um linfoma relacionado ao implante mamário e, nesse caso, a cirurgia para remoção do implante é a indicação. A prótese deve ser retirada em bloco, ou seja, o implante intacto dentro de sua cápsula”, explica o cirurgião plástico Fernando Amato, que é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
E tudo desaparece após o explante, como é chamada a cirurgia de retirada das próteses. Foi o caso de algumas famosas, como a ex-BBB Amanda Djehdian, 34 anos. O especialista detalha que implantes rompidos podem ter o silicone migrado para os linfonodos da axila, gerando dor, desconforto e até prejudicando a drenagem linfática da mama e dos braços.
Já no caso da síndrome ASIA, o implante de silicone serve como gatilho para desenvolver sintomas semelhantes aos das doenças reumatológicas como dor nas articulações do corpo, cansaço, distúrbios do sono, perda de cabelo, olho e boca secos.
“Para colocar um implante mamário é necessário que o cirurgião seja sincero com a paciente, expondo todos esses riscos, e a paciente precisa ter maturidade para que nessa escolha seja levada em conta os benefícios e os riscos existentes. Por isso, antes da cirurgia, é importante conversar com o médico sobre todas as dúvidas. A confiança entre médico e paciente é fundamental nessa decisão”, orienta Dr. Fernando Amato.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta