O transtorno é caracterizado pela ingestão de substâncias não nutritivas . Crédito: Shutterstock
Você já ouviu falar em Síndrome de Pica? A alotriofagia, também conhecida como transtorno de pica, é caracterizada pela ingestão de substâncias não nutritivas e não alimentares como sabão, papel, tecido, cabelo, unhas ou alimentos não preparados adequadamente. "O nome curioso tem origem com o pássaro de nome científico 'pica-pica' conhecido por comer e coletar indiscriminadamente uma variedade de objetos para saciar sua fome e curiosidade; fazendo-se, portanto, associação com o comportamento alimentar excêntrico deste pássaro", explica a psiquiatra Raíza Alves Pereira, da Holiste Psiquiatria.
A principal característica da síndrome é a ingestão pouco habitual, monótona e repetitiva, geralmente excessiva de itens alimentares particulares ou de substâncias não nutritivas. "Em um estudo recente realizado em população adulta europeia, foi relatado, dentre indivíduos com comportamento alimentar compatível com o picacismo, as substâncias ingeridas com maior frequência incluíam alimentos crus ou não comestíveis, partes/fluidos do corpo (cabelo, cera de ouvido), grama, folhas, papel e substâncias semelhantes à terra. Os principais gatilhos para o consumo foram a curiosidade pelo gosto da substância, tédio e a sensação de redução de tensão interna", diz Raíza Alves Pereira.
Manifestações da doença podem surgir em qualquer período da vida, embora a ocorrência na infância seja mais relatada. Estudos populacionais mostram que cerca de 20 a 30% de crianças entre um e seis anos já praticaram alotriofagia. Raíza Alves Pereira explica que o transtorno pode acontecer em crianças com o desenvolvimento normal em outras áreas, enquanto, em adultos, parece mais provável no contexto de deficiência intelectual ou outros transtornos mentais. "Não é incomum o surgimento dos sintomas na gestação, quando fissura específica pode ocorrer (por exemplo, giz ou gelo)".
CAUSAS
O psiquiatra Alexandre Valverde diz que a pessoa provar algo incomum ou comer pontualmente não configura que ela sofra de alotriofagia. "Temos que observar se comportamento se estende ao longo do tempo. Não é experimentar uma vez um pedacinho de terra para ver como é o gosto que vai caracterizar como uma pessoa que está com síndrome de pica. Tem que ter esse comportamento reiterado".
O transtorno está geralmente associado a situações clínicas de outra ordem. "Pode haver uma situação de desnutrição, mulheres gestantes, crianças ou adultos do espectro autista, que podem ter alteração do comportamento alimentar ligada a isso. Existe uma série de outras condições que podem levar a esse tipo de comportamento", diz Alexandre Valverde.
O psiquiatra conta que o diagnóstico tem que ser suspeitado nas situações de intoxicação. "Às vezes o profissional não observa o comportamento da pessoa pois ela percebe que isso é uma coisa estranha e sabe que as outras pessoas vão tirar sarro. Elas têm esse tipo de comportamento escondido e ele só se diagnostica quando acontece alguma complicação, como um caso de intoxicação ou obstrução intestinal, ou algum outro tipo de envenenamento", conta Alexandre Valverde.
O diagnóstico também pode ser realizado através da observação clínica. "Se um profissional da saúde perceber esse comportamento, ele pode encaminhar o paciente para uma entrevista psiquiátrica. O médico também deve observar se há algum outro problema que está acompanhando essa síndrome", diz Alexandre Valverde.
TRATAMENTO
Não há tratamento estabelecido para a Síndrome de Pica, seja medicamentoso ou nutricional. "Em resumo, os estudos mais atuais sugerem que as intervenções mais bem-sucedidas consistem em combinações de psicoterapia de abordagem comportamental com procedimentos de reforço e restrição dos comportamentos alimentares", conta Raíza Alves Pereira.
A psiquiatra diz que as complicações do transtorno dependem da substância ingerida. Anemia por deficiência de ferro é uma complicação frequente, especialmente em pacientes com geofagia e em gestantes que consomem inadequadamente gelo. "É um fator de risco importante para ingesta tóxica de substâncias. Desnutrição também pode ser uma consequência quando o transtorno não é tratado adequadamente. Complicações graves como sangramento e obstrução gastrointestinal podem ocorrer e necessitar de abordagem cirúrgica ou, mais raramente, levar a desfechos fatais. Ademais, a alotriofagia traz prejuízos em qualidade de vida, devendo também ser levado em conta grande estigmatização a que o quadro pode levar", finaliza Raíza Alves Pereira.
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