TDAH é diagnosticado com base nos hábitos de vida dos pacientes. Crédito: Shutterstock
Durante muito tempo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) foi considerado uma condição que afetava apenas as crianças. No entanto, com o avanço das pesquisas sobre o tema, atualmente já se sabe que também é possível uma pessoa na fase adulta ser diagnosticada com o distúrbio.
Segundo dados da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), cerca de 2 milhões de pessoas possuem TDAH no Brasil, mas muitas delas não sabem. Isso porque, devido à imaturidade do assunto, os sinais do transtorno na fase adulta podem ser facilmente confundidos com outros transtornos.
“O adulto com TDAH é a criança que não foi acompanhada ou devidamente diagnosticada. Quando adulto, devido à urgência e aceleração da vida, a tendência é que o transtorno fique mais evidente e provoque ainda mais limitações ao indivíduo”, diz Andréa Ladislau, psicanalista e pós-graduada em Neuropsicologia
O que é o TDAH?
Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno neurobiológico, o TDAH é um transtorno que causa mudanças na região frontal do cérebro, ou seja, altera a conexão entre o corpo humano e as funções cerebrais desempenhadas por esta área da mente.
“Para definir as causas do TDAH, é preciso fazer uma investigação completa, de forma individualizada. Cada caso é um caso. No entanto, as causas mais comuns estão relacionadas a algumas pequenas alterações na região frontal do cérebro, que controla ou inibe os comportamentos inadequados e amplifica nossa capacidade de prestar atenção, memorizar, ter autocontrole, ser organizado e planejar”, explica a psicanalista.
Tipos de TDAH
Atualmente, existem três tipos de TDAH reconhecidos pela ciência, e cada um deles é caracterizado por um conjunto de comportamentos e sintomas. A psicanalista Andréa Ladislau explica:
- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: o indivíduo pode apresentar dificuldade para se concentrar, ter foco e finalizar tarefas. Essa condição pode afetar o desempenho acadêmico e profissional dos pacientes;
- TDAH hiperativo/impulsivo: neste caso, a pessoa sente a necessidade de se movimentar o tempo todo e costuma ficar inquieta. “Ao estar sentada, a pessoa fica movimentando as pernas a todo segundo, sem controle de suas ações, ou, pelo menos, sem a consciência dessa ação. A impulsividade também é muito frequente, tanto que esse indivíduo tem uma forte tendência a se inquietar e interromper falas, por pura ansiedade”, explica a profissional;
- TDAH misto/combinado: junção da desatenção com a hiperatividade e a impulsividade. Aqui, o paciente apresenta todos os sintomas dos dois tipos de TDAH anteriores ao mesmo tempo.
Sintomas do TDAH em adultos
Conforme a especialista, o conjunto de sintomas do transtorno é extenso e pode variar de pessoa para pessoa. Portanto, nem todos os pacientes com TDAH têm os mesmos sintomas, mas, entre os adultos, os mais comuns são:
- Desatenção;
- Problema de organização e planejamento;
- Procrastinação;
- Déficit de memória;
- Inquietação interna;
- Dificuldade para relaxar;
- Começar várias coisas e parar no meio;
- Dificuldade para gerenciar emoções e tomar decisões;
- Repetir erros frequentemente;
- Resistência à interação.
“Na fase adulta os sintomas ficam mais perceptíveis, até mesmo porque somos seres sociais e, desta forma, estamos nos relacionando a todo momento, o que faz com que atitudes e comportamentos desconexos fiquem mais evidentes aos olhos do outro, gerando os desconfortos. E, se não os tratar, podem se intensificar cada vez mais”, explica Andréa Ladislau.
Diagnóstico em adultos
Apesar de o diagnóstico em adultos ser diferente do realizado com crianças, devido à intensidade dos sintomas, causada pelo diagnóstico tardio, nesta fase, também é importante estar atento aos hábitos que são recorrentes e estão afetando a vida cotidiana. Isso ajuda a identificar o transtorno e evitar que os sintomas se agravem.
“O TDAH não é o fim do mundo. Estando consciente dos pontos fracos, dos pontos fortes, do que é um hábito indesejado, ou mesmo, fora de controle, é possível criar estratégias para minimizar os impactos e seguir uma vida mais saudável. O ponto é reconhecer hábitos, atitudes e comportamentos que o limitam”, declara a psicanalista.
Quanto ao fato de alguns adultos já terem realizado exames quando crianças e não obterem nenhum resultado de TDAH, mas na fase adulta serem diagnosticados com o transtorno, a especialista explica que o fato pode estar relacionado à intensidade do transtorno.
“Cada caso é um caso e precisa ser investigado; porém, a explicação pode estar no fato de que, na infância, os sintomas eram muito leves, ao ponto de serem imperceptíveis ou mesmo não apresentarem limitações que dificultaram o dia a dia do indivíduo”, evidencia Andréa Ladislau, que expõe existir outra possibilidade, a de outras comorbidades terem se sobressaído em relação ao TDAH.
Tratamento para TDAH em adultos
O tratamento para o transtorno é indicado mediante o prévio diagnóstico de um profissional. Este é realizado a partir de uma profunda análise do estilo de vida do paciente, pois existem diversos mecanismos para combater os efeitos da condição e melhorar a adequação dos hábitos. Entre alguns deles, Andréa Ladislau cita:
- Praticar exercícios regularmente;
- Ter uma boa higiene do sono;
- Alimentar-se de forma saudável;
- Criar os próprios espaços para atividades (o que fará com que se sinta seguro e evite dispersões);
- Planejar-se com agendas e listas organizadoras de atividades;
- Trabalhar a memória com jogos específicos que também auxiliam a desenvolver o foco e as habilidades cognitivas;
- Tomar cuidado para não se envolver em várias atividades ao mesmo tempo e sempre concluir o que iniciou.
“A terapia, tanto para os adultos quanto para as crianças, é fundamental, exatamente para identificar quais os déficits são mais recorrentes e definir a conduta de tratamento […]. Se a intensidade e o número de sintomas associados forem mais elevados, o profissional especializado poderá desenvolver, com o paciente, alguns mecanismos de apoio para auxiliar a vencer suas limitações diárias”, diz a especialista.
Consequências da falta de tratamento
Tratar o TDAH é importante para manter o bem-estar do indivíduo e o convívio social, uma vez que boa parte dos sintomas causados pelo transtorno alteram as suas ações e, quando não reconhecidos, geram outros obstáculos. Isso porque a pessoa pode, muitas das vezes, se sentir culpada por não entender as próprias atitudes.
“As consequências do TDAH em idade avançada, quando não tratado, estão associadas aos outros sintomas que a condição pode trazer, como depressão, pânico, fobia social, alterações severas de humor, distúrbios alimentares, perda severa da memória, esquecimentos, entre outros”, conclui.
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