Cerca de um terço tinha frequentado festas sexuais ou saunas no mês anterior à manifestação da doença. Crédito: Shutterstock
O crescimento dos casos da varíola dos macacos em diversos países coloca o mundo em alerta com a doença. Ela é uma parente da varíola, doença erradicada em 1980, mas menos transmissível, que causa sintomas mais leves e é menos mortal.
Um estudo publicado nesta quinta-feira (21) pelo New England Journal of Medicine mostra que 95% dos casos estudados de varíola dos macacos foram transmitidos através de relações sexuais.
A pesquisa foi liderada por cientistas da Universidade Queen Mary, de Londres, que analisaram 528 infecções confirmadas, em 43 locais de 16 países, entre 27 de abril e 24 de junho de 2022.
Segundo o estudo, 98% dos pacientes eram homens gays ou bissexuais, 75% eram brancos e 41% tinham HIV. Com idade média de 38 anos, e o número médio de seus parceiros sexuais nos três meses anteriores à infecção foi de cinco. Cerca de um terço tinha frequentado festas sexuais ou saunas no mês anterior à manifestação da doença.
O estudo mostrou ainda que muitos dos sintomas são semelhantes aos de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e podem levar a erros de diagnóstico."É importante enfatizar que a varíola não é uma infecção sexualmente transmissível no sentido tradicional. Ela pode ser adquirida através de qualquer tipo de contato físico próximo. No entanto, nosso trabalho sugere que a maioria das transmissões até agora está relacionada principalmente à atividade sexual, mas não exclusivamente, entre homens que praticam sexo com homens", explicou o autor do estudo, John Thornhill.
TRANSMISSÃO
Até então, o vírus não tinha sido descrito como uma doença sexualmente transmissível. A infectologista Melissa Fonseca Andrade diz que o vírus pode ser passado durante a relação sexual pela proximidade entre as pessoas envolvidas.
Como as lesões da varíola do macaco se concentram bastante na região genital, acaba que essa relação sexual predispõe a transmissão devido ao contato muito próximo. Além disso, as chances de romper essas lesões na pele são grandes, sem falar nos outros tipos de carícias, como os beijos
Além da transmissão via animal contaminado, a doença também pode ser passada de pessoa para pessoa, através do contato bem próximo e com as lesões de pele. "A transmissão acontece quando a pessoa infectada elimina vírus no ar através de gotículas (da saliva), então necessita de um contato próximo. Quando ela fala, tosse ou espirra, por exemplo, lança essas gotículas que contém o vírus transmissor da doença. Outro jeito é através do contato direto com as lesões que aparecem na pele", explica a médica.
Após passado a fase chamada ataque, que dura 5 dias, começam a aparecer as leões no corpo. "As lesões de pele começam como uma mancha vermelha, viram uma bolha e depois uma casquinha. Primeiro no rosto, uma grande concentração, depois desce pro tronco e os membros inferiores. Essa varíola tem uma localização muito predominante na região genital. É semelhante o herpes e a catapora", conta Melissa Fonseca Andrade.
A doença não se espalha facilmente porque não contamina o ar como uma doença de transmissão aerosol. Melissa Fonseca Andrade diz que também existem relatos de transmissão indireta."Uma pessoa adoentada que toma banho e passa a toalha no corpo por cima das lesões. Essa toalha é considerada contaminada e pode transmitir, mas essa não é a forma mais importante de transmissão".
TRATAMENTO
Não existe um tratamento específico para a doença. "O tratamento é realizado com remédio para dores, para febre, além de uma uma hidratação rigorosa. As formas graves, que podem evoluir para casos de inflamação no cérebro, pneumonia e miocardite, precisam de internação para o vírus ser eliminado", explica a médica.
A vacina da varíola consegue prevenir a maioria dos casos de varíola dos macacos. "Ela pode gerar uma proteção de até 85%", finaliza a infectologista.
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