Zolpidem: entenda os riscos do remédio para dormir sem orientação médica

O uso sem supervisão de um especialista pode ocasionar desde comportamentos imprevisíveis, como compras na internet, traumas e crises convulsivas

Insônia: mulher na cama acordada

O zolpidem pode ser utilizado em casos de insônia de causa aguda e algumas condições de insônia crônica. Crédito: Shutterstock

O zolpidem - remédio controlado, que trata insônia - ganha a fama nas redes sociais. Diversos relatos sobre os efeitos do remédio têm viralizado na internet. Porém, o uso indiscriminado - e sem orientação médica - é um risco à saúde.

Pacientes já relataram até alucinações após tomar a medicação. Em agosto, um jovem contou ter comprado passagens aéreas sob o efeito do fármaco. 

A psiquiatra Aline Sabino, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica que o zolpidem é um medicamento derivado da imidazopiridina, um indutor de sono do grupo dos hipnóticos da nova geração, as chamadas drogas 'z'. "Ele age gerando rápida indução e aumento no tempo total de sono. Esses fármacos foram lançados como uma opção promissora para a substituição de outros benzodiazepínicos, como o clonazepam, porém os efeitos entre eles são semelhantes. Ainda assim, são medicamentos seguros para a prescrição pela classe médica". 

A médica alerta que o uso indiscriminado do remédio também é um perigo. "O descumprimento das recomendações de uso e em especial, o uso prolongado do zolpidem, pode representar um sério risco à saúde. Desde comportamentos imprevisíveis, como compras na internet, troca de mensagens inapropriadas e até fraturas, a traumas ou até crises convulsivas nos casos de interrupção abrupta do medicamento após uso de altas doses por tempo prolongado, estão entre os riscos do uso indiscriminado", conta Aline Sabino. 

A psiquiatra conta que o zolpidem pode ser utilizado em casos de insônia de causa aguda e algumas condições de insônia crônica, redução de ansiedade, sedação e relaxamento muscular central. Para as pessoas com insônia em dias intercalados, quando acontece de três a cinco noites por semana por exemplo, também pode ser útil.

NA CAMA

A pneumologista Jessica Polese, presidente da Associação Brasileira do Sono - Regional Espírito Santo, explica que o medicamento é indicado nos casos de insônia de curta duração. "O indicado é que ele seja usado até seis meses. Depois, a droga deve ser retirada, trocada ou o médico deve avaliar se o paciente pode fazer o uso com interrupções". 

O início de ação do remédio é muito rápido: de 5 a 20 minutos. Por isso, é importante se deitar imediatamente após tomá-lo. "A gente pede que o paciente já esteja pronto para dormir quando tomar a medicação. Às vezes, o início do sono pode acontecer em determinadas situações inapropriadas se o paciente teimar em se manter acordado. A indicação é tomar e já estar na cama. Também vale ressaltar que, quando ele fica sob efeito da medicação, pode ter eventos de sonambulismo", diz a médica. 

A psiquiatra Aline Sabino diz que, por ser um medicamento de absorção rápida e, portanto, quase de ação imediata, ele pode diminuir o nível de vigilância e provocar distorções hipnagógicas, que são experiências senso-perceptivas visuais, táteis e auditivas que ocorrem na transição entre o sono e a vigília. "Isso pode causar confusão no indivíduo e incapacidade de distinção da realidade, com imagens sem significado ou propósito, sensações aterrorizantes ou impactantes. Para evitar que essas manifestações ocorram, é importante que o medicamento seja ingerido em ambiente adequado e imediatamente ao deitar-se".

DEPENDÊNCIA

Se tomado por muito tempo, existe o risco de dependência psicológica e química. "Quando iniciamos a medicação, é porque, anteriormente, falhou os métodos não medicamentosos. É difícil tirar uma medicação sem reintroduzir uma outra que seja realmente eficaz", diz a pneumologista. 

O tratamento por um prazo maior do que quatro semanas consecutivas, sem demais intervenções pertinentes a cada caso, pode aumentar o risco de dependência e provocar insônia de rebote e sintomas residuais diurnos. "Nos casos em que a dependência se instalar, é necessário o acompanhamento médico para o uso de outros medicamentos, como anticonvulsivantes, para uma retirada segura de zolpidem. Além do mais, é necessário investir em psicoterapia e grupos de mútua ajuda, ou até mesmo considerar a possibilidade de uma internação hospitalar dependendo da gravidade do caso", diz Aline Sabino. 

A psiquiatra explica que o impacto de zolpidem sobre a cognição parece mais relacionada a pessoas não-idosas. "Uma revisão de um estudo mostrou que o desempenho na atenção, memória verbal e velocidade psicomotora ficam sensivelmente prejudicados nos usuários de zolpidem testados com idade média de 37 anos. Já nos idosos, o desequilíbrio é uma das consequências do uso de zolpidem, o que pode levar a traumas e fraturas com impacto direto na independência e qualidade de vida desta população", conta Aline Sabino.

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