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Boric se diz convencido de fraude na Venezuela e não reconhece reeleição de Maduro

Boric se diz convencido de fraude na Venezuela e não reconhece reeleição de Maduro

Presidente do Chile contesta a demora na divulgação das atas eleitorais e afirma que objetivo é fraudar o resultado das eleições, acontecidas no dia 28 de julho

Publicado em 7 de agosto de 2024 às 16:13

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do Chile, Gabriel Boric, subiu o tom contra o regime de Nicolás Maduro na Venezuela nesta quarta-feira (7) - um dia depois da saída de Santiago do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que minimizou a crise eleitoral em Caracas ao afirmar que não havia "nada de anormal" no pleito, altamente contestado.

A jornalistas, Boric afirmou não reconhecer a reeleição do ditador, confirmada pelo órgão eleitoral do país na semana passada. E disse não ter dúvidas de que a demora de Caracas para levar a público as atas das eleições presidenciais do último dia 28 tem como objetivo fraudar o pleito.

"Não tenho dúvidas de que o regime de Maduro tentou cometer uma fraude. Do contrário, teriam divulgado as famosas atas. Por que não as divulgaram? Se tivessem vencido, claramente teriam feito isso", afirmou o líder em declaração no palácio de La Moneda.

"Quero ser claro: o Chile não reconhece a vitória autoproclamada de Maduro. Não confiamos, além disso, na independência e na imparcialidade das instituições eleitorais da Venezuela. O que defendemos como país é que não validaremos resultados que não tenham sido verificados por órgãos internacionais independentes do regime", completou.

A publicação das atas eleitorais, que permitem cruzar o total de votos computados e a quantidade de votos que cada candidato recebeu em uma determinada mesa, é parte do rito eleitoral venezuelano. Maduro a princípio creditou a demora para divulgá-las a um suposto ataque hacker ao sistema do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), controlado pelo chavismo.

Quando a contagem de votos enfim chegou ao fim, no entanto, o órgão eleitoral não divulgou as atas. No início desta semana, ele afirmou que entregou os documentos ao TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) para certificação - mas, assim como o CNE, também o TSJ é alinhado ao regime.

Em paralelo a isso, a oposição disponibilizou na internet o que afirma ser 80% do total de atas das eleições, segundo ela coletadas por observadores no dia da eleição. Estas mostram a vitória do candidato opositor, o ex-diplomata Edmundo González, com 67% dos votos contra 30% de Maduro.

Tanto a contagem de votos feita pela coalizão opositora quanto a veracidade das atas divulgadas foram confirmadas por organizações independentes.

As declarações de Boric desta quarta são ainda mais assertivas do que aquelas que ele havia feito logo após a divulgação inicial do resultado do pleito pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral) venezuelano, horas depois do fechamento das urnas, na madrugada do dia 29. Então, ele disse que o regime deveria entender que as porcentagens que ele apontava eram "difíceis de acreditar".

Chama a atenção a data que o chileno escolheu para fazer as declarações, dia seguinte ao fim da visita de Lula a Santiago. Os dois líderes têm adotado posturas distintas em relação à crise venezuelana, e não chegaram a debater o tema em profundidade enquanto o brasileiro estava no país andino.

Boric inclusive se absteve de comentar o tema no período. Já Lula só fez menção direta a ele uma vez em seu discurso oficial, quando disse ter falado com seu homólogo sobre a tentativa de Brasil, Colômbia e México de estabelecer uma solução diplomática para a disputa em Caracas.

Um outro comentário do petista, este sobre as diferenças entre ele e o presidente chileno —também de esquerda— serem extraordinárias, também foi entendido como uma alusão à situação da Venezuela.

As acusações que Boric fez contra Maduro nesta quarta não significam que ele tenha abandonado de todo a cautela. Apesar de negar a legitimidade da reeleição do ditador, ele não reconheceu a vitória de González, candidato da oposição, o que ao menos cinco países da América Latina fizeram, além dos Estados Unidos.

Pelo contrário, Boric defendeu que a comunidade internacional deveria aprender com o passado e "não cometer o mesmo erro que fez com [Juan] Guaidó".

Ele se referia ao que ocorreu depois das penúltimas eleições presidenciais na Venezuela, em 2018. Também aquele pleito havia sido marcado por denúncias de que a reeleição de Maduro era fraudulenta. Dias depois de ele tomar posse, no entanto, o oposicionista Guaidó, à época líder da Assembleia Nacional venezuelana, usou uma brecha na Constituição para se autoproclamar presidente interino do país, sendo rapidamente reconhecido por diversos Estados.

Isso fez com que Caracas tivesse, na teoria, dois presidentes em exercício, um chavista e um da oposição, reconhecidos por diferentes nações.

Oposição denuncia prisão de líder

Lideranças da oposição da Venezuela e organizações de direitos humanos denunciaram na noite desta terça-feira (6) a prisão de María Oropeza, dirigente da campanha eleitoral de Edmundo González no estado de Portuguesa. Enquanto isso, o governo de Nicolás Maduro justifica as mais de 2 mil prisões dos últimos dias, alegando que são “terroristas” que estão atacando prédios públicos, forças policiais e lideranças chavistas.

Segundo as denúncias de opositores, a prisão de María Oropeza teria ocorrido sem decisão judicial. Não há, por enquanto, a confirmação dessa prisão por autoridades do país.

A organização não governamental (ONG) de direitos humanos venezuelana Provea publicou, em uma rede social, o vídeo feito pela María Oropeza do momento da prisão. No vídeo, é possível ver policiais arrombando a porta de sua casa. Após ingressarem, uma agente de segurança solicita o celular da dirigente.

“Na Venezuela continua a política estatal de perseguição e repressão, o que constituiria crimes contra a humanidade. É assim que prendem a líder María Oropeza, sem qualquer ordem”, afirmou a Provea.

O governo da Venezuela tem sido acusado por países e organizações internacionais e de direitos humanos de uso desproporcional da força e de repressão política contra manifestações que questionam o resultado da eleição presidencial do dia 28 de julho. Em nota publicada nesta quarta-feira (7), a Provea e a Federação Internacional pelos Direitos Humanos (FIDH) questionaram as ações policiais dos últimos dias.

Segundo as organizações,“22 pessoas foram assassinadas, 1.062 detidas arbitrariamente e pelo menos 40 desaparecimentos forçados em apenas uma semana, marcando máximos históricos em comparação com outros ciclos de protesto. Esses atos de repressão se devem a padrões sistemáticos de perseguição anteriormente perpetrados pelas autoridades venezuelanas”.

"Terroristas"

Por outro lado, o presidente Nicolás Maduro justificou nessa terça-feira (6) as mais de 2,2 mil prisões realizadas nos últimos dias, dizendo que se tratam de “terroristas” e que há provas em todos esses casos.

“Ela é famosa no bairro dela porque recebeu uma carta de Chávez. Chegaram cinco motorizados ameaçando-a. Dos cinco, capturamos três”, disse o presidente.

Sem citar a prisão de María Oropeza, o presidente venezuelano questionou o que seria feito nos Estados Unidos se uma pessoa defendesse o assassinato do presidente do país.

“Se nos Estados Unidos alguém aparece no WhatsApp, ou em rede social, ameaçando matar o presidente, o que acontece com ele? Cadeira elétrica. ‘Tum tum’ Abra a porta”, afirmou Maduro, imitando o som de uma batida na porta.

“Operação Tun Tun” é o nome da ação policial realizada pelo governo contra pessoas supostamente acusadas de ameaçar simpatizantes do governo.

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