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Melhor aluno da turma, surfista e sem inimigos: quem é o suspeito de matar o CEO Brian Thompson

Melhor aluno da turma, surfista e sem inimigos: quem é o suspeito de matar o CEO Brian Thompson

De uma família rica de Baltimore, Mangione, que sofria com problemas nas costas, foi preso com documento que indicaria motivações do crime.

Publicado em 10 de dezembro de 2024 às 15:44

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Imagem BBC Brasil
Luigi Mangione foi preso na Pensilvânia. (Instagram/Reprodução)

Madeline Halpert e Mike Wendling

Os Estados Unidos estão começando a conhecer o perfil do homem de 26 anos suspeito do assassinato de Brian Thompson, CEO da seguradora de saúde UnitedHealthcare, numa das áreas mais movimentadas de Nova York.

A polícia anunciou na segunda-feira (9/12) que prendeu Luigi Mangione após ele ser reconhecido em um McDonald's em Altoona, na Pensilvânia.

Nascido em Baltimore, Maryland, ele foi encontrado em posse de uma chamada ghost gun (arma fantasma, em tradução livre), uma arma de fogo não rastreável, e um documento manuscrito de três páginas que indicava "motivação e mentalidade", segundo as autoridades.

Quem é Luigi Mangione

Mangione nasceu e foi criado em Maryland e tem ligações com San Francisco, na Califórnia, de acordo com Joseph Kenny, chefe dos detetives de Nova York.

Ele não possui antecedentes criminais em Nova York, e seu último endereço registrado foi em Honolulu, capital do Havaí, segundo a polícia.

Vindo de uma família influente, Mangione frequentou a Gilman School, uma escola particular exclusivamente masculina em Baltimore, conforme informaram representantes da instituição.

Mangione foi nomeado orador da turma, título geralmente concedido ao estudante com o melhor desempenho acadêmico da classe.

Em comunicado, a escola descreveu a situação como "profundamente angustiante".

Um ex-colega de classe, Freddie Leatherbury, disse à agência de notícias Associated Press que Mangione vinha de uma família rica, mesmo para os padrões dessa escola privada. "Sinceramente, ele tinha tudo a seu favor", afirmou Leatherbury.

Falando à CBS News, parceira da BBC nos EUA, outro colega de classe, que pediu para permanecer anônimo, descreveu-se como um amigo próximo de Mangione, dizendo que o suspeito "não tinha inimigos" e era "orador da turma por uma razão".

Imagem BBC Brasil
A polícia divulgou esta foto de identificação de Mangione após ele ter sido acusado de assassinato. (Departamento Penitenciário da Pensilvânia)

Mangione formou-se na Universidade da Pensilvânia, onde obteve bacharelado e mestrado em ciência da computação, de acordo com a instituição. Durante seus estudos, ele fundou um clube de desenvolvimento de games.

Um amigo que frequentou a mesma universidade, pertencente à Ivy League (grupo das universidades de mais prestígio dos EUA), descreveu Mangione como uma pessoa "super normal" e "inteligente".

Mangione trabalhou como engenheiro de dados na TrueCar, um site de venda de carros novos e usados, conforme seus perfis nas redes sociais. Um porta-voz da empresa informou à BBC que ele não estava mais empregado lá desde 2023.

De acordo com seu perfil no LinkedIn, ele também trabalhou anteriormente como estagiário de programação na Firaxis, uma desenvolvedora de videogames.

Além disso, passou um período em uma comunidade de convivência voltada para o surfe no Havaí, chamada Surfbreak.

Sarah Nehemiah, que o conheceu nesse período, contou à CBS que Mangione deixou o local devido a uma lesão nas costas, agravada por atividades como surfe e trilhas.

Imagem BBC Brasil
Perfis nas redes sociais indicam que ele havia se distanciado de familiares e amigos nos últimos meses. (Reprodução/LinkedIn)

O que levou à prisão

O documento manuscrito de três páginas encontrado com Mangione sugeriu um motivo, de acordo com os investigadores. As páginas expressavam "ressentimento" em relação à UnitedHealthcare, disseram as autoridades.

Um investigador disse ao jornal The New York Times que o documento dizia: "Esses parasitas mereciam isso" e "Peço desculpas por qualquer sofrimento e trauma, mas tinha que ser feito".

Os investigadores também encontraram as palavras "negar", "defender" e "destituir" nas cápsulas de munição encontradas no local do assassinato de Thompson, em Nova York.

Críticos das seguradoras de saúde chamam essas palavras de "os três Ds do seguro" — táticas usadas pelas empresas para rejeitar pedidos de pagamento de pacientes.

Amigos disseram à imprensa dos EUA que Mangione passou por uma cirurgia nas costas.

A imagem de fundo de uma conta no X, que se acredita ser de Mangione, mostra um raio-X de uma coluna com implantes.

No entanto, não está claro quanto a experiência pessoal de Mangione com o sistema de saúde influenciou suas opiniões.

Uma pessoa com o nome e a foto dele tinha uma conta no Goodreads, um site de resenhas de livros geradas por usuários, onde leu dois livros sobre dor nas costas em 2022, sendo um deles chamado Crooked: Outwitting the Back Pain Industry (Tortos: Superando a Indústria da Dor nas Costas, em tradução livre).

Ele também deu quatro estrelas para um texto chamado Industrial Society and Its Future (Sociedade Industrial e Seu Futuro), de Theodore Kaczynski — também conhecido como O Manifesto doUnabomber.

O documento critica a vida moderna e afirma que a tecnologia estava levando os americanos a sofrer de uma sensação de alienação e impotência.

A partir de 1978, Kaczynski iniciou uma série de atentados que matou três pessoas e feriu dezenas, até ser preso em 1996.

Em sua resenha, Mangione reconheceu que Kaczynski era um indivíduo violento que matou pessoas inocentes, mas argumentou que o livro não deveria ser descartado como o manifesto de um lunático, mas sim como o trabalho de um revolucionário político extremo.

Seus perfis nas redes sociais também sugerem que ele havia se distanciado de familiares e amigos nos últimos meses.

Em um post no X, de outubro, alguém marcou uma conta que se acredita ser de Mangione e escreveu: "Ei, você está bem? Ninguém tem notícias de você há meses, e aparentemente sua família está procurando por você."

Imagem BBC Brasil
Este é a arma encontrada com Mangione. (Reprodução/CBS News)

O que se sabe sobre a família Mangione

A família de Mangione é conhecida em Baltimore por negócios que incluem clubes de campo, lares de idosos e uma estação de rádio, de acordo com a mídia local.

Os avós paternos do suspeito, Nicholas e Mary Mangione, eram investidores imobiliários e compraram os clubes Turf Valley Country Club em 1978 e o Hayfields Country Club, em Hunt Valley, em 1986.

Pouco depois de o suspeito ser acusado, o legislador estadual republicano Nino Mangione emitiu uma declaração dizendo que a família estava "chocada e devastada". Acredita-se que ele seja primo de Luigi.

"Oferecemos nossas orações à família de Brian Thompson e pedimos que as pessoas orem por todos os envolvidos", dizia a declaração, assinada como "A Família Mangione".

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