Se o mundo muda,
a Educação se
transforma
Temos presenciado, cada vez com maior intensidade, transformações tecnológicas e comportamentais que afetam a todos nós. Independentemente da área de atuação, hoje, no mercado de trabalho, coexistem profissionais que começaram suas trajetórias antes do surgimento dos computadores, aqueles que foram apresentados às telas na infância e outros tantos que não têm a mínima lembrança de como era o mundo nos tempos das fichas de orelhão ou da fita cassete.
Esse caldeirão geracional tem trazido preocupações e oportunidades para dentro das empresas. Se por um lado colocar todos os grupos “na mesma página” exige disponibilidade e investimento, por outro, presenciar as trocas de ponto de vista e o intercâmbio de conhecimentos entre quem tem mais experiência e quem está chegando agora ao mercado de trabalho é inegavelmente enriquecedor.
Mas para que todos saiam ganhando é preciso que as escolas, institutos e faculdades também estejam atentos a essas mudanças comportamentais e geracionais. Foi-se o tempo em que disponibilizar “aulas de informática” ou laboratórios com computadores era o suficiente para garantir que o ensino fosse competitivo e sintonizado com a atualidade. A aceleração da inteligência artificial, as novas ferramentas de realidade virtual e a chegada de estudantes cada vez mais conectados e questionadores às salas de aula provam isso.
Por isso, neste ano, o EducarES propõe uma reflexão mais profunda sobre temas que não podem mais ficar distantes do setor educacional capixaba. As análises de especialistas sobre o impacto das IAs no dia a dia dos jovens, as mudanças previstas no ensino médio para 2025, os desafios de quem está mudando de carreira e até mesmo o combate ao etarismo no ambiente corporativo são alguns dos assuntos visitados pelos nossos repórteres.
Nas páginas a seguir, convidamos você, leitor, a conhecer esses e outros temas. Nós, da Rede Gazeta, entendemos que a Educação é um pilar essencial para o desenvolvimento da nossa sociedade e da formação de cidadãos críticos e capazes de fazer boas escolhas sobre o futuro. O EducarES é parte do nosso compromisso com esse segmento e com o povo capixaba.
Boa leitura.
Marcello Moraes
Diretor-geral da
Rede Gazeta
EXPEDIENTE
GERENTE DO ESTÚDIO GAZETA
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EDITORA DO ESTÚDIO GAZETA
Flávia Martins
COORDENADORA DE CRIAÇÃO
DO ESTÚDIO GAZETA
Rayane Machado
COORDENADOR DE CREATOR
DO ESTÚDIO GAZETA
Philipe Ferreira
EDIÇÃO
Aline Nunes e Eduardo Fachetti
TEXTOS
Eduarda Moro, Jaciele Simoura,
João Barbosa, Kikina Sessa,
Letícia Orlandi, Rachel Martins
e Vinicius Viana
DESIGN E PUBLICAÇÃO DIGITAL
Geraldo Netto
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Divulgação e Freepik
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DIRETOR DE MERCADO
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EDITOR-CHEFE
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Espírito Santo
2024
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Diferentes
gerações
no mercado:
oportunidades
e desafios
A diferença geracional no ambiente corporativo conjuga formas diversas de pensar, interagir e trabalhar
Espírito Santo
2024
Dinâmico e em constante transformação, o mercado de trabalho passa por um cenário inédito: a presença de quatro – às vezes até cinco – gerações convivendo no ambiente corporativo, conjugando diferentes formas de pensar, interagir e trabalhar.
Nesse panorama, profissionais de diferentes idades contribuem com suas características e valores únicos. Por outro lado, essa diversidade também pode gerar conflitos, sendo, portanto, um desafio a ser enfrentado pelas empresas e profissionais.
Na prática, os grupos geracionais presentes hoje nas empresas são classificados da seguinte forma: baby boomers (nascidos entre 1945 e 1964), geração X (nascidos entre 1965 e 1980), geração Y ou millennials (nascidos entre 1981 e 1995) e geração Z (nascidos entre 1995 e 2010).
E já está próxima – ou até já presente – a chegada da mais nova geração no ambiente de trabalho, a Alpha (nascidos a partir de 2010), com menores aprendizes.
Mas o que diferencia cada uma dessas gerações, principalmente no aspecto profissional? De forma geral, os baby boomers já são profissionais mais experientes, sendo que muitos estão nos últimos anos de carreira ou até aposentados.
Para eles, o mercado de trabalho era muito diferente, com menos tecnologia e recursos que acabam ajudando na rotina e produtividade. Esse grupo também costumava ter como objetivo fazer carreira e passar a vida em uma empresa.
A geração seguinte, a X, chegou num momento de desenvolvimento, revolução cultural e crescimento do empreendedorismo. As pessoas dessa geração costumam priorizar o trabalho e a estabilidade na rotina.
Os nascidos a partir dos anos 1980 são da geração Y, também chamados de millennials. Esse grupo foi um dos que mais vivenciaram a transição do mundo analógico para o digital e também conviveu com maior globalização. Isso resultou em profissionais mais acelerados e imediatistas, duas das suas principais características.
A geração à qual pertencem os profissionais mais jovens é a Z. Representa uma era conectada, digitalizada e abastecida com muita informação. Em muitos casos, esses jovens não almejam um emprego “para a vida toda”,
e prezam por qualidade de
vida e flexibilidade no
trabalho. arrow_drop_down
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O mercado, hoje, pode ter a
presença de até cinco gerações
convivendo no ambiente corporativo
As diferentes gerações
Espírito Santo
2024
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Como aproveitar
essa convivência
Diante dessas diferentes características dos profissionais de cada geração, como tirar melhor proveito da convivência? Para a doutora em Psicologia Priscilla de Oliveira Martins da Silva, que é professora do Departamento de Administração da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), as oportunidades em relações intergeracionais no contexto do trabalho são diversas.
“Essas relações permitem diferentes aprendizagens e trocas de experiências entre gerações. Assim, possibilitam trocas de conhecimento que podem ampliar a perspectiva de compreensão da realidade e do mundo. O foco deve ser a valorização das diferenças. Desse modo, é possível considerar que as visões de mundo das diferentes gerações podem ser complementares entre si”, pontua.
Priscilla afirma que os desafios sempre existem quando pessoas diferentes trabalham juntas. Mas a proposta é que as diferenças possam contribuir com o aprendizado entre as gerações.
É assim no dia a dia do time de gestão da qualidade da ArcelorMittal, unidade Tubarão. Integram essa equipe analistas de controle de qualidade de idades variadas. Há 38 anos na empresa, Marcos Pietralonga, de 57 anos, divide tarefas com Letícia Estefânia Krebel Pinho, de 31, que atua desde 2015 na siderúrgica.
Os dois profissionais, de diferentes gerações, já passaram por outras áreas e hoje compartilham o trabalho de padronização dos processos na empresa, cada um levando seus conhecimentos, experiências e habilidades para somar ao time.
Para manter a convivência leve e harmônica no ambiente de trabalho com uma equipe com integrantes de várias gerações, eles destacam que o respeito ao profissional e ao ser humano está sempre na frente.
Na visão de Marcos, uma equipe de trabalho cresce em conjunto quando todos compartilham conhecimento e também as dificuldades. Os colegas contaram o que costumam aprender no dia a dia um com o outro.
“Sou de uma geração que aprendeu muitas coisas trabalhando, principalmente tecnologia. Quando entrei aqui para trabalhar, a ferramenta era a caneta. Era tudo escrito à mão. A geração mais nova chega com a mente mais aberta e mais antenada. Vamos aprendendo muito com eles. A Letícia, por exemplo, tem habilidade para trabalhar com textos e apresentações e facilidade de lidar com pessoas, e isso aprendemos com ela também. E eu levo para ela muito da minha vivência sobre como algumas coisas funcionam”, sublinha Marcos.
Já Letícia pontua que Marcos é um exemplo de escuta e paciência para lidar com situações no ambiente de trabalho. “Quero ter a ampla visão e tranquilidade que ele tem na resolução de qualquer atividade. Ele tem essa tranquilidade porque já passou por isso em momentos anteriores e sabe qual foi o caminho. Estou aprendendo com ele esse caminho”, destaca. arrow_drop_down
Marcos e Letícia: de gerações diferentes, os dois
dividem tarefas e compartilham aprendizados
Sou de uma geração que aprendeu muitas coisas trabalhando, principalmente a tecnologia. Quando entrei aqui para trabalhar, a ferramenta era a caneta. Era tudo escrito à mão.”
Marcos Pietralonga, 57 anos
Analista de Controle de Qualidade da ArcelorMittal Tubarão
Quero ter a ampla visão e tranquilidade que ele (Marcos) tem na resolução de qualquer atividade. Ele tem essa tranquilidade porque já passou por isso em momentos anteriores.”
Letícia Estefânia Krebel Pinho, 31 anos
Analista de controle de qualidade da ArcelorMittal Tubarão
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Muito além
das gerações
Lembrando que, de forma geral, as empresas já são espaços plurais compostos por pessoas que se enquadram em diferentes recortes sociais, culturais, geracionais e econômicos, o diretor regional do Senac Espírito Santo, Richardson Schmittel, destaca que todos os recortes precisam ser considerados para analisar a convivência na teia complexa que é o ambiente organizacional.
Na avaliação dele, fatores como diversidade geracional podem afetar o ambiente de trabalho, contudo, não é tão simples compreender como essas fases diferentes da vida influenciam a convivência no mundo corporativo, pois a diversidade social e cultural ou até mesmo o tempo de empresa, por exemplo, podem ter grande impacto para além da diferença de gerações.
“Diferentes perfis de profissionais convivendo em uma única organização trazem benefícios, mas pontos de atenção precisam ser bem observados pelos gestores. Sob o aspecto positivo, posso citar a inovação organizacional, pois empresas diversas, quando conseguem explorar a diversidade de conhecimentos e experiências das pessoas, tendem a ser organizações mais criativas”, observa. question_answer
A diversidade
social e cultural
também influencia
as relações de
trabalho
Empresas diversas, quando conseguem explorar a diversidade de conhecimentos e experiências das pessoas, tendem a ser organizações mais criativas.”
Richardson Schmittel
Diretor regional do Senac ES
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Jovens estão assumindo cargos de
liderança, em um novo momento do
mercado de trabalho. É importante
aprender a lidar com as diferenças
Meu chefe é mais
novo, e agora?
Características de gerações mais novas começaram a ser
altamente valorizadas para determinadas áreas e funções
Espírito Santo
2024
Em constante transformação nas últimas décadas, o mercado de trabalho vem acolhendo várias gerações num mesmo ambiente e também absorvendo novas profissões.
Enquanto lá atrás era mais comum ter a presença de uma hierarquia clássica, principalmente com pessoas mais velhas no cargo de chefia e pessoas mais jovens nas atividades iniciais, no contexto atual esse desenho já não é mais regra.
Com novas funções sendo necessárias, muitas vezes características de gerações mais novas começaram a ser altamente valorizadas para certas áreas e cargos. Assim, é cada vez mais comum ver jovens já ocupando cargo de chefia, liderando pessoas mais jovens e mais velhas que eles, bem como observar mais frequentemente as transições de carreira, com profissionais recomeçando após anos no mercado, um momento que também traz desafios e oportunidades.
Um exemplo que traduz esta nova fase no mercado é a carreira de Henrique Demoner, que já é supervisor de Processos e Qualidade na Viação Águia Branca, aos 24 anos de idade. Antes de alcançar o cargo de chefia, o engenheiro químico, formado em 2022, começou como estagiário, função na qual permaneceu por sete meses até ser efetivado como analista. O degrau seguinte foi alcançado rapidamente, apenas um ano depois.
Hoje, Henrique tem sob sua responsabilidade uma equipe de seis pessoas, algumas mais jovens, outras mais velhas. Ele conta que, como representante da geração Z, vê pessoas da mesma idade com muita ansiedade para obter resultados, destacar-se e ter reconhecimento no mercado.
Ele mesmo reconhece não ter imaginado que iria chegar ao cargo de chefia de forma tão rápida, mas ressalta que, quando o ambiente tem a presença de várias gerações com boa convivência, há bons resultados.
“Por mais que eu seja da geração que tem a fama de trocar de emprego, sempre gostei da ideia de contribuir para uma empresa. Vejo aqui essa oportunidade de crescer, de me desenvolver e de buscar níveis mais altos”, relata. arrow_drop_down
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Henrique (de óculos) lidera uma equipe de diferentes idades
Por mais que eu seja da geração que tem a fama de trocar de emprego, sempre gostei da ideia de contribuir para uma empresa. Vejo aqui essa oportunidade de crescer, de me desenvolver e de buscar níveis mais altos.”
Henrique Demoner, 24 anos
Supervisor de Processos e Qualidade
na Viação Águia Branca
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Como encarar
as diferenças?
Para a doutora em Psicologia Priscilla de Oliveira Martins da Silva, entre as vantagens de se ter diferentes gerações numa mesma equipe está a possibilidade de somar variadas perspectivas sobre um mesmo problema.
“As diferentes visões de mundo podem contribuir para favorecer processos de inovação e melhorias no processo de trabalho e do clima organizacional. Além disso, a presença de gerações diferentes pode colaborar para um maior senso de justiça, respeito e inclusão no ambiente organizacional”, defende.
Ela acrescenta que os conflitos podem surgir quando uma forma de pensar quer se impor sobre outra. O desafio está na implementação de uma cultura e de processos de gestão que favoreçam a relação intergeracional de forma que as gerações sejam complementares.
Diante das diferenças, o diretor regional do Senac Espírito Santo, Richardson Schmittel, pontua que, apesar de não ser possível generalizar sob o aspecto científico a diferença de perfil geracional, o jovem possui uma imagem de ser mais arrojado e ter menor suscetibilidade a conflitos, enquanto os mais velhos mostram-se um pouco mais conservadores e mais resilientes.
Para lidar com esse cenário, sugere Richardson, é importante estabelecer uma linha de diálogo franco e sincero sobre os temas que geram conflitos.
“O que vemos gerar conflito nas organizações em boa parte é atribuído à falta de transparência nas relações, à dificuldade em aceitar opiniões diversas e até mesmo ao medo de reprovação. Tudo isso precisa ser substituído por um ambiente de segurança psicológica para que as pessoas consigam expressar opinião, sendo elas divergentes ou não.” question_answer
Relação intergeracional: conflitos podem surgir quando
uma forma de pensar quer se impor sobre outra
As diferentes visões de mundo podem contribuir para favorecer processos de inovação, melhorias no processo de trabalho e do clima organizacional.”
Priscilla de Oliveira Martins da Silva
Doutora em Psicologia
e professora da Ufes
Espírito Santo
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O que esperar da
GenZ no mercado
de trabalho
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Geração Z
demonstra maior
habilidade para
trabalhar em
equipes e lidar
com pessoas
Espírito Santo
2024
Nascidos na era digital e imersos em uma constante troca de informações, os jovens profissionais da geração Z, a GenZ, estão redefinindo as expectativas de carreira e valorizando a flexibilidade, a diversidade e o propósito nas organizações, que chegam a ter profissionais de até cinco gerações – com características diferentes – trabalhando juntos. Mas o que esperar da geração Z no mercado?
Para a doutora em Psicologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Priscilla de Oliveira Martins da Silva, os mais jovens podem contribuir com as organizações de diversas formas. Embora não tenham experiências, observa, eles podem desenvolver determinados comportamentos esperados hoje pelo mercado de trabalho.
“É esperada (dos jovens) a autonomia, no sentido de ter capacidade para decidir e solucionar problemas. Nesse caso, a iniciativa, a proatividade e a curiosidade são bem-vindas.”
Outro aspecto pontuado pela professora é a vontade permanente de aprender da GenZ. “Os jovens, muitas vezes, têm pouca experiência. Dessa forma, o interesse pelo aprendizado e a curiosidade são comportamentos relevantes. Facilidade para se adaptar a mudanças e resiliência para superar problemas e adversidades são também características consideradas importantes no mercado de trabalho”, acrescenta.
Além disso, essa geração demonstra maior habilidade para trabalhar em equipes e lidar com pessoas. Neste sentido, Priscilla diz que a capacidade de ter empatia e de compreender de forma adequada as demandas e necessidades das pessoas tem sido também um aspecto muito relevante.
A professora aponta ainda que a literatura, de forma geral, tem mencionado que os jovens dessa geração vêm dando prioridade ao equilíbrio entre vida e trabalho. Mas ela frisa, no entanto, que é preciso ter cuidado com essa afirmação, pois não é possível aplicar essa sentença a todos.
“As questões econômicas, sociais e culturais interferem e, dessa forma, não é possível fazer uma generalização. Entretanto, podemos verificar uma maior liberdade dos jovens para dar voz às suas necessidades e interesses. O foco na qualidade de vida tem sido uma preocupação das pessoas em geral.” arrow_drop_down
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Jovens profissionais estão redefinindo as expectativas de carreira e valorizando a flexibilidade, a diversidade e o propósito nas organizações
Esse contato tão remoto e digital acaba impactando o nível de sensibilidade das relações. Esta geração precisa aprender a socializar fisicamente.”
Fernanda Peroba
Gerente de Pessoas e Processos da
Viação Águia Branca
Espírito Santo
2024
As organizações devem considerar a qualidade do contexto das atividades e favorecer o equilíbrio entre vida e trabalho.
E as empresas já têm desenvolvido ações nesse sentido de entender as características desta nova geração, tanto para atrair e reter esses profissionais quanto para nutrir uma boa convivência nas variadas faixas etárias presentes no ambiente de trabalho.
Na avaliação de Fernanda Peroba, gerente de Pessoas e Processos da Viação Águia Branca, as características dos jovens da geração Z têm impulsionado as empresas a serem mais inovadoras e se conectarem de forma mais ágil com os consumidores.
Uma das mudanças ocorridas nos últimos anos com a chegada dos mais jovens foi a implantação de atendimentos voltados à saúde mental, programas de inclusão e diversidade e ações que dialogam com o propósito e favorecem o engajamento das equipes nas ações.
“Os profissionais da geração Z são mais tecnológicos e muitos priorizam a flexibilidade e o home office. Por isso, tivemos que nos adequar para continuar atraindo esses profissionais.”
Em relação a esse perfil, ela considera que os mais jovens têm um desafio a superar: investir na parte relacional. “Esse contato tão remoto e digital acaba impactando o nível de sensibilidade das relações. Essa geração precisa aprender a socializar fisicamente”, orienta.
Representante da GenZ, Thais Barbosa, de 22 anos, tem na sua rotina profissional o cuidado de lidar com as diferentes gerações no mercado de trabalho. Ela está se formando em Psicologia e foi efetivada como assistente de RH na Viação Águia Branca após três meses de estágio.
A jovem, que trabalha com atração e seleção de candidatos, afirma ter a preocupação de entender e respeitar as diferenças existentes entre as gerações.
“O que observo na geração Z é que ela não está preocupada com a nomenclatura do cargo. Está interessada no que é oferecido além da remuneração e procura uma empresa alinhada ao propósito de vida dela.”
Ao analisar a geração na qual está inserida, ela destaca a presença de características positivas como a autoconfiança.
“Somos autoconfiantes e sabemos que damos resultado. Acredito que a gente tem flexibilidade maior para lidar com outras gerações. Temos preocupação em entender as diferenças e respeitá-las, e ainda somos mais compreensivos com os perfis diferentes.” question_answer
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Um ponto de equilíbrio
Os jovens têm impulsionado as empresas para serem mais inovadoras
Somos autoconfiantes e sabemos que damos resultado. Acredito que temos flexibilidade maior para lidar com outras gerações. Temos preocupação em entender as diferenças e respeitá-las, e ainda somos mais compreensivos com os perfis diferentes.”
Thais Barbosa, 22 anos
Universitária e assistente de RH
na Viação Águia Branca
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Até quando o “penso, logo existo” vai ser o bastante?
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A transformação no mercado está sendo catalisada pela presença de diferentes gerações no ambiente corporativo e pelos avanços tecnológicos, especialmente a inteligência artificial (IA). Considerando-se o panorama atual, é muito possível que, dentro de uma mesma organização, coexistam cinco gerações de funcionários – dos baby boomers (nascidos até 1964) à geração alpha (nascida a partir de 2010 e, portanto, recém-chegada aos postos de trabalho) e à geração alpha (nascida a partir de 2010, que vem ingressando como menor aprendiz). Em meio a isso, a tecnologia, que já impacta várias áreas, tem aberto tanto oportunidades quanto desafios para empregadores e empregados.
Na saúde, por exemplo, a IA melhora o diagnóstico precoce, a triagem de pacientes e a gestão de recursos. Na educação, a automação personaliza o aprendizado para atender às necessidades de cada estudante. Nas indústrias, plataformas inteligentes aumentam produtividade e melhoram a qualidade dos produtos e serviços. Mas o fator humano é um ponto a ser observado com atenção.
Para o professor Carlos Eduardo Guerra, do curso de Direito da Faculdade Mackenzie Rio, estamos passando por um momento de ruptura de transformação digital significativa. Ele aponta que esse processo iniciou-se por volta de 2015 e tem como principal característica a ascensão da inteligência artificial generativa – aquele tipo de IA focado na geração de conteúdo e que pode ser “treinado” por modelos já existentes e contribuições dos próprios humanos.
“Embora não seja possível prever exatamente o futuro, na próxima década veremos muitas mudanças em quase todas as profissões, especialmente as intelectuais. Profissões que dependem mais da força física, como as industriais, já foram automatizadas e podem ser menos impactadas pela IA”, antecipa Guerra.
Patrick Marques Ciarelli, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), complementa que a IA já está presente no cotidiano.
“Essas ferramentas já estão sendo utilizadas para criar atas, resumos, pesquisas, vídeos, imagens, traduções e códigos de programação. Elas oferecem resultados superiores e mais rápidos, aliviando a carga de trabalho dos profissionais”, observa Ciarelli.
O professor enxerga que a tendência é que as empresas cada vez mais se interessem pelo uso dessas ferramentas para continuarem competitivas no mercado e aumentarem a produtividade. Quem não se especializar e se adaptar a essas ferramentas pode ficar para trás. arrow_drop_down
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Para especialistas, trabalhos que exigem força física serão menos impactados por IAs. Mas desafios comportamentais seguem presentes
Na próxima década, veremos muitas mudanças em quase todas as profissões, especialmente as intelectuais. Profissões que dependem mais da força física, como as industriais, podem ser menos impactadas
pela IA.”
Carlos Eduardo Guerra
Professor da Mackenzie Rio
Espírito Santo
2024
Conheça alguns exemplos de como
a IA é usada nas áreas de atuação
em que elas mais se destacam:
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A IA vai tirar empregos? Especialistas fazem suas apostas
Uma das maiores preocupações que cercam esse assunto é a possibilidade de substituição de empregos pela IA. O diretor-executivo do ITS Rio, Fabro Steibel, afirma que, embora ainda haja incertezas sobre o tema, podemos esperar não só a extinção, mas também a criação de novas carreiras. “No geral, avaliamos que os trabalhos altamente criativos e intelectuais estão mais vulneráveis, enquanto áreas de serviços podem se beneficiar e expandir com a tecnologia”, enfatiza.
Steibel também destaca a importância da inovação para uma implementação eficaz da IA nas empresas e recomenda fortemente que as organizações procurem oferecer treinamentos sobre privacidade e utilização de dados pessoais e organizacionais para seus colaboradores, visando a uma transição mais segura.
“Mas, para isso, é preciso criar uma cultura de inovação mais abrangente: abrir-se para testes e experimentações, valorizar intraempreendedores e, principalmente, focar o letramento digital em IA”, pontua ele, complementando que “o uso da IA não pode ser ingênuo”. question_answer
É preciso criar uma cultura de inovação
mais abrangente:
abrir-se para testes e experimentações, valorizar intraempreendedores e, principalmente, focar o letramento digital.”
Fabro Steibel
Diretor-executivo do ITS Rio
Tecnologia: grandes volumes de dados já podem ser analisados com agilidade, facilitando a tomada de decisões mais estratégicas por parte das empresas.
Criação de conteúdo: atualmente, o mercado já conta com ferramentas que criam e interpretam textos, imagens, vídeos e áudios, além de plataformas que transcrevem e decodificam conteúdos multimídia.
Marketing e vendas: as IAs ajudam a criar campanhas mais atraentes e a identificar tendências de consumo para direcionar as estratégias de uma marca.
Gestão: o gerenciamento de pessoas e de equipamentos torna-se mais eficiente, otimizando recursos e diminuindo desperdícios.
Atendimento ao cliente: respostas a dúvidas frequentes enviadas de formas automatizadas reduzem o tempo de atendimento.
Fonte: especialistas consultados
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Insatisfeito
na profissão? Mudar pode
ser uma opção
Fator financeiro e
desconexão com a carreira
são citados por quem muda
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Se é para mudar, por que não mudar, também, de carreira? Mais que uma simples pergunta hipotética, essa questão tem servido como pontapé para que seis entre dez brasileiros, de fato, encarem a transição profissional como possibilidade real. É o que revela uma pesquisa realizada pela plataforma LinkedIn com mais de 23 mil trabalhadores – sendo 1,3 mil brasileiros – e divulgada no último mês de fevereiro.
A insegurança financeira aparece na pesquisa como principal fator para o desejo de migrar para outra área. O LinkedIn constatou que 20% desse público inclinado à transição, inclusive, já começou a se movimentar para efetivar a mudança. Algo parecido com o que viveu recentemente a advogada Karla Abad, de 52 anos. Graduada em Direito, ela começou no Poder Judiciário ainda no primeiro ano da faculdade. Depois de um tempo, teve de assumir a administração da empresa familiar.
Mãe de dois filhos e triatleta, completou um Ironman em Florianópolis em 2022, aos 50 anos: “Também nessa época, decidi mudar minha vida profissional e hoje sou corretora de imóveis e estou aprendendo a lidar com adversidades de forma mais assertiva”, relata.
Quem também deu uma guinada na atuação profissional foi Luciana de Martin, 54. Depois de 30 anos em uma mesma empresa – metade desse tempo vivendo no exterior como diretora na área de comércio exterior –, ela voltou ao Brasil em 2023 e se viu desempregada.
“Fiquei muito tempo fora do país e da realidade brasileira. Competitividade e etarismo são discutidos, mas conviver com isso é diferente”, admite. Mesmo tendo ocupado cargos de destaque e colecionado experiência, Luciana estava angustiada.
“Aprendi que, para mudar, é preciso uma série de estímulos: estudo, treino, orientação e autocuidado”, enumera. Nesse processo, ela conta que descobriu seu interesse pela escrita e está se preparando para esse novo desafio, explorando áreas como tradução e crônicas.
Mentoria como chave
Karla e Luciana são mentoradas por Ana Paula França, especialista em gestão, finanças e alta performance e fundadora do projeto capixaba Acelera Mulheres, voltado ao treinamento, avaliação e redirecionamento de carreiras femininas.
Ana Paula avalia que, em sua experiência, a insatisfação profissional é um fator significativo, em especial entre as mulheres. “Outro aspecto que percebi é que, no geral, as pessoas mais jovens são as que mais assumem riscos para terem maior controle sobre sua carreira”, observa.
A profissional ressalta, ainda, que o maior impeditivo para muitas pessoas, no entanto, costuma ser a questão financeira. “Por isso, uma reserva financeira é essencial para enfrentar a transição com menos ansiedade e pressão”, indica. arrow_drop_down
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Seis em cada dez profissionais
avaliam trocar de área de atuação,
segundo o LinkedIn. São diversos
os fatores que impulsionam
esse desejo, até mesmo entre profissionais experientes
Fiquei muito tempo
fora do país e da realidade brasileira. Competitividade e etarismo são discutidos, mas conviver com isso
é diferente.”
Luciana de Martin
Ex-executiva de comércio exterior
Espírito Santo
2024
O que mais motiva
a mudança?
A professora doutora em Psicologia Priscilla Martins Silva, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explica que a transição de carreira é cada vez mais comum e que outros fatores além da insatisfação profissional contribuem para isso.
“A vida no mercado de trabalho se estende com pessoas produtivas até os 60 anos ou mais. Por isso, é comum ver mudanças de carreira ou múltiplas carreiras simultâneas”, analisa.
Fatores que influenciam essa mudança, como busca por novos aprendizados e desafios, também são pontuados pela professora. “Alguns podem ter a oportunidade de cursar uma faculdade mais tarde, por exemplo. Outros casos são as mulheres que optam por empreender para equilibrar trabalho e família, almejando flexibilidade que empresas nem sempre oferecem”, observa.
Raquel Nonato, coordenadora de Gestão do Conhecimento do Itaú Educação e Trabalho, menciona mais causas dessas mudanças, como a constante instabilidade no mercado e a desconexão entre teoria e prática das carreiras.
“Além disso, no Brasil,
a baixa inclusão produtiva
e as poucas oportunidades
intensificam a procura por
transições de carreira”,
conclui. question_answer
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No Brasil, a baixa inclusão produtiva e as poucas oportunidades intensificam a procura por transições de carreira.”
Raquel Nonato
Coordenadora de Gestão do Conhecimento do Itaú Educação e Trabalho
ESTÁ PENSANDO EM MUDAR DE CARREIRA?
CONFIRA 5 DICAS
Expanda seus horizontes: procure adaptar-se às mudanças e desenvolver novas competências.
Cautela: planeje com uma visão crítica do seu cenário, conheça as tendências do mercado, conecte-se com profissionais da área e busque formações qualificadas.
Preparação e capacitação: faça uma autoavaliação para analisar seus pontos de melhoria, aproveite cursos gratuitos ou de baixo custo e considere mentorias direcionadas.
Suporte social: construa redes de apoio e busque orientações para entrar em novos campos.
Suporte material: se possível, tenha uma reserva financeira.
Fonte: especialistas consultadas
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Etarismo:
como combater
o preconceito
em ambientes
corporativos
A complementaridade existente nos
diversos perfis profissionais pode
enriquecer o universo do trabalho
Nem sempre o convívio entre diferentes gerações no ambiente de trabalho traz consequências negativas
Espírito Santo
2024
Vivemos uma diversidade geracional, e o que deveria servir de troca de experiências, muitas vezes, é motivo para discriminação. Expressões como “jovem demais” ou “velho demais” são usadas como forma de limitação e exclusão, em que a idade se torna um critério para julgar a competência ou o valor de uma pessoa, prejudicando tanto o ambiente corporativo quanto a diversidade de pensamento.
A divergência entre gerações no ambiente de trabalho está ligada às diferentes experiências, modos de pensar e expectativas que cada geração traz. Professora na Universidade Presbiteriana Mackenzie nas áreas de Gestão de Pessoas e Estudos Organizacionais, Míriam Rodrigues cita alguns fatores que promovem essa divergência, como as diferenças tecnológicas.
“As gerações mais jovens cresceram em um ambiente altamente digital, enquanto as gerações mais antigas muitas vezes precisaram se adaptar ao avanço tecnológico. Isso pode causar choques no uso de ferramentas ou na expectativa de agilidade e flexibilidade”, afirma Míriam.
É importante observar que nem sempre o convívio entre diferentes gerações no ambiente de trabalho traz consequências negativas.
“A complementaridade existente nos diferentes perfis de profissionais pode enriquecer significativamente o ambiente de trabalho e os resultados obtidos pelas equipes. Para que isso ocorra, são importantes uma cultura organizacional e uma gestão adequada das lideranças no que se refere a este assunto”, reforça a professora.
Aos 23 anos, Lívia Otti, estagiária na área de Business Partner em Gente e Gestão da Suzano, em Aracruz, tem tido a experiência de trabalhar em um ambiente com diferentes gerações.
“Interagir com líderes experientes e trocar conhecimentos que vivencio é extremamente enriquecedor. Sempre que apresento um projeto, recebo elogios pela inovação e criatividade. Ao mesmo tempo, recebo contribuições valiosas dos mais experientes, que aprimoram ainda mais o conteúdo. Essa troca nos faz crescer e nos desenvolve como profissionais, unindo o melhor de cada geração”, afirma.
Lívia é ainda embaixadora do Grupo de Afinidade Gerações, que promove ações de conscientização e incentivo ao respeito entre todas as gerações. Entre as iniciativas que o grupo realiza, estão rodas de conversa sobre etarismo, debates sobre maternidade entre gerações e o programa Reflorescer, voltado para colaboradores 55+. Essas ações ajudam a fortalecer o respeito e a compreensão entre diferentes idades e experiências.
“Acredito profundamente em uma empresa diversa, nas trocas intergeracionais e na importância dessas trocas para a construção de um futuro melhor. Como parte da geração Z na empresa, sinto que sou valorizada pelo que entrego e faço, e não pela minha idade. As pessoas confiam em nosso potencial, nos desafiam e nos apoiam em nosso desenvolvimento.”
Isaias Shimura, 49 anos, é gerente de Recuperação e Utilidades da Suzano e acrescenta que uma forma de evitar o etarismo na empresa é fazer com que as gerações se encontrem e contribuam umas com as outras. “É a experiência do 55+ com a agilidade e tecnologia do 25-. Elas são complementares, e isso é extremamente importante.” question_answer
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As gerações mais jovens cresceram em um ambiente altamente digital, enquanto gerações mais antigas muitas vezes precisaram se adaptar ao avanço tecnológico. Isso pode causar choques no uso de ferramentas ou na expectativa de agilidade e flexibilidade.”
Míriam Rodrigues
Professora na Universidade Presbiteriana Mackenzie nas áreas de Gestão de Pessoas e Estudos Organizacionais
Como parte da geração Z na empresa, sinto que sou valorizada pelo que entrego e faço, e não pela minha idade. As pessoas confiam em nosso potencial, nos desafiam e nos apoiam em nosso desenvolvimento.”
Lívia Otti, 23 anos
Estagiária na área de Business Partner em Gente e Gestão da Suzano
É a experiência do 55+ com a agilidade e tecnologia do 25-. Elas são complementares, e isso é extremamente importante.”
Isaias Shimura, 49 anos
Gerente de Recuperação
e Utilidades da Suzano
Formas de etarismo no ambiente de trabalho
Contratação e promoções: pessoas mais velhas podem enfrentar dificuldades em obter novas oportunidades, sendo vistas como menos adaptáveis ou tecnologicamente atrasadas. Já os jovens podem ser subestimados, vistos como inexperientes, independentemente de suas competências.
Estereótipos negativos: comentários como “essa pessoa não vai se adaptar às mudanças” (para alguém mais velho) ou “esse jovem é imaturo” são formas de estereotipar com base na idade.
Invisibilidade ou desvalorização: profissionais mais velhos podem ser excluídos de decisões importantes ou de projetos de inovação, sob a suposição de que suas ideias são ultrapassadas. Por outro lado, profissionais jovens podem ter suas contribuições desvalorizadas por falta de experiência.
Caminhos
para reduzir
o etarismo
no mundo corporativo
Promoção da diversidade etária: adotar uma abordagem ativa para garantir a formação de equipes compostas por pessoas de diferentes idades, reconhecendo que a diversidade etária, assim como a diversidade de gênero e etnia, traz benefícios para a inovação e a tomada de decisões.
Educação e sensibilização: promover treinamentos sobre diversidade e inclusão, com foco no combate ao etarismo, pode ajudar os colaboradores a reconhecerem e confrontarem seus próprios preconceitos. Essas formações precisam destacar como a idade pode trazer diferentes perspectivas valiosas.
Mentoria reversa: implementar programas de mentoria reversa, nos quais profissionais mais jovens compartilham conhecimentos tecnológicos ou de tendências atuais com os mais experientes, enquanto aprendem com a experiência destes, pode ajudar a reduzir tensões e criar um ambiente de troca mútua.
Adoção de políticas de contratação inclusivas: empresas podem adotar políticas de contratação que promovam a equidade, garantindo que candidatos sejam avaliados por suas competências e experiências, não por sua idade. Também é importante oferecer oportunidades de capacitação contínua para todos, independentemente da idade.
Fonte: Míriam Rodrigues, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Público 50+
está de volta
à sala de aula
Na última década, aumentou o número de brasileiros dessa faixa etária que ingressaram em algum curso superior
A educação está mudando à medida que diferentes gerações se encontram nas salas de aula
Espírito Santo
2024
O senso comum, por muito tempo, sustentou a ideia de que estudar é uma atividade para os mais jovens. Mas esse cenário vem mudando significativamente e, conforme dados do Ministério da Educação (MEC), vem aumentando o número de brasileiros com mais de 50 anos ingressando em algum curso de ensino superior. No Espírito Santo, não é diferente.
O diretor-presidente da Fucape, Valcemiro Nossa, aponta que a educação está mudando à medida que diferentes gerações se encontram nas salas de aula, com destaque para o crescente número da faixa etária 50+ voltando a estudar.
“Para esse público, o retorno significa mais que atualização profissional, é uma chance de manter a mente ativa, realizar projetos adiados e se reinventar em um mundo em constante mudança.”
Esses alunos, segundo Valcemiro, buscam cursos de Gestão, Finanças, Direito e Inovação, e carregam consigo uma rica experiência profissional. “Sua disciplina e foco resultam em bom desempenho acadêmico, com uma leve predominância de mulheres em busca de requalificação”, acrescenta.
Um movimento que, conforme observa a coordenadora do curso de Psicologia da Faesa, Caroline Bezerra, tem levado as instituições de ensino a adaptarem suas abordagens para atender melhor esse público.
Para tanto, utilizam metodologias de ensino flexíveis, suporte acadêmico e emocional personalizado e capacitação dos docentes para lidar com a diversidade etária, além de oferecerem ambientes acessíveis e programas de integração para facilitar a adaptação e promover um ambiente inclusivo.
“É muito importante, por exemplo, contar com uma equipe para auxiliar esses estudantes no processo de inclusão digital e tecnológica, por meio de oficinas, orientações individualizadas e no próprio dia a dia em sala de aula”, frisa Caroline Bezerra. arrow_drop_down
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Muitos desses alunos já são aposentados e têm filhos mais
velhos, o que permite maior flexibilidade para estudar
Para esse público, o retorno significa mais que atualização profissional, é uma chance de manter a mente ativa, realizar projetos adiados e se reinventar em um mundo em constante mudança.”
Valcemiro Nossa
Diretor-presidente da Fucape
Espírito Santo
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Desafios e
oportunidades
no retorno
Coordenadora da Universidade Aberta à Pessoa Idosa (UnAPI), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a assistente social Monique Simões Cordeiro concorda que há desafios para esse público ao encarar um curso de graduação, que variam conforme as experiências individuais, a capacidade de adaptação e o acesso às mudanças tecnológicas ao longo da vida.
“Pesquisas indicam que cerca de 80% dessa faixa etária ainda não estão conectados ao mundo digital. Portanto, é fundamental que tanto o Estado quanto o setor privado implementem serviços de inclusão digital contínuos, voltados especificamente para essa população, promovendo um ambiente de aprendizado acessível.”
Para Fabiana Rosa Neves Smiderle, coordenadora do curso de graduação em Enfermagem da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam), a volta aos estudos depois dos 50 anos tem relação com o perfil dessas pessoas, que se encontram em um momento de transição de vida, muitas já aposentadas e com os filhos mais velhos, o que permite maior flexibilidade para essa nova empreitada.
“Essa volta pode ser uma forma de realizar um sonho antigo que não foi possível concretizar, ou apenas vontade de fazer uma segunda graduação em busca de segurança financeira.”
Ela observa que, embora sejam complexos, os cursos da área de saúde também são bastante procurados por pessoas com mais de 50 anos.
“O desejo de cuidar dos outros e contribuir para o bem-estar da sociedade são alguns dos fatores que vêm impulsionando essa parte da população a enfrentar cinco anos cursando, por exemplo, uma graduação de Enfermagem, profissão que, com a pandemia da Covid-19, conquistou visibilidade e oferece um leque de oportunidades de inserção no mercado de trabalho (assistência, ensino, pesquisa, gestão, política)”. arrow_drop_down
A tecnologia pode ser barreira para os mais velhos
e é preciso oferecer serviços de inclusão digital
É fundamental que tanto o Estado quanto o setor privado implementem serviços de inclusão digital contínuos, voltados especificamente para essa população, promovendo um ambiente de aprendizado acessível.”
Monique Simões Cordeiro
Assistente social e coordenadora da Universidade Aberta à Pessoa Idosa (UnAPI), da Ufes
Espírito Santo
2024
A presença das diferentes gerações no ambiente institucional, segundo ela, apresenta-se de forma muito positiva em razão da diversidade, da integração e da vivência de diversas perspectivas.
“Os estudantes com mais de 50 anos possuem uma maturidade que pode servir como suporte para seus colegas mais jovens, oferecendo insights práticos sobre situações que, muitas vezes, vão além da teoria. Isso enriquece o aprendizado coletivo e ajuda a criar uma comunidade de aprendizado mais diversificada e inclusiva”, valoriza Fabiana Rosa.
Por outro lado, Valcemiro Nossa, da Fucape, observa que o movimento de volta às aulas por parte da geração X contrasta com a postura de alguns jovens, que, influenciados pelas redes sociais e pela cultura do sucesso rápido, questionam a relevância da educação formal.
“Muitos preferem caminhos alternativos, como o empreendedorismo digital ou o aprendizado autodidata. O desafio para as instituições é equilibrar o desejo de aprendizado contínuo dos mais idosos com as expectativas dos mais jovens, que optam por formas menos convencionais de desenvolvimento.”
Apesar desses contrastes, continua Valcemiro, o ambiente intergeracional nas salas de aula realmente cria uma troca enriquecedora, na qual a experiência dos mais velhos complementa a inovação dos jovens. “Esse movimento não só valoriza a educação continuada, mas também redefine o conceito de aprendizado ao longo da vida.”
E o mais importante, destaca Caroline Bezerra, é que o mercado de trabalho se beneficia desse retorno aos estudos dos profissionais com mais de 50 anos, aproveitando-se de suas experiências acumuladas de vida, tanto pessoal quanto profissional, o que os torna valiosos em termos de conhecimento prático, tomada de decisão e resolução de problemas.
“Além disso, podem ser valiosos como mentores naturais, transmitindo conhecimentos, habilidades interpessoais e uma visão estratégica”, conclui. question_answer
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Ambiente intergeracional é positivo
A troca de experiências é uma das vantagens na convivência de diferentes gerações
(Os 50+) podem ser valiosos como mentores naturais, transmitindo conhecimentos, habilidades interpessoais e uma visão estratégica.”
Caroline Bezerra
Coordenadora do curso
de Psicologia da Faesa
Os estudantes com mais de 50 anos possuem uma maturidade que pode servir como suporte para seus colegas mais jovens, oferecendo insights práticos sobre situações que muitas vezes vão além da teoria.”
Fabiana Rosa Neves Smiderle
Coordenadora do curso de graduação em Enfermagem da Emescam
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Uma escola preparada para atender às
novas gerações
É importante educar os alunos para usar as tecnologias de maneira consciente e ética
Espírito Santo
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Duas gerações convivem hoje na escola. São as chamadas GenZ (formada pelos nascidos entre 1995 e 2010) e alpha (com os nascidos a partir de 2010), que vivem imersas em um mundo digital e que demandaram mudanças estruturais no processo de ensino-aprendizagem. Livro e caderno perderam espaço para tablets e computadores. Até mesmo a tradicional lousa ganhou roupagem tecnológica.
Só que essa metamorfose segue em andamento. A reflexão que educadores fazem agora é: para que usar tantas tecnologias? Como investir mais na conexão humana, analógica, já que a escola nunca deixou de ter a função de formar cidadãos? Essas indagações não têm respostas prontas. Mas fato é que a missão de tornar a escola mais atrativa não será cumprida com a adoção apenas de novas tecnologias.
O papel da escola vem sendo ressignificado há algum tempo. Hoje, é possível estudar sem fronteiras, por meio de um click, na internet.
“Só que a escola não tem somente um papel de formação técnica. Há uma função de formação de cidadãos e, claro, a experiência. Então, a escola vai cada vez mais se adequar e se alinhar aos avanços tecnológicos, mas ela precisa ter essa visão de formadora de seres humanos, priorizando experiências e interações, promovendo espaços criativos e inovadores”, pontua Otávio Lube dos Santos, especialista em Educação.
Ele é enfático ao afirmar ser importante educar os alunos para usar as tecnologias de maneira consciente e ética, para que sejam detentores do poder e não uma massa de manobra controlada pela internet.
“Hoje se fala em professores com inteligência artificial, tutores, mas, no final das contas, não se fala da experiência humana. Da ética. Esse papel de formação cidadã é da escola. A escola precisa caminhar com as evoluções tecnológicas, implementando-as em sala de aula e, ao mesmo tempo, ter essa visão de conscientização”, sustenta Lube. arrow_drop_down
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Para o processo de ensino-aprendizagem ser mais atrativo, instituições não podem depender apenas da tecnologia
A escola precisa caminhar com as evoluções tecnológicas, implementando-as em sala de aula, e, ao mesmo tempo, ter essa visão de conscientização.”
Otávio Lube
Especialista em Educação
Espírito Santo
2024
Países que se desenvolveram tecnologicamente na educação estão reavaliando suas estratégias. Muitos vêm diminuindo o uso de tela, voltando para o livro, outros estão proibindo o uso de celular em sala de aula.
“A grande questão envolve o potencial que a conexão gera e o que as ferramentas são capazes de fazer. Mas, para a escola regular valer-se disso, é outra realidade. É importante considerar que o maior valor das escolas é a possibilidade do contato humano”, ressalta o diretor-geral da Escola Monteiro, Eduardo Costa Gomes.
Para ele, a humanidade está vivendo uma experiência em tempo real. “Há muitas coisas legais acontecendo, mas o efeito disso, ora positivo, ora negativo, leva a uma reavaliação.”
A pedagoga Flávia Sperandio, especialista em Informática na Educação e mestra em Psicologia Institucional, defende que a escola deve estar conectada às questões de seu tempo, constantemente se reinventando, porque a sociedade está em contínua transformação, e porque a escola é formada pelas próprias pessoas, integrantes dessa sociedade, ícones dessas transformações.
“Devemos buscar entender quais são as demandas de nosso tempo e nos perguntar como construiremos uma formação coerente com elas, garantindo o direito à cidadania, garantindo a fluência nas linguagens que nosso mundo (sempre novo) fala”, analisa.
Conexão
A conexão humana, analógica, é a primeira que carece de investimento para construirmos escolas e comunidades cada vez mais qualificadas, afirma a pedagoga. “Isso porque, para aprender, precisamos interagir, precisamos da experiência social e de vínculo.”
A pedagoga observa que os métodos, os meios e os materiais são recursos para viabilizar as interações e as experiências aprendentes, e não podem preceder o objetivo de ensino-aprendizagem.
Flávia Sperandio cita, como exemplo, a escolha de incluir ou não celulares, tablets, computadores e projetores na escola, uma decisão que, em sua avaliação, não pode ser mais importante do que a intencionalidade pedagógica sobre o que será feito com esses recursos. “Ter um tablet para acessar o quê? Para quê?” arrow_drop_down
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Momento de rever estratégias
A comunicação humana carece de investimento para
construirmos escolas cada vez mais qualificadas
Há muitas coisas legais acontecendo, mas o efeito disso, ora positivo, ora negativo, leva a uma reavaliação.”
Eduardo Costa Gomes
Diretor-geral da Escola Monteiro
Para aprender, precisamos interagir, precisamos da experiência social e de vínculo.”
Flávia Sperandio
Pedagoga, especialista em Informática na Educação e mestra em Psicologia Institucional
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O grande objetivo do sistema de educação é melhorar e formar outras pessoas. E esse papel, lembra o professor Fábio Portela, diretor-geral do UP Centro Educacional, não é desempenhado via Bluetooth.
Muito mais que os recursos tecnológicos disponíveis, Portela ressalta que as escolas precisam formar pessoas capazes de lidar com essas ferramentas de forma inteligente, saudável e precisa. Portanto, para ele, investir na capacitação da equipe é crucial.
“O mundo já está tomado pelas sempre novas tecnologias e se esquecendo de que, no final, pessoas é que transformam o mundo. O problema não está na lousa de 1 milhão de pixels, bem como nela não está a solução”, constata.
Difícil, na opinião do professor, é formar seres humanos dotados de visão crítica, de empatia, com capacidade de resolver uma situação-problema com a devida competência esperada pelo mundo afora. “Computador, IA, ChatGPT…Nenhum deles fará (tudo) isso por nós.”
Portela reforça, entretanto, que a ideia não é o abandono da tecnologia, que pode e deve ser bastante usada, desde que como ferramenta e com responsabilidade para que, de fato, colabore com os processos de ensino-aprendizagem.
Diferença
Nesse contexto de formação, as pessoas fazem a diferença. Daniel Rojas, diretor-geral da Escola Madan, sugere que uma aula atrativa é aquela em que o aluno participa ativamente. Para isso, diz ele, a instituição investe no desenvolvimento contínuo dos professores, incentivando o uso de métodos dinâmicos e interativos.
“Também estimulamos a aplicação de projetos que envolvem pesquisas e debates, permitindo que os alunos se tornem protagonistas do seu aprendizado. A ideia é transformar a sala de aula em um ambiente onde o conhecimento seja construído coletivamente, sem perder de vista seu papel formador.” question_answer
Espaço para
formar cidadãos
As escolas precisam formar pessoas capazes de lidar
com as ferramentas de maneira inteligente
O mundo já está tomado pelas sempre novas tecnologias e se esquecendo de que, no final, pessoas é que transformam o mundo.”
Fábio Portela
Diretor-geral do UP Centro Educacional
A ideia é transformar a sala de aula em um ambiente onde o conhecimento seja construído coletivamente, sem perder de vista seu papel formador.”
Daniel Rojas
Diretor-geral da Escola Madan
Espírito Santo
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Limite e diálogo:
o caminho para o
uso responsável
de telas e internet
As famílias
precisam orientar
e acompanhar
o uso de telas
das crianças
Espírito Santo
2024
Nesta era da hiperconexão, crianças já nascem tendo contato com os milhares de atrativos oferecidos por meio dos dispositivos digitais e da internet. A questão é que, na correria do dia a dia, a família acaba, muitas vezes, facilitando esse acesso sem tomar os devidos cuidados em relação aos riscos que essa conduta pode trazer a esse público ainda em formação.
Conforme recomenda a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o limite de tempo para crianças e adolescentes estarem em contato com esses aparelhos digitais, como celulares, tablets e videogames, é definido pela faixa etária, e sempre sob supervisão.
Guilherme Alves, gerente de projetos da Safernet, que atua na área de educação da ONG e coordena o projeto Disciplina de Cidadania Digital, destaca que o primeiro contato com celulares e computadores deve se dar junto à família, que será a responsável por estabelecer uma rotina de diálogo sobre quais conteúdos, aplicativos e jogos são adequados e os cuidados na interação com outras pessoas.
“É importante que a dimensão pública desses espaços seja enfatizada, além da ideia de riscos, civilidade e segurança. É primordial que os responsáveis monitorem e estabeleçam regras de uso para o público infantojuvenil, quais aplicativos e o tempo para cada um deles, usando recursos nativos de controle parental oferecidos pelos celulares, além de algum tipo de monitoramento em redes sociais”, enfatiza.
Mas, antes disso, reforça Guilherme Alves, é essencial entender sobre o melhor momento para que a criança ou o adolescente tenha o próprio dispositivo. “Adiar essa posse pode ser benéfico, ainda que possa haver o acesso aos dispositivos dos responsáveis.” arrow_drop_down
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Adotados muitas vezes pelas
famílias como uma espécie de babá
eletrônica, os dispositivos digitais
não devem ser usados sem controle
por crianças e adolescentes
É importante que a dimensão pública desses espaços seja enfatizada, além da ideia de riscos, civilidade e segurança. É primordial que os responsáveis monitorem e estabeleçam regras de uso para o público infantojuvenil.”
Guilherme Alves
Gerente da Safernet e coordenador do projeto Disciplina de Cidadania Digital
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NOME da pessoa
cargo nononon
TEMPO DE TELA
Menores de 2 anos:
nenhum contato com telas
ou videogames.
Dos 2 aos 5 anos:
até uma hora por dia.
Dos 6 aos 10 anos:
entre uma e duas horas por dia.
Dos 11 aos 18 anos:
entre duas e três horas por dia.
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Internet não é babá: equilíbrio no uso
A psicóloga Maria Carolina Fonseca Barbosa Roseiro, ex-presidente do Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo (CRP), explica que, na imposição de limites, os conflitos serão inevitáveis, porque as crianças e adolescentes terão de lidar com a frustração.
Mas o limite de tempo para o uso de dispositivos digitais, observa, depende de um acompanhamento direto que a maioria das famílias não consegue fazer no seu dia a dia. Maria Carolina lembra, ainda, que as telas também são para fins educacionais, sendo usadas no espaço escolar.
“Embora saibamos que existem orientações biomédicas sobre as pausas que precisam ser feitas, independentemente do conteúdo, temos de observar o que está sendo acessado por esse público do ponto de vista do seu desenvolvimento psicossocial, se está prejudicando a socialização e a formação da personalidade e da identidade das crianças e adolescentes”, orienta.
Maria Carolina frisa que é saudável as crianças sentirem tristeza, raiva e outras emoções não prazerosas, mas é necessário observar como elas estão reagindo. Nesse sentido, é essencial dedicar atenção para os impactos no sono, na alimentação e na autoimagem.
“O diálogo contribui para a confiança nas relações de cuidado familiar e nas orientações de hábitos de autocuidado. Por outro lado, os pais também precisam se educar para os próprios limites”, alerta a psicóloga.
Guilherme Alves adverte que afastar completamente as crianças e os adolescentes desse universo não é o caminho, pois esse ato pode trazer como consequência o desconhecimento para identificar riscos que podem ocorrer quando eles iniciarem o uso contínuo, já mais velhos.
“A internet deve ser usada como ferramenta do processo de ensino-aprendizagem, ao mesmo tempo em que a educação para o uso dessa tecnologia deve fazer parte das grades curriculares, preparando todos para lidar com os riscos inerentes aos ambientes virtuais.”
O gerente da Safernet pontua, ainda, que não existe uma fórmula pronta e que cada família deve estabelecer as próprias dinâmicas. O que deve ser evitado é tanto usar a internet como uma espécie de “babá eletrônica” – ou seja, largar os filhos com os dispositivos eletrônicos por horas – quanto a restrição completa, sem diálogo, pois é justamente essa conversa que vai oferecer confiança às crianças e aos adolescentes para procurarem apoio da família caso entrem em contato com algum conteúdo nocivo. question_answer
Os pais
também
precisam
administrar
o próprio
uso de eletrônicos
O diálogo contribui para a confiança nas relações de cuidado familiar e nas orientações de hábitos de autocuidado. Por outro lado, os pais também precisam se educar para os próprios limites.”
Maria Carolina Fonseca Barbosa Roseiro
Psicóloga e conselheira do Conselho Regional de Psicologia do ES
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Como proteger os
pequenos da má
influência digital?
Conexão de criança sem supervisão acende alerta sobre responsabilidades
Espírito Santo
2024
Para o almoço chegar, basta um clique. Quer um veículo? Baixe um aplicativo. Na hora do lazer, a biblioteca de livros ou o acervo de filmes cabem na palma da mão. A internet, de fato, promove uma série de facilidades no dia a dia. Essa praticidade permitiu a popularização da tecnologia e tornou o mundo um espaço hiperconectado em que quem não está on-line praticamente não é visto.
Se as gerações anteriores precisaram correr atrás para se adaptar a esta nova realidade, os pequenos de hoje já nascem imersos em um universo quase que exclusivamente digital. Mas, sendo eles tão novos, como essa disposição de tecnologia pode influenciar na educação desta nova geração?
De acordo com dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada em 2022, 83% das crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos, acessam a internet mais de uma vez por dia. O TikTok dispara como a rede social mais utilizada, com mais de 35% do público. O Instagram (34,6%) e o Facebook (6,8%) completam o pódio.
Apesar das facilidades que a internet proporciona, quem é ativo nesses sites sabe a quantidade de anúncios e propagandas presentes nos conteúdos de influenciadores e nos feeds pessoais. É aí que a atenção deve ser redobrada: ao permitir o acesso de crianças, o “marketing de influência” pode interferir no consumo da geração alpha (nascidos após 2010), que já tem peso nas decisões da família.
“A internet está lotada de influenciadores digitais que estudam como destacar seu conteúdo e fazer as pessoas tomarem alguma ação por meio do neuromarketing, gatilhos mentais e copywriting. Por conta disso, cabe aos pais monitorarem o uso da internet pelas crianças e filtrarem quais são os criadores de conteúdo que elas podem acompanhar”, destaca a professora de Marketing Digital da Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas, Mariana Munis de Farias.
Ela também explica que os principais objetivos do marketing de influência são: aumentar a visibilidade da marca, criar consciência de produto, gerar engajamento, estreitar relacionamento com público e, por consequência, impulsionar as vendas.
“Logo, deixar a internet nas mãos da criança, sem vigilância, é algo muito perigoso, já que muitas marcas e influencers trabalham para se engajar com a audiência a fim de vender mais”, pontua.
Ainda de acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, citada no início da matéria, 58% dos usuários de internet de 9 a 17 anos já pesquisou itens na internet para comprar ou apenas para ver quanto custavam. Já a porcentagem de quem efetivamente realizou uma compra pela internet é ainda maior: 86,3%. arrow_drop_down
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Em um mundo cada vez mais on-line,
a publicidade tem tomado conta das
redes e da produção de conteúdo.
Mas como desenvolver o senso
crítico nas crianças?
A internet está lotada de influenciadores digitais que estudam como destacar seu conteúdo e fazer as pessoas tomarem alguma ação. Cabe aos pais monitorarem o uso da internet pelas crianças e filtrarem quais são os criadores de conteúdo que elas podem acompanhar.”
Mariana Munis de Farias
Professora de Marketing Digital da
Universidade Presbiteriana Mackenzie
de Campinas
As redes sociais mais utilizadas
PÓDIO
1º TikTok 35%
2º Instagram 34,6%
3º Facebook 6,8%
Espírito Santo
2024
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E aí, o que fazer?
No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) proíbe, desde 1990, a publicidade infantil e considera esse tipo de propaganda ilegal. Isso porque, até uma certa idade, as crianças ainda estão se desenvolvendo crítica, física, mental, moral e socialmente. Entretanto, existem espaços vagos na constituição que permitem a criação de conteúdos on-line que acabam influenciando o consumo de uma forma indireta.
“As marcas aproveitam a credibilidade e o alcance dos criadores de conteúdo para promover produtos e serviços, por meio de parcerias”, reforça Mariana Munis de Farias.
É aí que a atenção deve ser redobrada. Já que, por meio desses gatilhos mentais, muitas empresas acabam se aproveitando do possível uso indiscriminado infantil nos espaços on-line para venderem produtos, marcas e serviços.
50,7%
dos pais não sentam perto enquanto os filhos usam a internet
TIC Kids Online Brasil
Para a psicóloga e especialista em inteligência parental Fernanda Perim, o uso das telas para crianças não é um problema, mas um desafio que precisa ser organizado e administrado. O caminho para isso é saber se comunicar com a criança e criar estratégias para que ela também goste de aproveitar o tempo off-line.
63,2%*
dos pais ficam por perto enquanto o filho usa a internet, mas sem olhar o que está fazendo
TIC Kids Online Brasil
“O marketing de influência vai afetar aquelas que fazem o uso das redes sociais sem supervisão. Como hoje não é permitida a propaganda voltada para o público infantil, muitas empresas estão embutindo essa publicidade nos influenciadores”, destaca Fernanda Perim.
Por isso, criar limites é muito importante. Entretanto, a especialista afirma que estabelecer isso sem criar conflito é basicamente uma ciência de comunicação. Afinal, para a especialista é muito mais sobre relacionamento do que controle.
“Quando a gente fala em criar limites, muitas pessoas acham que os pais precisam controlar os filhos, mas isso é um mito. O foco precisa ser a qualidade do relacionamento, no tanto que você conhece a criança e como se comunicar de forma clara”, reforça.
A psicóloga ainda pontua que a atual geração de pais vem de um modelo educacional que quase não se falava sobre conversar de forma respeitosa com as crianças. “Os adultos de hoje precisam aprender isso e criar um repertório que não se tinha quando pequenos”, finaliza. question_answer
O foco
precisa ser a
qualidade do
relacionamento,
no tanto que
você conhece a
criança e como
se comunicar
de forma clara
Quando a gente fala em criar limites, muitas pessoas acham que os pais precisam controlar os filhos, mas isso é um mito. O foco precisa ser a qualidade do relacionamento, no tanto que você conhece a criança e como se comunicar de forma clara”
Fernanda Perim
Psicóloga especialista em
Inteligência Parental
Espírito Santo
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Os riscos de uma geração hiperconectada
Lidar com críticas e desaprovação, na intensidade da internet, pode ter fortes impactos na formação de crianças
Espírito Santo
2024
Jovens e adultos conversam por
meio de aplicativos de mensagens,
e as crianças trocaram brinquedos
por um smartphone com acesso
a apps e redes sociais
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A sociedade vive hoje um paradoxo entre os avanços tecnológicos, com a necessidade de adotá-los no mercado de trabalho e em atividades educacionais, e o uso desmedido desses recursos, causando impactos socioemocionais, sobretudo para crianças e adolescentes, ainda em formação. Ansiedade e depressão são algumas das consequências.
Criada na década de 1960, nos Estado Unidos, a internet já tinha como propósito conectar pessoas. Mas o que começou como uma troca de informações militares e de segurança nacional se tornou o maior meio de comunicação do mundo.
Hoje, jovens e adultos conversam por meio de aplicativos de mensagens e as crianças trocaram brinquedos por um smartphone com acesso a apps e redes sociais, fato que, segundo especialistas, tem afetado o comportamento dos pequenos.
Em um dos livros mais debatidos neste ano – “A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais” –, o autor Jonathan Haidt, um psicólogo norte-americano, joga luz sobre o problema, que, segundo ele, tem sido também bastante analisado por diversos pesquisadores acadêmicos.
Por aqui, a pedagoga Flávia Sperandio, especialista em Informática na Educação e mestra em Psicologia Institucional, observa que, além da hiperconexão, não há uma preocupação com o que se consome nas redes, tamanha é a enxurrada de conteúdos.
“É importante refletirmos que as questões sociais que se colocam em cada tempo necessitam do envolvimento e da responsabilização coletiva, não são problemas individuais que devam se restringir à esfera familiar, por exemplo”, pontua.
Para a pedagoga, alguns dos principais riscos de crianças com tanto acesso à internet é que elas continuam em processo de formação da maturidade emocional. Assim, lidar com críticas e desaprovação, na intensidade da internet, pode ter fortes impactos na formação de personalidade, na autoconfiança e na relação com os outros.
Álvaro Gonçalves, diretor do Colégio Marista Nossa Senhora da Penha, aponta que, a partir de estudos e também pela observação da rotina escolar, a hiperconectividade se revela em prejuízos no desenvolvimento socioemocional; aumento da ansiedade e da irritabilidade, perda da atenção e do foco, comprometendo a aprendizagem, e dificuldades de relacionamento interpessoal. arrow_drop_down
Espírito Santo
2024
Vale lembrar que a internet é um importante meio de comunicação. Assim, conforme destaca Silvana Bizzo Cruz, coordenadora pedagógica geral do Colégio Sagrado Coração de Maria, pode oferecer benefícios no que diz respeito à socialização da informação. Entretanto, pondera, é necessário um monitoramento, pois pesquisas apontam que há impactos negativos no desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes causados pelo uso excessivo de telas.
“Não vejo como vilão o uso das tecnologias. O que se faz urgente é um monitoramento do uso de tais tecnologias não somente nas escolas, mas também, e principalmente, em outros espaços de convivência e socialização.”
Ela também constata que crianças e adolescentes com acesso a informações e imagens que ainda não têm recursos cognitivos e emocionais para compreender, analisar e julgar estão ansiosos, medrosos, inseguros, frágeis e irritados.
Na opinião de Silvana, a parceria família-escola pode auxiliar no melhor encaminhamento para esta geração não adoecer.
O diretor pedagógico do Darwin, Fabrício Silva, conta que a instituição percebeu que há crianças da educação infantil – na faixa etária até 6 anos – já hiperconectadas, ou seja, uma boa parte dos pais já fornece o seu próprio celular para o filho ter “entretenimento”.
Fabrício Silva desaconselha essa prática. “Retardar o uso do celular/telas na primeira infância é o primeiro passo. Assim que o filho receber um smartphone, regras devem ser estabelecidas: tempo de uso, acesso às redes sociais do seu filho e instalação de aplicativos de proteção”, sugere.
Nas escolas, acrescenta o diretor, o uso de tecnologia deve ter finalidade pedagógica, para que alunos tenham aulas diferenciadas e criativas, mas não necessariamente com uso desses aparelhos.
O diretor do Colégio Marista acrescenta que é preciso estabelecer uma parceria bem alinhada para educar com o uso saudável das tecnologias.
“É necessário demonstrar os benefícios e os malefícios das tecnologias, além de estimular e incentivar atividades que promovam as interações entre pessoas. Para a escola, é preciso criar projetos sobre o papel da tecnologia e sobre uso correto e saudável e estimular as atividades que valorizem a interação entre os colegas da turma”, finaliza Álvaro Gonçalves. question_answer
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Parceria de
escolas e família
As famílias precisam atuar com as escolas para educar sobre o uso equilibrado das tecnologias
O que se faz urgente é um monitoramento do uso de tais tecnologias não somente nas escolas, mas também, e principalmente, em outros espaços de convivência e socialização.”
Silvana Bizzo Cruz
Coordenadora pedagógica-geral do Colégio Sagrado Coração de Maria
Retardar o uso do celular/telas na primeira infância é o primeiro passo. Assim que o filho receber um smartphone, regras devem ser estabelecidas.”
Fabrício Silva
Diretor pedagógico do Darwin
É preciso criar projetos sobre o papel da tecnologia e sobre uso correto e saudável e estimular as atividades que valorizem a interação entre os colegas da turma.”
Álvaro Gonçalves
Diretor do Colégio Marista Nossa Senhora da Penha
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O futuro é agora: como a tecnologia está presente
na educação
Realidade virtual e equipamentos eletrônicos são algumas das apostas
Espírito Santo
2024
O futuro chegou e o que antes parecia apenas coisa de filme já faz parte da realidade de muita gente. A inteligência artificial, por exemplo, era uma ferramenta muito explorada em tramas de ficção científica pelas infinitas possibilidades de utilidade sem a intervenção humana. Hoje em dia, ela já é amplamente aplicada em diferentes setores, inclusive, como aliada nos processos educacionais, seja apenas para auxiliar a vida dos professores, seja para melhorar o aprendizado dos alunos.
De acordo com o levantamento “Inteligência Artificial na Educação Superior”, realizado em agosto deste ano pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), sete em cada dez estudantes têm interesse em estudar em instituições que utilizam a tecnologia nas metodologias de ensino.
Entre os entrevistados, pelo menos 80% afirmaram conhecer as ferramentas mais populares – como o ChatGPT e o Gemini – e mais de 70% já as utilizam na rotina pessoal de estudos.
“A IA pode ser uma grande aliada no processo de aprendizagem quando é capaz de personalizar conteúdo de acordo com o nível de aprendizado de cada aluno, com jogos educacionais que tornam o aprendizado mais envolvente e até colaborando para o aprendizado na computação”, afirma Susiléa Abreu dos Santos Lima, professora e coordenadora dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação na Universidade Vila Velha (UVV).
Susiléa ainda destaca que não dá mais para ignorar as facilidades que essa tecnologia pode proporcionar, como na produção de questões, na geração de conteúdo, na produção de slides, na geração de imagens e, até mesmo, na geração de código de programação.
Entretanto, ela chama atenção para que a IA seja adotada como uma ferramenta de apoio, e não como uma substituta do pensamento humano. Ou seja, é preciso integrá-la de maneira ética e pedagógica, para que realmente contribua no aprendizado dos alunos sem comprometer o desenvolvimento de habilidades essenciais, como a criatividade e o raciocínio crítico.
“A UVV, reconhecendo a falta de habilidade no uso de computadores entre muitos estudantes, procura trazer disciplinas introdutórias para que os alunos desenvolvam competências tecnológicas básicas, como o uso de ferramentas de produtividade, organização de informações e pesquisa acadêmica”, explica a especialista. arrow_drop_down
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Se antes a inteligência artificial
era coisa de filme, hoje ela já é
uma realidade. Mas quais outras
tecnologias têm sido utilizadas nas
redes de ensino atualmente?
A IA pode ser uma grande aliada no processo de aprendizagem quando é capaz de personalizar conteúdo de acordo com o nível de aprendizado de cada aluno, com jogos educacionais que tornam o aprendizado mais envolvente.”
Susiléa Abreu dos Santos Lima
Professora e coordenadora dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação da UVV
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Para além da graduação, a IA e o uso de novas tecnologias também têm sido muito representativos em turmas dos ensinos fundamental e médio de escolas. Mais do que apenas reforçar novas maneiras de ensinar, ferramentas também têm se apropriado desses recursos para promover acessibilidade.
Um exemplo são os dispositivos OrCam MyEye 2.0, óculos de alta tecnologia, utilizados por alunos com deficiência visual da rede estadual de ensino e dos Centros Estaduais de Educação Técnica (CEETs). Os equipamentos contam com uma tecnologia assistiva, que utiliza uma câmera inteligente para ler textos, reconhecer rostos, identificar produtos e transmitir essas informações por áudio.
“É a tecnologia a favor da melhoria do aprendizado e da inclusão. Certamente, esses alunos vão ter uma experiência ainda melhor ao utilizarem esses óculos tanto na alfabetização quanto na preparação para a vida. Esses dispositivos ajudam na dinâmica e na velocidade de todo o processo de aprendizado”, destaca Bruno Lamas, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional.
Já foram adquiridos e entregues mais de 50 dispositivos para os alunos no mês de agosto. A expectativa é ampliar esse número, assim como o estudo de outros produtos, não apenas para a educação, mas também para outros segmentos da sociedade que podem utilizar da IA para melhorar os fluxos, afirma o secretário.
Para a Escola Americana de Vitória (EAV), tecnologia é fundamental. De acordo com o diretor-executivo da instituição, Cristiano Carvalho, existe um trabalho de identificar em qual nível de aprendizado o aluno está em relação a competências específicas de aprendizagem e de que forma as trilhas de aprendizagem podem ser trabalhadas.
“Adotamos as plataformas mais variadas de tecnologia para proporcionar ao aluno a melhor aprendizagem tecnológica. Assim, na nossa matriz curricular temos disciplinas de pensamento computacional em que ele aprende a programar, por exemplo, que é uma habilidade. Não queremos que eles sejam apenas consumidores desses produtos, mas que entendam como tudo funciona”, reforça.
Cristiano complementa que, entre as esferas de ensino, a EAV ainda estimula o aluno a se posicionar digitalmente em redes sociais, por exemplo. Isso porque o objetivo é que, à medida que o estudante cresça, aprenda a usar a tecnologia para validar informações e dados. question_answer
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Quando a tecnologia chega também
aos pequenos
É a tecnologia a favor da melhoria do aprendizado e da inclusão. Certamente, esses alunos vão ter uma experiência ainda melhor ao utilizarem esses óculos tanto na alfabetização quanto na preparação para a vida.”
Bruno Lamas
Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (Secti)
Adotamos as plataformas mais variadas de tecnologia para proporcionar ao aluno a melhor aprendizagem tecnológica.”
Cristiano Carvalho
Diretor executivo da Escola Americana de Vitória (EAV)
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Novo
Ensino Médio: quando o
“dever de
casa” é ser interessante
Espírito Santo
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Mudanças propostas pelo
Ministério da Educação trazem
novidades para os alunos a partir
de 2025, mas também levantam
discussões entre educadores sobre
os desafios em sala de aula
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Falar de “Novo Ensino Médio” não é um assunto tão novo assim. A lei que revisa a grade curricular e a vocação dos anos finais da formação dos estudantes antes do ingresso na faculdade foi aprovada em 2017 e começou a ser implementada de forma efetiva em 2022. Apesar de não ser uma novidade propriamente dita, o tema segue gerando debates de Norte a Sul do Brasil e, no Espírito Santo, passou a ser incluído nas salas de aula de forma progressiva, com resultados importantes tanto na estrutura quanto na qualidade do ensino.
Nos últimos sete anos, a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) adotou uma série de medidas para adaptar a rede pública capixaba às novas diretrizes. O secretário Vitor de Angelo ressalta que, mesmo em meio a críticas e questionamentos, uma coisa não pode ser negociada: o ensino precisa ir ao encontro das necessidades dos jovens estudantes.
2400 horas
É a quantidade mínima de formação básica estabelecida para os três anos do Ensino Médio
“Embora a nova legislação limite a autonomia dos Estados, ela traz padronização em termos nacionais, o que pode ser benéfico. O foco é garantir que as mudanças respondam às críticas feitas e que façam mais sentido para os estudantes”, pondera o secretário.
Entre as escolas da rede particular no Estado, mudanças já eram aguardadas e debatidas pelo setor havia anos, segundo Eduardo Costa Gomes, conselheiro do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espírito Santo (Sinepe-ES). Ele mira a flexibilidade de escolhas dos alunos como um dos pontos centrais de reflexão neste momento.
“A alteração das 1.800 horas de formação geral básica para 2.400 em todo o ensino médio faz com que a escola dê menos opções de escolhas para o aluno na parte flexível do currículo – ou seja, das trilhas de aprofundamentos, antigamente chamada de itinerários formativos. Mas, ainda assim, haverá 600 horas para atividades de escolha dos estudantes, o que é considerado muito interessante e importante para os adolescentes”, aponta Gomes.
E tome mudança!
Em agosto passado, uma nova mudança foi proposta pelo governo federal, visando a aprimorar a formação dos estudantes e responder às críticas do modelo anterior. Disciplinas tradicionais, como Português, Matemática, Física, Química, Inglês, História e Geografia, ganharam mais espaço, e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não poderá conter questões relacionadas à grade flexível – quando o aluno tem o poder de escolher uma determinada área para se aprofundar, abrindo mão de outros conhecimentos.
“Aqui no Estado, algumas escolas que ofertam ensino integral já ofereciam componentes que eram novidades no Novo Ensino Médio e que passaram a ser implementados em toda a rede, como projetos de vida e estudos orientados”, observa o secretário Vitor de Angelo, salientando que algumas mudanças, consideradas significativas, começarão a ser vistas em 2025.
Segundo o conselheiro do
Sinepe-ES, a expectativa das escolas particulares é que o novo currículo deixe o ensino médio mais atrativo para os adolescentes, tornando a escola um lugar de aprendizado com escolhas que ampliem o horizonte estudantil. “Mudanças nunca são fáceis, mas as instituições particulares têm uma velocidade muito grande de adaptação
em busca de um ensino de
excelência para os estudantes”, avalia Gomes. arrow_drop_down
Espírito Santo
2024
Sedu avalia
estratégias para
promover evoluções
Para avançar em meio às mudanças do ensino médio, o secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, explica que o governo vai seguir investindo na qualidade das instruções ofertadas e em pontos ligados à infraestrutura escolar, nos quais “o Espírito Santo já avançou bastante, mas ainda tem espaço para melhorias”.
“Estamos em uma educação que ainda está abaixo do esperado, e isso requer atenção contínua. A política pública é sempre incremental, e cada gestor deve continuar a aprimorar o que já foi feito, adaptando-se às novas realidades e desafios, garantindo que o ensino médio atenda às expectativas dos estudantes e professores, fazendo sentido para a comunidade escolar”, pontua o titular da Sedu.
Eliza Bartolozzi, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), afirma que o Estado vem praticando uma política – centrada na avaliação dos alunos – que assegura uma proficiência na realização de testes sobre a qualidade do ensino. Ainda assim, segundo ela, não é possível afirmar que isso pode se equiparar a uma verdadeira apropriação do conhecimento científico e cultural nas escolas.
“As pesquisas realizadas até o momento revelam situações complexas e deficitárias em todo o país. Os estudantes perderam o acesso aos conhecimentos fundamentais para uma formação plena, já que ocorre uma simplificação do conhecimento escolar, e os docentes vêm trabalhando mais e em condições piores”, sinaliza.
Eliza explica que, apesar de o Estado apresentar bons números em levantamentos como o do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), figurando na segunda colocação nacional na classificação de aprendizagem do ensino médio, estudantes ainda são expostos a conteúdos simplificados e superficiais, sem explorar toda a profundidade e complexidade desses conhecimentos.
“Precisamos mudar o foco da política educacional do Estado, centrar mais no processo de aprendizagem do que nos resultados. É preciso melhorar a infraestrutura das escolas e, sobretudo, fomentar o uso de bibliotecas para que nossos estudantes tenham mais acesso à literatura nacional e internacional”, defende Eliza, que também é doutora em Educação. arrow_drop_down
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Com a continuidade dos investimentos e ajustes necessários, podemos melhorar ainda mais os resultados e atender melhor às expectativas dos nossos estudantes.”
Vitor de Angelo
Secretário de Estado de Educação
Espírito Santo
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No âmbito das mudanças, escolas privadas e instituições especializadas em ensino personalizado para alunos neurodivergentes também se preparam para as alterações no ensino médio.
É o caso da Luma Ensino, empresa que oferece soluções educacionais em ambientes on-line para crianças e adolescentes, promovendo um desenvolvimento mais eficaz e adaptado às necessidades de cada aluno. Para Murilo Carvalho, sócio-diretor da startup, as modificações no ensino médio são positivas. Entretanto, aponta, dependem de atenção e boa gestão para que sejam implementadas com qualidade.
“É necessário cuidado na execução para que não haja perda de conteúdo nas escolas. Atualmente, as cargas horárias das matérias tradicionais são bem ministradas e as matérias que preparam os alunos para a vida são mais relevantes, claro, mas tudo deve ser feito com cautela”, pondera.
Diante disso, com trilhas personalizadas para alunos da rede pública e privada, a Luma oferece um ensino atrativo também para alunos com autismo, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia e outras condições neurológicas com acompanhamento pedagógico para o desenvolvimento dos alunos, contando com relatórios de progresso apresentados aos pais e à escola. arrow_drop_down
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Mudanças exigem atenção redobrada
Atualmente, as cargas horárias das matérias tradicionais são bem ministradas e as matérias que preparam os alunos para a vida são mais relevantes, claro, mas tudo deve ser feito com cautela.”
Murilo Carvalho
CEO da startup Luma
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Com unidades em Vitória e em Vila Velha, a escola Primeiro Mundo foca trilhas de aprofundamento de conhecimentos para garantir que os alunos tenham escolhas ainda mais assertivas em suas jornadas pessoais e profissionais. A escola mantém diálogo constante com a comunidade escolar e, segundo a gestão, as mudanças no ensino médio não se apresentam com dificuldades, mas, sim, com oportunidades.
“O diálogo com as famílias é essencial para qualquer projeto pedagógico dar certo. Elas optam pelas escolas, tendo a certeza da entrega da instituição. Nós apostamos em reuniões individuais e por séries sempre que necessário para trazer toda clareza”, pontua Juliana dos Santos, coordenadora pedagógica do ensino médio na Primeiro Mundo.
Durante o ano letivo, a instituição promove atividades planejadas dentro das quatro áreas de conhecimento: Linguagens, Ciências Humanas, Matemática e Ciências da Natureza. Com isso, estreita laços com a comunidade escolar e com o mercado, deixando os alunos cada vez mais próximos de seus interesses, experimentando atividades internas e externas.
“Contamos com projetos maker desde os anos iniciais com aulas de Tecnologias e Oficina do Conhecimento Científico (OCC). Além disso, no ensino médio, resolvemos problemas de empresas reais por meio de Hackathons (maratonas de programação, em tradução livre), por exemplo”, aponta Juliana.
Para o próximo ano, a escola se prepara para reforçar as atividades preparatórias para Medicina, aulas de monitoria, cursos internos, salas de estudos e para mudanças relacionadas à certificação International Baccalaureate (IB), focada em promover educação de alta qualidade em caráter internacional para projetar os alunos do Espírito Santo para faculdades no exterior. arrow_drop_down
Diálogo com a comunidade é fundamental
Aproximação entre famílias e escolas torna o ensino
mais assertivo e facilita aprendizagem
O diálogo com as famílias é essencial para qualquer projeto pedagógico dar certo. Elas optam pelas escolas, tendo a certeza da entrega da instituição.”
Juliana dos Santos
Coordenadora pedagógica do
Primeiro Mundo
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Mudanças no Ensino Médio: o que você não pode ficar sem saber
Antes: 1.800 horas para disciplinas obrigatórias previstas na Base Nacional Comum Curricular e 1.200 horas para disciplinas de itinerários formativos escolhidos pelo aluno ou curso técnico (optativas).
Agora: 2.400 horas para disciplinas obrigatórias e 600 horas para disciplinas optativas.
Para profissões que exijam tempo maior de estudo, 300 horas da formação geral poderão ser utilizadas para o aprofundamento de disciplinas que tenham relação com o curso técnico –por exemplo, mais Física para alunos de Eletrotécnica.
De acordo com a lei, o Espanhol pode ser ofertado nas escolas, conforme a disponibilidade. Em comunidades indígenas, o ensino médio pode ser ofertado nas línguas maternas de cada povo.
Cada cidade brasileira deverá ter, ao menos, uma escola disponibilizando o ensino médio no período noturno. question_answer
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As novidades
nas salas de aula
– e fora delas –
para 2025
Confira projetos e programas de instituições do ES, do ensino básico ao superior, para o próximo ano
Das escolas da educação básica às faculdades, a busca
é permanente para atender aos anseios dos alunos
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Para acompanhar as constantes transformações pelas quais passa a sociedade, instituições de ensino também inovam e renovam seus espaços e meios de formação.
Das escolas da educação básica às faculdades, a busca é permanente para atender aos anseios das famílias e alunos e manter com eles a conexão indispensável para o processo de ensino-aprendizagem.
Assim, todo ano, uma novidade é apresentada, seja pela oferta de novos cursos e disciplinas, por mudança na estrutura física, seja pelo investimento em equipamentos. Para 2025, não poderia ser diferente nas instituições do Espírito Santo. Confira na próxima página o que vem por aí! arrow_drop_down
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EDUCAÇÃO INFANTIL
Nessa etapa tão importante da formação das crianças, as escolas têm feito investimentos diversos. No Colégio Marista Nossa Senhora da Penha, por exemplo, será ampliado o atendimento. Hoje, a instituição tem turmas com crianças de 2 anos em diante. A partir de 2025, vai acolher também os bebês de 1 ano.
Já no Colégio Sagrado Coração de Maria, haverá novas instalações para as turmas e novos parquinhos.
DISCIPLINAS ELETIVAS
Além da grade curricular com os componentes obrigatórios, no próximo ano os alunos do Sagrado Coração de Maria terão disciplinas eletivas de Culinária, Educação Financeira, Teatro, Esportes, Música, Conflitos Contemporâneos e Investigação Forense como opções.
Para turmas do Madan, haverá oferta de aulas extracurriculares de Xadrez, Teatro e Música, que estimulam o raciocínio lógico, a criatividade e a expressão pessoal.
NOVA UNIDADE
A inauguração de mais uma unidade da Escola Americana de Vitória (EAV) está prevista para o segundo semestre de 2025. O novo espaço, no Aeroporto, vai passar a acolher os alunos dos ensinos fundamental II e médio. As turmas da educação infantil e ensino fundamental I permanecem na unidade do Álvares.
DO ES PARA O MUNDO
O Colégio Marista vai estender o programa bilíngue que, atualmente, é oferecido do maternal 3 até o 6º ano do ensino fundamental. A partir de 2025, o 7º ano também será contemplado.
O Primeiro Mundo está em processo de autorização para se tornar uma Escola Mundial IB, mantendo o compromisso de uma educação de nível internacional. Para tanto, em 2025, o centro educacional vai se candidatar à certificação International Baccalaureate (IB).
HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS
A cada dia fica mais evidente a necessidade de se ter habilidades socioemocionais, e as escolas estão atentas a essa demanda dos tempos atuais. No UP Centro Educacional, por exemplo, o ensino fundamental II (6º ao 9º ano) vai passar a ter uma nova disciplina: Desenvolvimento Socioemocional.
Para 2025, no Darwin, a ênfase também será dada ao fortalecimento dos programas socioemocionais com o projeto Cultura da Paz.
O Colégio Sagrado vai adotar o projeto de Inteligência Emocional até o 9º ano.
CULTURA DIGITAL
A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) vai ampliar o número de unidades do programa “Escola do Futuro”, passando de 15 para 50 unidades no ano que vem. Mais 23 municípios e 30 mil estudantes serão atendidos pela iniciativa que, entre outras estratégias, visa ao desenvolvimento da cultura digital na rede estadual de ensino.
VIAGENS
O Madan planeja a organização de viagens pedagógicas tanto no Estado quanto em outras regiões do país, oferecendo experiências educacionais fora da sala de aula.
Nesse contexto, também prevê a participação em simulações da ONU em outros Estados para os alunos desenvolverem habilidades de debate, negociação e compreensão de questões globais.
MENTORIA E MONITORIA
Uma das novidades da Escola Monteiro é um projeto de mentoria para os alunos do ensino médio, a fim de ajudá-los no processo de escolha da profissão, na definição de metas e objetivos e na elaboração de uma rotina de estudos.
No Primeiro Mundo, haverá monitoria para sanar dúvidas em conteúdos de Química, Física e Matemática.
INFRAESTRUTURA
A Escola Monteiro terá novos ambientes para fortalecer os projetos pedagógicos desenvolvidos, como sala de teatro e música, sala exclusiva de inglês e sala de convivência e multiúso, equipada para produções multimídia e projetos audiovisuais.
AMPLIAÇÃO E CAPACITAÇÃO
O Senac vai ampliar a oferta de cursos técnicos em 2025 na área da saúde, alcançando novos municípios. Também está prevista a abertura de turmas para qualificação profissional em inteligência artificial (IA). Os cursos incluirão temas como criação de mídias e desenho de processos.
No próximo ano, a startup Luma Ensino vai ter atividades de capacitação além de salas temáticas e sensoriais, como a Trilha Neuroatípicos, em que pais, alunos e profissionais serão expostos a atividades personalizadas conforme a necessidade de cada estudante, ou o Luma AI, que utiliza a inteligência artificial para gerar diagnósticos para aulas específicas.
CURSO DE MEDICINA
Para quem quer fazer faculdade de Medicina, o Primeiro Mundo planeja reforçar as aulas preparatórias para os alunos em 2025.
Recém-lançado na Faesa de Cariacica, o curso de Medicina, que iniciou as aulas em setembro, é a grande aposta da instituição para o próximo ano. Em um prédio de cinco andares, as instalações dispõem de laboratórios morfofuncionais e multifuncionais, salas de simulação clínica de alta complexidade e salas de atividades em pequenos grupos, entre outros espaços.
Para 2025, a UVV vai investir em medicina robótica no curso de Medicina e deve continuar expandindo as iniciativas no metaverso.
LABORATÓRIOS
Entre as novidades da UVV para 2025 estão a oferta de disciplinas 100% em inglês, o fortalecimento dos laboratórios virtuais e de simulação em áreas como Engenharia, Biotecnologia e Ciência da Computação, e investimentos em programas de parcerias internacionais.
Na Emescam, além de novos cursos, estão previstos investimentos na modernização das estruturas de sala de aula e laboratórios.
INOVAÇÃO
O hub de conexão com o mercado da Faesa (Mov.ie) contará, em 2025, com novos projetos e aprimoramento do espaço para o desenvolvimento da inovação e do empreendedorismo em Vitória.
Já o hub de inovação da Fucape será fortalecido com um programa de aceleração mais robusto para propiciar uma vantagem desproporcional às startups.
LIDERANÇA
Um novo modelo de MBA, focado na experiência, vai ser lançado pela Fucape. O currículo, segundo a instituição, será baseado em três pilares: aprendizado a partir de problemas, networking e experiência de mercado. O programa será direcionado a líderes emergentes.
JOVEM APRENDIZ
No próximo ano, novos títulos em cursos nas áreas de sistemas da informação, farmácia, alimentação (bares e restaurantes) e tecnologia serão incluídos no programa Jovem Aprendiz do Senac.