Paciente em estado grave, respirando
com ajuda de aparelhos, por causa da
infecção do novo coronavírus
Paciente em estado grave, respirando com ajuda de aparelhos, por causa da infecção do novo coronavírus. Crédito: Carlos Alberto Silva

Batalha contra novo coronavírus deixa legado na Saúde do ES

Investimentos na área foram reforçados, com ampliação de leitos em hospitais públicos e utilização da telemedicina na rede privada do Estado

Vitória
Publicado em 03/12/2020 às 03h00

Apesar de todos os esforços para conter a disseminação do coronavírus e salvar os infectados, a Covid-19 fez mais de quatro mil vítimas no Espírito Santo em 2020. Mas em meio à dor por tantas perdas, a batalha pela vida reforçou os investimentos na Saúde e trouxe a esperança de dias melhores. Na análise dos especialistas, o Espírito Santo ainda vai conviver com os efeitos da doença até que uma vacina segura e eficaz esteja acessível para a maioria da população.

No entanto, a partir do momento em que o esforço de combate ao vírus for encerrado, as medidas adotadas - como aquisição de equipamentos, contratação de profissionais e a abertura de novos leitos nos hospitais - vão marcar o início de uma nova era no sistema público e privado de saúde.

Entre a herança positiva da pandemia se destacam o uso de novos protocolos de segurança, como a incorporação dos equipamentos de proteção individual (EPIs) em todos os setores dos hospitais, a instalação de novos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria, o uso da telemedicina, a valorização e o maior aparelhamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

Nésio Fernandes

Secretário de Estado da Saúde

"Existe um legado de infraestrutura e um legado político. O ano de 2020 está marcado como o ano em que amplos setores políticos e sociais do país voltaram a defender o SUS. Até setores do centro e da direita passaram a rever seus posicionamentos, e o SUS voltou a ser um campo de unidade ampla na sociedade brasileira"
A rotina na UTI também é feita de anotações, relatórios, etc
Novos protocolos de segurança e maior valorização dos SUS são consequências da pandemia . Crédito: Carlos Alberto Silva

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES), Celso Murad, também acredita que os investimentos e a discussão em torno da importância de estruturação dos equipamentos públicos de saúde contribuíram para restaurar o papel do SUS como protagonista na assistência à saúde do cidadão.

“Reforçamos o entendimento quanto à importância de oferecer uma rede tecnicamente equipada para dar segurança a qualquer tipo de agravo à saúde. Tivemos a ampliação do serviço de leitos de terapia intensiva, com equipes organizadas. Além disso, melhoramos muito o conhecimento técnico em relação aos processos infecciosos que acometem o sistema respiratório”, destaca Murad.

Na avaliação da médica infectologista Polyana Gitirana Guerra, a melhoria da estrutura médico-hospitalar no Espírito Santo é uma conquista concreta, já que o governo estadual adotou como estratégia a implementação de leitos fixos, diferente de outros Estados que optaram pela contratação de hospitais de campanha, com estrutura particular, opção que se mostrou ineficiente.

“Tínhamos um déficit muito grande de leitos respiratórios porque presumem uma característica específica e foram necessárias várias adaptações físicas para garantir isolamento respiratório”, observa.

INVESTIMENTOS

Segundo o Ministério da Saúde, próximo de R$ 1,7 bilhão foi repassado pelo órgão à Saúde no Espírito Santo em 2020. Desse total, R$ 438,4 milhões foram destinados às despesas e serviços relacionados à Covid-19. O Estado recebeu do governo federal 5,6 milhões de EPIs, como máscaras e óculos, além de álcool 70%, aventais e luvas.

Neste período, o Ministério também habilitou 561 leitos ao custo de R$ 80,9 milhões. Já na esfera estadual, até dezembro, o valor investido pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) é de R$ 600 milhões.

O montante tem sido usado para aquisição de equipamentos de proteção, respiradores, insumos, abertura e adequação de leitos na rede própria de saúde, compra de leitos, aquisição de kits de testagem, contratação de pessoal e obras.

R$ 1,7 bilhão

FOI RESPASSADO PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE AO ES EM 2020

Nésio Fernandes destaca que, ainda no mês de fevereiro, o governo identificou o risco e os possíveis desdobramentos que a pandemia do coronavírus poderia causar, por isso antecipou projetos previstos no planejamento estratégico da pasta.

Devido às ações adotadas, 684 leitos de UTI e enfermaria abertos nos hospitais administrados pelo Estado ficarão como legado após a pandemia. Há ainda possibilidade de que outros 100 novos leitos sejam entregues.

“No momento em que o Ministério da Saúde oferecia alugar mil leitos de UTI para oferecer para o Brasil inteiro, já tínhamos o projeto de expansão de 380 leitos na rede própria do Estado. A estratégia foi se atualizando ao ponto de que nós chegamos a disponibilizar mais de 1.500 leitos de enfermaria e UTI para atender pacientes Covid”, destaca Nésio.

Outro reflexo da pandemia é o reforço na contratação de profissionais. Antes do coronavírus, a Sesa contava com 2.830 contratos temporários. Para atuar na guerra contra o inimigo invisível, 500 profissionais foram chamados por meio de um processo seletivo iniciado em 2019.

Em abril de 2020, foi aberto um novo processo autorizando a contratação de até 2.000 cargos de nível superior e outros de níveis médio e técnico específicos para atendimento de Covid-19. Essas vagas já foram ocupadas com a contratação de 280 médicos, 302 enfermeiros, 967 técnicos de Enfermagem e 451 profissionais de saúde de outras categorias.

Segundo especialistas, uma das principais características do vírus é atacar o pulmão, comprometendo o padrão respiratório, por isso a ventilação mecânica é necessária no quadro grave da doença. Para garantir o atendimento e a manutenção dos leitos de UTI para pacientes com Covid, o Estado adquiriu 460 respiradores e 135 ventiladores mecânicos portáteis para suporte.

Desses, 129 foram enviados pelo Ministério da Saúde, outras entidades doaram 37 e 99 foram comprados pela Organização Social que administra um dos hospitais de referência no Estado, o Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, localizado na Serra. Ao todo, 860 aparelhos estarão à disposição da rede hospitalar.

Nésio Fernandes

Secretário Estadual de Saúde

"Vai ficar o legado da estratégia que a gente assumiu no enfrentamento à pandemia, que vai fortalecer e melhorar a nossa capacidade de transformar o SUS, da constituição do SUS real na vida das pessoas. Aí você tem tudo aquilo que está concatenado com a estratégia assistencial. Nós conseguimos reposicionar a importância da atenção primária no Estado"
Sistema de desinfecção por radiação ultravioleta no Hospital Unimed Vitória, uma das inovações tecnológicas implantadas no complexo
Equipamento utilizado pela Unimed desinfeta ambientes hospitalares por meio de radiação ultravioleta. Crédito: Unimed Vitória/Divulgação

PRIVADO

Além dos investimentos na rede pública, os hospitais privados também apor - taram recursos para a aquisição de no - vos e modernos equipamentos e ainda investiram na telemedicina, ferramenta que veio para ficar.

Unimed, por exemplo, adquiriu um sistema de desinfecção de ambientes hospitalares por meio de radiação ultravioleta, um método que eleva o nível de excelência ao oferecer mais segurança e eficiência. A partir de julho de 2020, a cooperativa médica também implementou o serviço de teleconsulta – modalidade autorizada pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) –, empregando o sistema de conexão por videochamada entre médicos e pacientes.

A doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia, Ethel Maciel, lembra ainda que, profissionais da área de saúde recém-formados puderam iniciar o trabalho na linha de frente da Covid-19, com a antecipação da colação de grau e que em outras áreas de conhecimento também foram reforçadas durante a pandemia.

“Profissionais que normalmente não estão diretamente conectados com a saúde, como matemáticos e estatísticos, também empenharam esforços para entender o comportamento da doença e combatê-la. A Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), por exemplo, sairá da pandemia com pessoas qualificadas, das mais diversas áreas, para trabalhar com dados da saúde”, aponta.

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