Sensores que ajudam a economizar água, drones para fiscalizar a plantação, câmera 3D para acompanhar o desenvolvimento dos animais e reaproveitamento de matéria orgânica. É a tecnologia contra o desperdício e a favor do meio ambiente. Cada vez mais presente no agronegócio capixaba, a inovação tem sido grande aliada dos produtores na missão de produzir mais, agredindo menos.
Porém mais do que reduzir impactos, os agricultores se preocupam também em preservar. Foi informatizando a produção que uma propriedade em Pinheiros, no Norte do Espírito Santo, conseguiu aumentar o cultivo de café conilon e ainda poupar um recurso natural valioso. Os responsáveis pela lavoura substituíram o modelo de pivô central - estrutura suspensa que irriga as plantas - pela tecnologia de precisão do gotejamento monitorado, diretamente no solo.
Sensores na plantação produzem relatórios computadorizados, que ajudam a monitorar onde e quanto irrigar. Com as informações em mãos, a irrigação dos 500 mil pés de café pode ser acionada pelo celular. Para se ter uma ideia, essa técnica proporciona uma redução do uso de água e adubo em 25%, isso sem contar na economia de energia.
Evitar desperdício também é o objetivo da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi), com sede em Santa Maria de Jetibá. A bióloga da cooperativa, Marcela Takiguti, explica que, com uma visão mais sustentável, até o que seria problema vira solução. Assim ovos quebrados que seriam descartados dão origem ao ovo líquido pasteurizado, e as fezes das aves da avicultura de postura se transformam em fertilizante orgânico.
Marcela Takiguti
Bióloga da Coopeavi
"Também realizamos plantio de árvores para recuperar áreas degradadas da cooperativa anualmente e agora, com o novo supermercado, vamos implementar a coleta de pilhas e baterias para todas as unidades e clientes"
No Caparaó, os cafeicultores da região têm se dedicado à recuperação de nascentes. A atividade consiste em limpar e cercar a área das nascentes evitando, assim, que os animais causem danos e sujem a água. A prática ainda controla a erosão e os produtores realizam plantio de espécies nativas. Além da preservação ambiental, a iniciativa ajuda a elevar a renda dos produtores por meio de melhorias na qualidade do café.
A tecnologia também trouxe eficiência para o campo. Na pecuária, por exemplo, uma câmera 3D portátil permite o monitoramento quase que diário do desenvolvimento dos animais. A ferramenta, que foi desenvolvida por uma startup capixaba, fotografa o boi que passa em frente à câmera e faz automaticamente a pesagem, como se fosse uma balança virtual.
Já nas lavouras de café, cana-de-açúcar e abacaxi os dones são grandes aliados. As imagens aéreas ajudam a localizar áreas atingidas por pragas e ainda detectar quais partes do plantio precisam receber mais insumos. O subsecretário de Aquicultura, Pesca e Desenvolvimento Rural Sustentável, Michel Tesch, observa que o mercado consumidor, cada vez mais exigente, faz questão de comprar alimentos que são cultivados ou produzidos de forma sustentável.
Essa cobrança tomou mais força com as graves queimadas na Amazônia e com o incêndio florestal de grandes proporções que destruiu parte do Pantanal. Para provar essa nova tendência, as gôndolas dos supermercados e balcões de feira já têm um espaço reservado para peixes, ovos, frutas, verduras e até carne orgânicos. Atualmente, o Estado tem 482 produtores orgânicos certificados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
“O apelo ambiental pode ser sentido em toda a cadeia produtiva. Um exemplo é o café que está nas prateleiras. O produto foi comprado por uma torrefadora, que, por sua vez, comprou de um trader ou direto de um produtor. Se o cliente dessa marca passar a exigir conceitos de sustentabilidade, ela vai exigir do trader e que vai exigir do produtor. Felizmente o agricultor está atento ao cultivo sustentável”, explica Tesch.
O Espírito Santo tem uma pauta muito voltada para agronegócio no exterior, principalmente focado nos três principais produtos capixabas comercializados para fora do país: café, celulose e pimenta (vendida para 79 países). Juntos, os três produtos somaram em exportação R$ 7,14 bilhões em 2019.
Michel Tesch
Subsecretário de Aquicultura, Pesca e Desenvolvimento Rural Sustentável
"“Sentimos todos os impactos de uma economia global, pois estamos inseridos em uma cadeia muito maior do que o nosso território. Não é necessário desmatar para aumentar a produção, em nenhuma hipótese"
Prova disso é a produtividade do café, por exemplo, que, em média, é de 42 sacas por hectares. Porém, algumas lavouras, com boas práticas, conseguem ampliar a produção para 100 sacas em um mesmo pedaço de terra.
“Isso demonstra que é possível duplicar a produção, sem abrir áreas novas. Só atuando no aumento da produtividade. Existem várias ações de integração entre lavoura, pecuária e floresta. É possível ter o cultivo de culturas, como soja e milho, floresta e pastagem. O agronegócio está conectado com as ações ambientais”, comenta.
127%
FOI O CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO PECUÁRIA NO ES DE 1997 a 2019 EM CABEÇA DE GADO
Essas tecnologias ajudam a melhorar a produção do café em uma área menor e essa evolução tem sido sentida na prática. Segundo Tesch, de 1993 a 2018, a produtividade do café conilon passou de nove sacas por hectares para 42 sacas, em média
“Isso significa que, para ter a mesma produção de 35 anos atrás, são necessários apenas um quarto da área, com potencial cada vez maior. O Estado tem gerado tecnologia, pesquisa e assistência técnica e faz com que isso chegue no campo para ações de sustentabilidade na produção, seja no café ou na pecuária”, pontua.
O subsecretário reforça que o Estado adota práticas que incentivam as ações ambientais positivas do agronegócio capixaba. Para o cultivo do café, por exemplo, há certificação estadual para quem pratica a cultura sustentável. “Tudo tem sido feito com base em três tripés: sustentabilidade, social e econômica. Cabe ao Estado desenvolver tecnologias que permitam o uso sustentável dos recursos naturais e transmiti-las aos agricultores e pecuaristas para que eles possam produzir nessa geração sem comprometer a capacidade produtiva das gerações futuras”, ressalta.
A pecuária capixaba também tem uma produção bem expressiva, tanto na criação de gado de corte quanto de leite. Na pecuária de corte, o subsecretário destaca a evolução da produção nos últimos anos. De 1997 a 2019, o Estado saiu de 125 mil para 284 mil cabeças de gado. O peso final de todo o gado de corte produzido no ES também subiu, de 26 milhões para 72 milhões de quilos, no mesmo período. Isso representa um aumento de 127% em número de animais e 180% no peso.
“O resultado é consequência de todo o investimento realizado na tecnologia, melhoria genética e manejo das pastagens. No entanto, ainda enfrentamos um grande desafio de recuperar as pastagens degradadas. Ainda há um percentual grande de área que a gente precisa lidar. Para isso, estamos fazendo ações de transferência de tecnologia e a inserção de lavoura, pecuária e floresta, porque precisamos transformá-las em áreas produtivas novamente dentro do processo de sustentabilidade”, explica Tesch.
Outro ponto que o Estado avançou foi na precocidade, ou seja, a idade de abate dos animais. Antes o abate ocorria em até 60 meses, cerca de quatro a cinco anos. Mas com a tecnologia atual, o gado é abatido com 16 a 18 meses.
“Os bois ficam em confinamento ou semiconfinamento e não chegam ao pasto, ficam no estábulo e lá mesmo recebem toda a alimentação. Esse é um tipo de evolução, com capacidade produtiva alta. A área de pastagem, por exemplo, pode ser utilizada para outros cultivos, como o de milho, que vai servir para alimentação animal. A pecuária vem evoluindo muito, mas ainda é o nosso desafio para aumentar ainda mais essa produtividade, com foco na sustentabilidade”, explica.
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