A corrida pelo hidrogênio verde tem atraído a atenção de gigantes do petróleo, interessadas em fazer a transição para a nova matriz energética. Pelo menos quatro projetos para produção de energia eólica estão em andamento no Espírito Santo. Localizadas sobretudo no litoral da Região Sul do Estado, elas prometem inaugurar essa outra forma de geração de energia em solo capixaba. Todas são offshore, ou seja, com operação no mar.
Os projetos são chamados de Votu Winds, Vitoria Offshore, Quesnelia e Projeto Ubu. De acordo com o Atlas Eólico, do governo do Estado, os três primeiros devem ser instalados entre o município de Marataízes e a divisa com o Rio de Janeiro, enquanto o último funcionará em Guarapari.
O subsecretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação, Denio Rebello Arantes, explica que o potencial da costa capixaba foi conhecido pela primeira vez em 2009, mas passou por uma revisão entre os anos de 2021 e 2022. Os resultados foram bastante positivos, conforme garante.
“Nosso antigo mapa da energia eólica no Espírito Santo apontava que éramos um produtor razoável. Contratamos um novo mapeamento de uma agência alemã, que foi feito por especialistas no assunto. Pelos resultados, a gente saltou de uma condição razoável para uma condição excelente”, detalha.
O levantamento indicado no Atlas de 2009 sinalizava que o potencial de energia eólica offshore do Estado era de 4,06 GW, para áreas com vento igual ou superior a 6,5m/s em alturas de 100m. Na comparação com o novo documento, desenvolvido a partir de metodologias mais modernas, o potencial saltou para 142,8 GW, quase 35 vezes superior ao valor inicial.
Também de acordo com Atlas de 2022, o potencial eólico capixaba supera os 160 mil gigawatts ao ano, somando a geração no mar (142.080 GW) e em terra (18.307 GW). Já o consumo de energia eólica no país, em 2021, foi de 500 mil GW. Ou seja, a capacidade de produção do Estado equivale a um terço do consumo brasileiro anual, atualmente.
Denio Rebello
Subsecretário de Ciência do ES
"Nosso antigo mapa da energia eólica no ES apontava que éramos um produtor razoável. Contratamos um novo mapeamento de uma agência alemã. Pelos resultados, a gente saltou de uma condição razoável para uma excelente"
Cada um dos quatro projetos previstos para o Espírito Santo tem uma potência específica, que depende da quantidade de aerogeradores (o famoso “cata-vento”) do empreendimento. No caso do Projeto Ubu, por exemplo, que tem a maior capacidade energética, a potência total é de 2.520W, utilizando aproximadamente 180 turbinas eólicas.
Em seguida, aparece a Votu Winds, com potência de 1.440W e 144 aerogeradores; a Quesnelia, cuja potência será de 1.240W a partir de 62 turbinas; e, por último, a Vitória Offshore, que apresentaria 495W durante o uso de 33 aerogeradores.
142,8
É a quantidade de GW que o ES tem potencial para gerar por meio dos ventos, valor 35 vezes maior do que levantamento feito em 2009, segundo novo estudo
Licenciamento Ambiental
Para atuar na costa capixaba, no entanto, essas empresas ainda dependem de uma autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Um dos coordenadores da diretoria de licenciamento ambiental do instituto, Eduardo Wagner da Silva, destaca que primeiro é preciso apresentar um estudo com os impactos do empreendimento ao meio ambiente.
Até o momento, nenhum projeto conseguiu o aval do órgão. A previsão é que essas análises comecem a ser apresentadas e aprovadas em todo o país até 2024. No Espírito Santo, o pedido mais antigo é da Votu Winds, aberto em dezembro de 2020. Os demais vieram em sequência, como o da Vitoria Offshore e da Quesnelia, em janeiro de 2022; e do Projeto Ubu, em março de 2022.
“A instalação dos empreendimentos é algo sensível para o ecossistema. Pela proposta, eles não serão flutuantes, mas sim fixos, com grandes estacas no fundo do mar. O impacto é diagnosticado, e depois é analisado como funcionará a instalação. O solo marinho deve ser levado em conta, a importância de não interferir em bancos de corais, o impacto do som, entre outros”, aponta.
No entanto, outro motivo que pode atrasar a instalação dos empreendimentos, conforme defende o especialista, é a necessidade de regulamentação da energia eólica offshore no país. Ainda não há uma legislação que traga detalhes de como funcionará a exploração dessa matriz energética.
Em 2023, é possível que essas regras estejam melhor definidas após um decreto estabelecido pelo governo federal no início de 2022. Os empresários, contudo, esperam ainda a aprovação de um projeto de lei no Congresso, para dar maior segurança jurídica.
“Fazer um estudo ambiental robusto, por exemplo, não é um investimento barato. Essas empresas precisam de uma regulamentação do setor para decidir onde vão operar, analisar se o esforço para pedir o licenciamento valerá a pena. Se as previsões estiverem certas, ano que vem deve haver uma corrida para o começo das operações”, acredita Eduardo.
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