De diferentes cores e origens, o hidrogênio está no foco dos debates sobre energias renováveis em todo o mundo. Apesar de ser um componente antigo – normalmente lembrado como um gás sem cheiro, sem cor e sem sabor –, ele se tornou uma solução promissora para salvar o meio ambiente, atraindo investimentos em pesquisa e inovação.
Especialistas da área afirmam que a utilização do hidrogênio como fonte de energia é uma chave para um futuro neutro em dióxido de carbono (CO2), grande vilão do aquecimento global. Até o final de 2022, empresas internacionais já previam projetos que pudessem acelerar essa produção no Espírito Santo.
Em todo o mundo, existe uma corrida para tornar esse combustível viável. O hidrogênio é um dos elementos mais abundantes da natureza, só que ele não é encontrado naturalmente disponível para ser usado como fonte de energia.
Por isso, precisa ser produzido a partir de processos, a chamada eletrólise, que isolam a molécula de hidrogênio. No entanto, esse isolamento é o que determina se será sustentável ou não.
Quando as matrizes para a realização da eletrólise forem renováveis (eólica e solar são), ele é considerado uma energia limpa. Esse é o caso do hidrogênio verde, conforme explica o pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Julian Hunt.
“O tipo verde é obtido a partir de uma molécula de água (H2O), que é composta de dois átomos de hidrogênio (H2) e um de oxigênio (O). Só conseguimos separar o hidrogênio após a eletrólise. Mas esse processo requer muita energia, sobretudo de fontes renováveis. Nisso entram as energias eólica e solar. Ele só pode ser considerado limpo se tiver uma origem sustentável, sem emissão de gases”, detalha.
Em outros casos, porém, o hidrogênio pode ser tão prejudicial quanto os combustíveis já utilizados no dia a dia. O tipo cinza, que é produzido a partir do vapor do gás natural, pode ser altamente poluente, segundo o professor Josimar Ribeiro, do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento em Eletroquímica da Ufes.
“No caso do hidrogênio rosa, é usada a energia de usinas nucleares. Existe ainda o azul, cuja origem também é a eletrólise, mas utilizamos energia termoelétrica para gerá-lo. Isso é um problema, porque emite muito CO2 na atmosfera. Além disso, se estiver envolvido com emissões de metano - aquele do pum das vacas -, temos o hidrogênio turquesa”, detalha.
Julian Hunt
Pós-doutorando em Química na Ufes
"O tipo verde é obtido a partir de uma molécula de água (H2O), que é composta de dois átomos de hidrogênio (H2) e um de oxigênio (O). Só conseguimos separar o hidrogênio após a eletrólise. Mas esse processo requer muita energia, sobretudo de fontes renováveis."
Julian Hunt destaca ainda outras cores que podem surgir com o elemento: o roxo, que também tem origem de fontes nucleares, assim como o rosa; o amarelo, oriundo da eletrólise da água utilizando eletricidade da rede elétrica; e o preto e o marrom, que se originam após a gaseificação do carvão. Todos eles, de alguma forma, apresentam riscos ao meio ambiente.
Interesse na produção
A gerente-executiva do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), Marília Silva, destaca que o mercado capixaba já está de olho nessa nova matriz energética sustentável. Com os projetos de energia eólica que estão em curso no Estado, além dos solares já existentes, a expectativa é que futuramente também seja fabricado o hidrogênio verde.
Ainda segundo o professor Josimar Ribeiro, a previsão é que essa produção dê “um salto” nos próximos anos, tendo em vista a movimentação de outras empresas que têm filiais no Estado.
Josimar Ribeiro
Professor do Laboratório de Eletroquímica da Ufes
"Seria bastante interessante capturar esse elemento [hidrogênio verde] em terras capixabas, tratá-lo e depois comercializá-lo"
“A empresa White Martins já tem uma pequena fábrica produzindo esse hidrogênio sustentável. Pode ser que eles tragam isso para o Espírito Santo no futuro. Outra fábrica que não é do Estado, mas tem uma filial aqui, que é a Nexa, também chega a produzir o hidrogênio. No entanto, ainda joga fora, pois não é viável. Seria bastante interessante capturar esse elemento em terras capixabas, tratá-lo e depois comercializá-lo”, aponta.
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