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Inteligência artificial transforma empresas e serviços públicos no ES

Inteligência artificial transforma empresas e serviços públicos no ES

Estado experimenta os benefícios da tecnologia com melhoria nos serviços públicos e aumento da produtividade nas empresas

Publicado em 19 de dezembro de 2023 às 04:00

Ícone - Tempo de Leitura 8min de leitura
Inteligência artificial têm aberto portas para garantir futuro mais tecnológico ao ES
Inteligência artificial têm aberto portas para garantir futuro mais tecnológico ao ES. (Fernando Madeira/Montagem)
Beatriz Heleodoro
Produção CBN Vitória / [email protected]

A cada ano, entre os meses de outubro e novembro, o dicionário inglês Collins, da editora HarperCollins, elege a “palavra do ano”. Entre milhares de opções, o termo, sigla ou expressão é escolhido minuciosamente por dicionaristas que pautam a decisão com base na relevância que aquele assunto ganhou nos últimos meses. É a frequência com que aquele tema é mencionado em veículos de mídia, redes sociais e literatura que influencia na escolha.

Em 2023, a palavra escolhida não se limitou ao boca a boca. Sua relevância também não é considerada algo passageiro. Definida pelo próprio dicionário inglês como uma “modelagem das funções mentais humanas por programas de computador”, a inteligência artificial (IA) se tornou um dos assuntos mais falados dos últimos tempos, e com razão.

Só no Espírito Santo, segundo dados do Itaú Unibanco, os gastos de capixabas com ferramentas que utilizam a IA cresceram mais de 500%, apenas entre janeiro e maio de 2023. Mais do que uma expressão do momento, a inteligência artificial passou a fazer parte do cotidiano capixaba.

Afinal, ainda que não haja carros voadores no céu, assistentes virtuais e sistemas inteligentes estão cada vez mais presentes no dia a dia. O que parecia filme de ficção agora faz parte da realidade de empresas, de instituições públicas e da sociedade, em geral.

São ferramentas simples que utilizam a inteligência artificial para otimizar processos, valorizar a mão de obra humana e facilitar a rotina, transformando todos os setores, impulsionando inovações e permitindo o crescimento local e o desenvolvimento de gerações. Em um mundo em que a tecnologia dita o amanhã, a IA permite que o futuro seja vivido no presente em todo o Espírito Santo.

IA PRESENTE NO ESPÍRITO SANTO

Quando o ChatGPT – uma ferramenta on-line que simula linguagem humana e é capaz de escrever textos, formular perguntas e construir roteiros – foi lançado em novembro de 2022, muita coisa mudou no campo da tecnologia. O medo de que esse tipo de ferramenta pudesse ocupar o lugar da mão de obra humana acendeu debates acerca dos potenciais e limites desses sistemas.

Com a popularização do termo, porém, a inteligência artificial logo passou a ser aplicada no dia a dia e o uso da tecnologia começou a ser desmistificado. O que era visto como um inimigo tornou-se um aliado, apontando para oportunidades únicas de desenvolvimento de Estados e países.

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O que sentimos na Academia é que estão ocorrendo uma transformação e uma aceitação maior da inteligência artificial. No início, principalmente depois de fevereiro, quando o ChatGPT estourou, muitas pessoas afirmavam que a ferramenta acabaria com cargos e substituiria a força de trabalho humana. Hoje, eu acho que as pessoas e as empresas já têm o entendimento de que a inteligência artificial é apenas uma ferramenta. E mais, uma ferramenta que não tem algo que só nós humanos temos: a questão cognitiva. O pensar, o transformar e o criar ainda dependem do ser humano

Everson Fraga
Diretor administrativo-financeiro da Fucape Business
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No decorrer do ano de 2023, a IA e a inserção de sistemas como o OpenAI não apenas impulsionaram a produtividade no Espírito Santo como também mostraram o potencial de desenvolvimento do cenário tecnológico capixaba. Em todo o Estado, iniciativas no setor público e no setor privado intensificaram o investimento em IA, beneficiando os mais diversos setores, da saúde à educação.

Em julho, o governo do Espírito Santo divulgou iniciativas que reforçam a aproximação da saúde capixaba com a inteligência artificial. Um novo sistema voltado à gestão pública passou a ser implantado na Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Voltada para transformar dados em informação, a ferramenta visa a otimizar processos e desenvolver os serviços prestados pela secretaria à população.

O setor de produção de alimentos do Espírito Santo também teve a chance de se desenvolver em meados de agosto. Ao utilizar um sistema de IA, o agronegócio capixaba mostrou que está vivendo no futuro: drones com piloto automático, aprimoramento de equipamentos e algoritmo de aprendizado em máquinas são algumas das aplicações da tecnologia no ramo.

Cidades têm migrado serviços para dentro dos celulares (foto feita com ajuda da IA)
Cidades têm migrado serviços para dentro dos celulares (foto feita com ajuda da IA). (Shutterstock)

Tratando de setores ainda mais próximos da população, os serviços do Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran/ES) também se beneficiaram da inteligência artificial. A tecnologia, implantada em setembro, permite vistorias veiculares mais seguras, ajudando a coibir fraudes e adulterações. Um exemplo prático de como a inteligência artificial contribui para a atividade humana, sem substituí-la.

Todas essas aplicações em poucos meses indicam a versatilidade e o potencial da IA para transformar regiões, indústrias e governos. Para Everson Fraga, o Estado está imerso em mudanças muito mais do que tecnológicas. “O Espírito Santo está passando pela transformação não somente tecnológica, mas também no que tange à utilização da inteligência artificial em todos os nichos. Temos a utilização da IA do campo até a indústria”, detalha.

Que o Espírito Santo sabe explorar as potencialidades da IA, não é de hoje. Em junho de 2017, a tecnologia já fazia parte da realidade. Foi nesse período que a Sesa divulgou a implantação de um software criado em uma universidade inglesa que identifica e quantifica sinais precoces de danos causados por acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Seis anos antes da IA se tornar um dos termos mais populares do mundo, o Espírito Santo já caminhava para explorar seus potenciais.

A aceleração do uso da IA em diferentes setores da sociedade capixaba reflete a novidade dessa tecnologia e sua crescente capacidade de aplicação para as mais diversas funções. Para especialistas, a habilidade da ferramenta em encurtar trajetos pode ser diariamente redescoberta. “Essa ciência tem que ser nova e ela é nova. Mas estamos utilizando cada vez mais a inteligência artificial para estreitar o caminho que antigamente era muito longo”, reforça Everson Fraga.

Um exemplo prático dos resultados alcançados pela IA é o Cerco Inteligente implementado no Espírito Santo, aponta o governador do Estado, Renato Casagrande.

“É uma ferramenta extraordinária de investigação. Já recuperamos mais de 600 carros roubados e furtados, só por meio dele [dados até novembro de 2023]. Conseguimos vigiar com a IA veículos que são utilizados pelo crime. O acompanhamento ocorre apenas com lançamento de dados no sistema. É inteligência artificial na veia”, destaca Casagrande.

SEM LIMITES

Com uma extensão territorial de pouco mais de 46 mil quilômetros quadrados e com 3,8 milhões de habitantes, segundo dados de 2022 do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Espírito Santo caminha para se tornar referência no uso da inteligência artificial. Segundo especialistas, o futuro está mais próximo do que se imagina e os limites territoriais e populacionais não são um obstáculo.

De acordo com Hader Azzini, especializado em inteligência artificial e inovação, o Estado – mesmo considerado pequeno em aspectos territoriais – tem diversas oportunidades de se destacar nesse campo. “O Espírito Santo tem uma oportunidade muito grande de avançar com a inteligência artificial porque, diferentemente de muitas outras tecnologias em que é preciso ter uma rede de infraestrutura gigantesca, na IA não há limitação de estrutura física, não há barreira geográfica. A localização geográfica não é uma desculpa, o Espírito Santo pode entrar nessa briga de frente”, aponta Azzini.

Everson Fraga concorda que as questões geográficas não limitam o crescimento da inovação. Para ele, o Espírito Santo pode se tornar referência quando o assunto é inovar. “A inovação não tem barreiras geográficas. A inovação aberta já é isso. A extensão territorial do Espírito Santo não representa o nível tecnológico e de inovação que nós temos aqui”, acrescenta.

Cidade reflexo. Ensaio fotográfico retrata paisagem urbana de Vitória refletida na arquitetura espelhada
Espírito Santo busca refletir desenvolvimento. (Vitor Jubini)

Para os especialistas, mesmo que as fronteiras não delimitem o crescimento do Estado, ainda é difícil quantificar as oportunidades em valores reais.

De acordo com a visão de Azzini, muitas empresas ainda estão se adaptando e aprendendo a aplicar a IA em suas cadeias de inovação. “Talvez seja difícil estimar as oportunidades em real no Espírito Santo, porque, quando converso com as empresas sobre a cadeia de inovação delas, muitas não estão de olhos abertos para inteligência artificial. Estão vendo esse termo surgir, mas ainda não sabem o que fazer com ele”, pontua.

Fraga enfatiza como o investimento em inovação e inteligência artificial ainda é um aspecto dinâmico, o que torna difícil estabelecer valores exatos de investimento. “Quando a gente fala de inovação e tecnologia, o investimento é um tópico extremamente dinâmico. A cada dia, milhares de inteligências artificiais surgem, por isso não dá para precisar um valor de o quanto precisa ser investido. O termômetro é estar competitivo no mercado”, enfatiza.

Apesar da dificuldade em estimar as oportunidades, os especialistas enxergam múltiplos caminhos para investimentos. Um deles, segundo Azzini, é a interface com o consumidor. O que pode ser aplicado em consultórios médicos, por exemplo, pode ajudar a melhorar experiências de compra e atendimento, facilitando o dia a dia do capixaba.

“Podemos investir em qualquer coisa, mas o que se destaca na inteligência artificial, hoje em dia, é a interface com o consumidor. Um consultório médico pode utilizar uma ferramenta on-line como secretária virtual para atualizar horário da consulta, por exemplo. É uma maneira fácil e barata de colocar essas tecnologias a serviço das empresas e ao mesmo tempo trazer valor agregado.”

O reflexo desses investimentos, segundo os especialistas, é o desenvolvimento da economia global e local. Para os dois, com os avanços tecnológicos que o mundo vem vivendo nos últimos tempos, a inovação não é o destino final, mas o caminho a ser seguido.

“Nos próximos dez anos, a inteligência artificial generativa vai adicionar cerca de US$ 7 trilhões à economia mundial. O terceiro maior PIB do mundo é o do Japão, com US$ 4 trilhões. É como se a gente falasse que vai surgir um país novo em uma década, em termos de economia”, destaca Azzini.

“Não existe isso de não investir em inovação ou inteligência artificial. Isso é uma necessidade. A economia capixaba, o desenvolvimento econômico capixaba, as novas empresas e novas tecnologias que surgirão no Espírito Santo vão exigir uma base tecnológica e de investimento que não se trata de escolha, mas necessidade. Não existe desenvolvimento sem inovação”, finaliza Fraga.

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