Considerado por especialistas como o “combustível do futuro”, o hidrogênio verde pode começar a abastecer carros, navios e até aviões nas próximas décadas. Trata-se de uma peça-chave para diminuir os gases do efeito estufa na economia global, que caminha para a descarbonização das suas atividades.
Esse combustível é uma alternativa, por exemplo, para veículos que não podem pesar demais nem podem se dar ao luxo de fazer paradas durante longos trajetos. Além disso, pode beneficiar indústrias, como a siderurgia, que dependem da queima do carvão para produzir aço.
O professor Josimar Ribeiro, que trabalha no Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento em Eletroquímica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explica que, apesar de ser mais caro, o hidrogênio pode ser superior a outros combustíveis, como diesel, gasolina, entre outros produtos. Ele defende que o Brasil só deve começar a ver mudanças significativas no ramo a partir de 2050.
“Na prática, ele é um gás. Nós falamos de combustível, mas esse hidrogênio aparece em formato de gás. Durante o processo de produção, o hidrogênio reage com o oxigênio, formando moléculas de H2O. Você estará gerando, como resíduo, apenas água. Isso é muito bom para o meio ambiente. Para se ter uma noção, a célula a combustível (um tipo de bateria importante para a extração do hidrogênio) não surgiu agora, ela começou a ser utilizada em missões espaciais, também para a geração de água”, destaca.
Segundo o pós-doutorando no Programa de Pós-graduação em Química na Ufes Julian Hunt o peso do hidrogênio verde também é um fator favorável para o seu uso em diferentes veículos, já que é quatro vezes mais leve do que o gás natural. No entanto, novas alternativas de como transportá-lo devem ser pensadas, conforme explica. “Somente com bateria, você não conseguiria chegar até a China, porque é muito longe e não dá para recarregar no meio do caminho, tanto no caso do avião, quanto do navio. Mas o problema é que ele precisa ser liquefeito (transformado em líquido). Se for armazenado pressurizado (com pressão), inclusive, pode chegar a ser mais pesado”, orienta.
Professor de máquinas térmicas do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), José Firmino ainda lista outras possibilidades que esse combustível pode propiciar: “Posso pegar meu carro, ligar numa casa e acender as lâmpadas dela. Ou até mesmo transformar esse veículo em um gerador de eletricidade para um camping. Futuramente, também podemos levar o hidrogênio em barcos e produzir ilhas artificiais para o abastecimento de navios, por exemplo”, afirma.
Exigência de tecnologia
Para que a população comece a ver o hidrogênio com mais frequência no dia a dia, será preciso incorporar tecnologias que suportem esse uso, conforme reforçou Josimar Ribeiro. É o caso da criação de novos modelos de carros, já que os que atualmente estão no mercado não têm as especificidades que esse combustível requer.
“Se a pessoa quiser usar um veículo antigo, toda a parte elétrica precisará ser alterada. Já vi a transformação de um fusca, movido a motor de combustão, para o elétrico, por R$ 60 mil. Para comprar todo o banco de baterias, trocar o motor e colocar a parte elétrica, houve um custo muito grande”, compara.
Um dos veículos que já atua no mercado é o modelo Mirai, da Toyota, totalmente movido a hidrogênio. Lançado em 2015, o carro promete não emitir qualquer gás poluente e liberar “na atmosfera nada mais do que água em forma de vapor”. Também existe o Hyundai Nexo, cujo sistema ainda filtra 99% da sujeira do ar usado. “Esses carros têm eficiência que varia de 25% a 30%, e podem saltar para 70% com o uso do hidrogênio. Para andar, será possível gastar metade do combustível utilizado hoje em dia. Vai demorar, mas teremos, sim, esse processo de substituição”, acredita Firmino.
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