Substituição de veículos movidos à combustão por elétricos, aproveitamento de gases gerados pela indústria para a produção de energia, dessalinização da água do mar para redução do consumo de água doce e desenvolvimento de novos produtos menos poluentes. Essas são algumas iniciativas adotadas por empresas que atuam no Espírito Santo para minimizar danos ao meio ambiente durante os processos produtivos e, ao mesmo tempo, promover a chamada “economia verde”.
Segundo a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), a sustentabilidade é um tema central, amplamente debatido no Conselho Estratégico que reúne as 30 maiores indústrias do Estado.
Entre as ações que fazem parte do planejamento da entidade, estão o mapeamento das iniciativas sustentáveis do setor no Espírito Santo e levantamento de indústrias e fornecedores aptos a oferecerem tecnologias limpas e a firmar parcerias que facilitem a geração de “negócio verde”.
Além disso, o Estado elabora um plano de combate à poluição atmosférica. O compromisso assumido pelo governo estadual durante a 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26) é cortar em 50% as emissões de carbono na atmosfera até 2030 e zerar esse número até 2050.
“As maiores empresas do Estado já têm o compromisso de eliminar as emissões até 2050. É preciso investir em eficiência energética, para produzir o mesmo gastando menos energia, e substituir fontes poluentes por renováveis”, pontuou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, que liderou o consórcio Governadores pelo Clima, na COP26.
O doutor em Ciências Florestais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Luiz Fernando Schettino ressalta que a união entre o poder público e os setores produtivos é fundamental para o sucesso da implementação de práticas menos poluentes.
50%
das emissões de carbono na atmosfera devem ser reduzidas pelas empresas até 2030
Do lado governamental, é possível condicionar a concessão de benefícios fiscais a metas de redução de emissões ou ainda disponibilizar linhas de créditos específicas para financiar essas transformações na operação das empresas, exemplifica Schettino.
Muitas das soluções sustentáveis para auxiliar a evolução do modelo de produção estão sendo implementadas pelas indústrias do Espírito Santo.
A Suzano, que produz celulose em Aracruz, Norte do Estado, e tem uma fábrica de papel em Cachoeiro de Itapemirim, Sul capixaba, anunciou que a meta de remoção de 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera, inicialmente prevista para 2030, será alcançada em 2025.
“Sabemos que a árvore pode nos dar ainda mais biossoluções. Temos buscado acessar novos mercados e desenvolver produtos que diversifiquem nosso portfólio tendo como norte o nosso compromisso de ofertar 10 milhões de toneladas de produtos de origem renovável que substituam plásticos e derivados do petróleo”, informou a empresa.
Como exemplo, a indústria cita a parceria firmada com a startup finlandesa Spinnova para a produção de fibra de tecido a partir da celulose microfibrilada (MFC). Nela não são adicionados produtos químicos nocivos, o uso de água é menor do que na cadeia de produtos têxteis amplamente conhecidos e as emissões de CO2 ocorrem em quantidades mínimas. A empresa disse ainda que formou uma joint venture para a construção de uma fábrica que irá produzir essa fibra em escala comercial a partir de 2022.
A Suzano tem ainda um projeto para construir uma fábrica de bio-óleo em Aracruz, Norte do Espírito Santo, que usará cascas e resíduos de madeira de celulose para gerar energia. A biomassa pode ser utilizada para aquecimento doméstico e como fertilizante orgânico, por exemplo.
Outra multinacional que atua no Estado e tem como meta zerar a redução da emissão de carbono é a Nestlé, dona da Garoto, fábrica de chocolates localizada em Vila Velha.
“Estamos falando de agricultura regenerativa, gerando impacto positivo por meio das principais cadeias fornecedoras, como café, leite e cacau, com foco em conservação, reabilitação e aumento de produtividade; de circularidade, reduzindo e eliminando o desperdício na produção de embalagens; e de bioeconomia, valorizando os biomas brasileiros e suas comunidades por meio de negócios sustentáveis”, informou a companhia.
Foram definidas pela empresa como metas para o Brasil, até o ano de 2025, obter 30% das principais matérias-primas por meio de práticas regenerativas, reciclar todo o plástico colocado no mercado brasileiro e conservar 300 mil hectares na Amazônia.
Já a Vale afirma que está fazendo investimentos da ordem de US$ 4 bilhões para reduzir em 33% as emissões líquidas de carbono até 2030 e eliminá-las completamente até 2050. A meta vale para os poluentes emitidos diretamente pelas atividades da mineradora. Em relação às emissões produzidas por clientes e fornecedores, que representam 95% das emissões totais da empresa, a meta é diminuir em 15% até 2035.
Entre as ações em prática para alcançar a esses objetivos, está em teste pela Vale a primeira locomotiva elétrica a bateria da mineração brasileira, que começou a operar em 2020, na Unidade Tubarão, em Vitória.
O trem faz parte do programa PowerShift, criado pela mineradora, que visa a substituir sua matriz energética por fontes limpas. Além de cortar as emissões de gases de efeito estufa ao trocar o uso de diesel por eletricidade, o equipamento também diminuirá ruídos, reduzindo a poluição sonora.
Também na unidade de Tubarão, a companhia desenvolve o projeto-piloto de ônibus 100% elétricos no transporte de funcionários. Com autonomia para percorrer 300 quilômetros e um tempo de recarga de quatro horas, os dois veículos estão em fase de avaliação de performance e viabilidade.
Na navegação, a empresa está testando dois navios de grande porte que economizam combustível. Um deles atracou no Porto de Tubarão pela primeira vez em julho de 2021, com velas rotativas que utilizam à energia do vento e reduzem o consumo de bunker.
A mineradora vai começar a fabricação de um produto de minério menos poluente nas usinas 1 e 2 de Tubarão. O “briquete verde” é formado por finos e superfinos de minério de ferro e uma fórmula aglomerante (um tipo de cola), capaz de resistir à temperatura do alto-forno sem se desintegrar, processo que reduz a emissão de gases de efeito estufa. Os clientes siderúrgicos da companhia também poderão diminuir em mais de 10% a emissão de poluentes durante a fabricação do aço.
Entre eles, está a ArcelorMittal Tubarão, que informou que executa estratégias para reduzir suas emissões de gás carbônico (CO²) em 10% até 2030. Segundo a empresa, esse é um “passo intermediário dentro do esforço global da produtora de aço de se tornar carbono neutro até 2050”.
Um dos projetos em estudo é a reutilização dos gases da aciaria. Outra proposta prevê a geração de crédito de carbono num processo denominado Heat Recovery.
“Considerada referência mundial na indústria de aço por seus projetos de gestão energética, a empresa tem ainda outros projetos que reduzem emissões, tais como o modal de transporte de bobinas de aço via Terminal de Barcaças Oceânicas, do Espírito Santo até Santa Catarina. Cada barcaça tem capacidade de levar até 10 mil toneladas de bobinas, retirando das estradas mais de 240 caminhões por viagem”, diz a empresa.
Em 2021, a companhia iniciou na planta capixaba o processo de dessalinização da água do mar. O sistema permitirá que a companhia reduza em até 30% o consumo de água doce captada no Rio Santa Maria da Vitória.
10 mil
toneladas de bobinas de aço vão de barcaça oceânica em cada viagem, do ES até Santa Catarina, segundo a ArcelorMittal Tubarão
Outra iniciativa inovadora que está em fase de teste no Espírito Santo é a Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil, operada pela Marca Ambiental em parceria com a Vila Recicla. Com capacidade de processamento de até 6.500 toneladas por mês, a fábrica irá transformar resíduos da construção civil, derivados de concreto e cerâmica, como blocos, telhas e tijolos em agregado reciclado.
O produto pode substituir o agregado natural (brita e areia) utilizado nas obras, com a vantagem de ser mais barato e gerar menos impactos ambientais. O início da operação da usina está previsto para 2022.
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