É do setor de rochas ornamentais, que já foi visto como vilão do meio ambiente, que atualmente surgem bons exemplos de desenvolvimento sustentável. A “pauta verde” tem conquistado adeptos e, nas últimas décadas, novas práticas são incorporadas a atividades tradicionais.
O pontapé inicial para a reviravolta no segmento de extração e beneficiamento de rochas no Espírito Santo foi nos anos 2000, com a regularização do descarte de resíduos e estratégias de reaproveitamento dos rejeitos da mineração, observa o presidente do Sindicato das Indústrias de Rochas Ornamentais, Cal e Calcários do Estado do Espírito Santo (Sindirochas), Ed Martins.
“A regularização do setor, com relação ao descarte de resíduos, começou em 2005, por iniciativa do então presidente do Sindirochas, Áureo Mameri. Conhecendo de perto a realidade dos empresários, ele procurou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e o Iema para estabelecerem os critérios de destinação da lama abrasiva das serrarias”, lembra Ed Martins.
“Em 2007 aconteceu a assinatura de um TAC (Termo de Ajuste de Conduta), junto ao Ministério Público, para adequação das empresas do setor ornamental. O documento serviu de indutora para a instalação de diversos CTRs (centros de tratamento de resíduos) no Espírito Santo”, explica.
Atualmente, segundo levantamento do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), existem no Espírito Santo cerca de 30 CTRs.
A diretora técnica do órgão, Caroline Machado, explica que a norma mais recente, de 2020, trouxe mudanças no licenciamento e controle ambiental das atividades de extração mineral. “Além da gestão de resíduos, a sustentabilidade precisa abarcar outros aspectos ambientais, como aproveitamento de energia de fontes renováveis (como a solar); a recirculação da água no processo produtivo em circuito fechado; implantação de sistemas eficientes de drenagem para evitar assoreamento de corpos hídricos; entre outros aspectos.”
Tales Machado
Presidente do Centrorochas
"As indústrias do setor já operam suas atividades dentro de circuito fechado de água, no qual entre 95% a 97% de toda água são reaproveitadas"
Ed Martins
Presidente do Sindirochas
"A assinatura do TAC em 2007 serviu de indutora para a instalação de diversos centros de tratamento de resíduos no Espírito Santo"
Mario Imbroisi
Presidente-executivo da Anpo
"Temos experiências bem-sucedidas de reaproveitamento dos rejeitos na composição de estradas e produção de artefatos de concreto"
As práticas de reúso da água, descarte correto de resíduos produzidos nas serrarias e reaproveitamento desses rejeitos são implementadas de norte a sul no Estado, afirma Tales Machado, presidente do Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais (Centrorochas).
“As indústrias do setor já operam suas atividades dentro de circuito fechado de água, no qual entre 95% a 97% de toda água do processo é reaproveitada. Diversas empresas fazem captação de água de chuva ou coletam a água gerada pelos aparelhos de arcondicionado. Para se ter uma ideia, em um dia, conforme potência e região, cada unidade, gera até 2 litros de água, que terão destinação em manutenção de instalações por exemplo” acrescenta Tales Machado.
Há ainda empresas capixabas que investem no plantio de milhares de mudas de plantas nativas e frutíferas, na instalação de painéis solares e proteção de nascentes.
No Noroeste do Espírito Santo, a Associação Noroeste de Pedras Ornamentais (Anpo), que reúne 68 serrarias da região, desenvolve trabalhos de reaproveitamento da Lama do Beneficiamento de Rochas Ornamentais, chamada de LBRO.
O presidente-executivo da Anpo, Mario Imbroisi, conta que um grupo de empresários se reuniu e comprou um grande terreno para ser um local de destinação dos resíduos. Mas, o que era para ser somente um centro de tratamento de resíduos se transformou em um complexo industrial socioambiental, com projetos ambientais voltados para reaproveitamento e reciclagem da LBRO.
Atualmente existem vários projetos em andamento de reciclagem e reuso da Lama do Beneficiamento de Rochas Ornamentais. “Temos experiências bem-sucedidas de reaproveitamento dos rejeitos na composição de estradas, produção de artefatos de concreto, pré-moldados, lajotas. Todas essas finalidades já se mostraram aplicáveis”, diz Imbroisi, destacando que boa parte dos rejeitos se destina à construção civil.
A produção de fertilizantes agrícolas a partir do reaproveitamento da LBRO é a nova aposta da Anpo. “Há grande interesse por parte dos produtores da região. De acordo com estudos recentes que estão sendo desenvolvidos em parceria com instituições de ensino e pesquisa, a lama abrasiva proveniente do corte das pedras apresenta uma concentração razoável de cálcio e potássio, nutrientes requeridos em grandes quantidades pelas plantas. E na produção de fertilizantes, há o aproveitamento de 100% do rejeito”, explica Imbroisi.
Para dar outra destinação aos resíduos, será inaugurada ainda em 2022, na sede da associação, em Barra de São Francisco, uma escola e oficina de artesanato feito com resíduos de rochas ornamentais. “Os resíduos provenientes da produção serão usados para confecção de artesanatos, servindo também como fonte de renda para as famílias”, afirma o presidente.
Ele acrescenta que todos os produtos originados do reaproveitamento dos resíduos, assim como a oferta de capacitação e oficinas, são doados. “É uma contribuição, uma contrapartida dos empresários do setor”.
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