O ano de 2021 será ainda desafiador por conta da pandemia. A professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutora em Epidemiologia, Ethel Maciel aponta três grandes obstáculos para os gestores nas áreas da Saúde e Vigilância Sanitária, que são centrais para a permanência das ações de enfrentamento ao coronavírus.
“O primeiro grande desafio é o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), diante de um cenário de acúmulo de demanda por diagnósticos e tratamentos de pessoas que não procuraram atendimento na pandemia. Além disso, os pacientes sobreviventes da Covid-19 que tiverem sequelas graves vão precisar de atenção especializada. Considerando que no Espírito Santo mais de 73% da população depende exclusivamente do SUS, os gestores municipais precisarão articular esse tema dentro do Pacto Federativo”, explica a professora.
Como segunda necessidade para os municípios, Ethel apontou o investimento no atendimento primário da saúde, responsável pela atenção básica, prevenção e saúde da família. “O terceiro principal desafio é o fortalecimento da vigilância epidemiológica. Em 2015, houve a epidemia do vírus da zika, e, em 2020, a pandemia de coronavírus. Ambas em um intervalo muito curto de tempo. Por isso, o sistema precisa se preparar para as próximas pandemias e epidemias que estão por vir”, alerta.
73%
DA POPULAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO DEPENDE EXCLUSIVAMENTE DO SUS
O secretário-geral da Associação Contas Abertas, Francisco Gil Castello Branco Neto, concorda. “No caso da saúde, é previsível um aumento ainda maior da demanda no SUS, pois nos quatro primeiros meses da pandemia, 327 mil pessoas perderam os planos por não terem como manter o pagamento das mensalidades.”
Além disso, Ethel destaca a necessidade de investimento em pesquisa científica e inovação tecnológica. “Seria fundamental que o parque tecnológico que está previsto para funcionar em Vitória e que será importante centro de inovação e de intercâmbio de empresas tenha parte de suas atividades voltadas para a saúde”, defende.
EDUCAÇÃO
Aposentado por invalidez, Roberto Carlos de Jesus Falcão é aluno da Educação para Jovens e Adultos (EJA) de Vitória. Sem recursos financeiros para ter acesso a computador, tablet e pacotes de internet, ele relata que, desde o início da pandemia, está sem estudar.
“O dinheiro que sobra da aposentadoria mal dá para a alimentação. Estou totalmente isolado e sem poder estudar desde o início do ano”, conta.
A situação do Roberto Carlos não é incomum. Para a educadora Zoraide Barboza, que é presidente do Conselho Municipal de Educação de Vitória, na educação básica, uma das áreas sociais mais impactadas pelas medidas de isolamento social, o principal desafio que se apresenta para os futuros gestores municipais ainda é o de enfrentar as dificuldades e desigualdades no acesso à tecnologia por parte da comunidade escolar.
Zoraide Barboza
Presidente do Conselho Municipal de Educação de Vitória
"O poder público precisa criar políticas de acesso à rede de computadores e pacotes de internet para alunos e professores. E precisa planejar as metodologias e as políticas de ensino que garantirão o processo de aprendizagem dos estudantes no ambiente virtual. Essas ações precisam estar vinculadas à formação e à capacitação de professores para a educação tecnológica. O baixo acesso dos estudantes às plataformas de ensino sinaliza uma ausência preocupante"
Na avaliação da educadora, as políticas municipais de educação no pós-pandemia deverão estar articuladas com outras ações para enfrentar a situação social dos estudantes como um todo. “Muitos alunos estão em situação de fome e, por isso, não conseguem ter acesso ao seu direto à educação”, ressalta.
Membro do Conselho Regional de Economia do Estado (Corecon-ES), o economista Vaner Simões ressalta que a pandemia acentuou desafios já existentes não somente nas áreas mais impactadas de forma direta, como Saúde e Educação.
“Resolver os gargalos da infraestrutura, segurança, cultura e meio ambiente, por meio de projetos eficientes, equacionar receitas e despesas, para alocar melhor os recursos públicos, e fomentar o setor privado para gerar emprego e renda são medidas fundamentais que desafiam os gestores públicos desde antes da pandemia, mas que no cenário atual e futuro representarão uma maior complexidade”, destaca o economista.
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