Os investimentos em inovação, sustentabilidade e tecnologia precisam estar ancorados numa educação de qualidade, moderna e acessível a todos. Essa é a avaliação do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), que elencou a área como uma das prioridades de sua gestão.
Ele sustenta que o Estado tem registrado importantes avanços na digitalização de dados, processos inteligentes e infraestrutura, mas que a educação, em especial, tem mais destaque diante da sua capacidade de transformar o futuro e ser estratégica também no enfrentamento à violência.
Em entrevista ao Anuário, o governador cita projetos, como a ampliação das escolas em tempo integral, parcerias com os municípios e novidades na gestão pública. Comenta ainda sobre o futuro da pandemia do coronavírus, os desafios do país e o cenário eleitoral. Confira:
O Anuário deste ano aborda os territórios inteligentes, com destaque para inovação e sustentabilidade. O que vem sendo feito para transformar o Espírito Santo em um Estado mais digital, inteligente e sustentável?
Temos feito investimentos na rede de fibra ótica em todo o Espírito Santo. Já temos fibra ótica em todos os órgãos públicos da Região Metropolitana e até em Aracruz e Fundão. Contratamos agora mais dois anéis, em torno de R$ 60 milhões, para a gente ‘fibrar’ mais 33 municípios do Norte e do Sul do Estado. Isso é fundamental, porque estamos avançando muito em videoaudiências no sistema prisional e expandindo o uso de tecnologias mais avançadas nas escolas, por exemplo. Estamos investindo com muita intensidade nessa área tecnológica. Precisamos de rede de internet livre nas escolas e de qualidade. Um segundo ponto é que desenvolvemos sistemas. O e-Docs, por exemplo, já permitiu eliminar trâmites com papel e processos físicos na administração pública, o que já resultou em economia neste ano. Começamos em janeiro de 2021, migramos totalmente para o governo eletrônico, e isso tem permitido ganhos em qualidade e controle de processos. Além disso, gera economia de papel, boa para o meio ambiente. Outro sistema que estamos montando agora é o cerco inteligente. Utilizando inteligência artificial, vamos controlar todo o trânsito de veículos, identificando veículos roubados, por exemplo. E tem ainda o Conecta, plataforma com mais de 500 serviços digitais do governo.
Quais são os projetos do Estado para a área educacional?
Sustentabilidade e inovação precisam andar juntas com a educação. Então, estamos fazendo um investimento forte na área educacional. A educação tem tudo a ver com esse processo de transformação. O trabalho que estamos fazendo dentro das nossas unidades, ampliando as vagas em tempo integral; fornecendo equipamentos para professores e alunos com internet, além do apoio dado aos municípios em infraestrutura, é para podermos romper e superar a dificuldade que tivemos em 2020 e 2021, devido à pandemia do coronavírus, com os alunos fora das salas de aula. E isso tem permitido melhorar os serviços públicos.
Nos territórios inteligentes, soluções para uma mobilidade urbana mais integrada e acessível são prioridades. Quais são os investimentos no Estado nesse sentido?
Para ter mobilidade, é preciso fazer primeiro investimento em infraestrutura. Então, estamos realizando obras na Região Metropolitana, que são históricas, como ampliação da Terceira Ponte; Portal do Príncipe; Rodovia das Paneleiras; Contorno de Jacaraípe; a ES 388, que liga a Rodovia do Sol até a BR 101, em Guarapari; e o viaduto da Darly Santos, que faz a conexão com a Leste-Oeste. São obras de mobilidade fundamentais para melhorar o fluxo. Ao mesmo tempo, no transporte público, estamos incorporando tecnologia wi-fi, equipando com ar-condicionado, adotando cartão de ônibus. Renovamos a frota, estamos fazendo investimento em tecnologia e reforma nos terminais. Queremos implantar vias exclusivas em municípios que tenham interesse de aumentar a velocidade média do transporte público. Temos o projeto do aquaviário também, com a empresa já contratada e mobilizada para iniciar as obras. Um território inteligente é aquele que tem um conjunto de ações e equipamentos públicos que são fornecedores de diversos serviços.
Mesmo com a pandemia, o ES tem alcançado bons resultados de arrecadação. Manteve a Nota A do Tesouro e tem realizado investimentos. Como fazer isso num momento tão difícil, que também demanda ampliação dos gastos com a saúde pública?
Fizemos esse acompanhamento diário no Estado, tanto na gestão da pandemia quanto das contas públicas. Essa organização que temos no Estado nos permitiu fazer a gestão da pandemia e, ao mesmo tempo, manter outros projetos, tanto que, em 2019, o Estado investiu mais do que em 2018. Em 2020, mesmo com a pandemia, mais do que em 2019, e, em 2021, será mais do que 2020. Se Deus quiser, em 2022, também será mais do que em 2021. Temos como prioridade fazer uma recuperação da infraestrutura capixaba, manter o Estado organizado e equilibrado.
Renato Casagrande
Governador do Espírito Santo
"O Espírito Santo foi o Estado que mais cortou despesas no Brasil, percentualmente, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional. E, proporcionalmente, foi o Estado que mais investiu em Educação e em Infraestrutura. Somado a isso, mantivemos o Fundo Soberano recebendo recursos, que é uma reserva de receita para o futuro, para que os próximos governantes tenham tranquilidade para governar e que isso dê também tranquilidade para a população capixaba."
Apesar de o Espírito Santo ter uma boa situação fiscal, o cenário econômico nacional é desafiador, o que acaba refletindo no Estado. Na avaliação do senhor, por que a economia brasileira não tem andado para frente?
Por instabilidade política, que gera instabilidade econômica. Por incertezas, confrontos entre as instituições. Nesses últimos anos, a gente tem assistido, permanentemente, ao Poder Executivo nacional em confronto com o Congresso Nacional e, em algumas vezes, com o Supremo Tribunal Federal. Essa instabilidade nas relações institucionais, a falta de consenso nacional em torno dos problemas e a ausência de uma coordenação nacional para enfrentar a pandemia e outras dificuldades têm gerado muitas incertezas, que levam a uma desvalorização da nossa moeda. As famílias perdem poder de compra, empobrecem e ficam mais vulneráveis. Isso faz o Brasil patinar. A atividade econômica precisa de estabilidade e previsibilidade. Quando não se tem isso, os investidores fogem.
Após o leilão da ES Gás, previsto para 2022, o governo programa outras privatizações?
Não, mas temos planos de realizar mais parcerias com o setor privado na área de saneamento e no sistema financeiro, ampliando concessões e PPPs (Parcerias Público-Privadas). Temos diversas parcerias sendo estudadas. A proposta é o Bandes se tornar provedor de projetos nessas áreas para atender ao Estado e aos municípios. São projetos que podem somar forças com o setor privado.
Temos visto uma crescente onda de violência no Estado, com números elevados de homicídios e casos chocantes. Por que isso tem acontecido, na avaliação do Estado, e quais medidas estão sendo tomadas?
Estamos contratando policiais, fazendo investimento em infraestrutura, em tecnologia, em viaturas e valorizando a categoria. Aquilo que cabe ao Estado, nós estamos fazendo. Mas vivemos em uma sociedade que tem uma cultura de violência muito forte, é só ver a política de armamento da sociedade hoje, que coloca a arma à disposição dos bandidos, e isso torna o trabalho da polícia muito mais difícil. Além disso, entre 30% e 40% dos homicídios no Estado são crimes de proximidade, que é quando o marido tira a vida da esposa, o filho tira a vida do pai, o colega que tira a vida do outro colega em um churrasco. Então, temos uma cultura de violência muito forte. A pandemia da droga é também um desafio permanente para nós, porque as pessoas são levadas ao crime para atender a sua dependência química. Mas estamos avançando. Lá em 2011, quando pela primeira vez eu governei o Estado, o Espírito Santo era o segundo mais violento do Brasil, hoje é o 13º. Então avançamos e tenho certeza que, com uma continuidade de políticas públicas nessa área, ficaremos entre os cinco estados menos violentos, deixando para trás esse histórico de sociedade violenta. O número ainda é alto, eu sei, mas o problema do serviço público é a falta de continuidade. Quando se tem continuidade de políticas públicas, a gente consegue conquistar resultados com uma velocidade muito maior. Veja como foi importante, por exemplo, chegarmos em 2012 com Nota A na gestão fiscal e permanecer com essa nota até agora, em 2021. Houve continuidade. Quando não há sequência, o prejuízo para a sociedade é muito grande. Temos hoje metade do número de homicídios que tínhamos no início da década passada, ou seja, conseguimos dar um passo adiante. E o que temos que fazer agora, é continuar trabalhando para termos, de fato, capacidade de punir quem comete crimes.
O senhor entra agora na etapa final do mandato. O que espera entregar aos capixabas no último ano de governo? Qual é a sua meta?
Nós temos muitas coisas em andamento. Vamos entregar um sistema de saúde muito mais estruturado e organizado, numa parceria muito forte com os municípios. Para se ter uma ideia, em 2018, o Estado era o quinto pior na cobertura de atenção primária. Hoje, somos o sétimo melhor. Contratamos mais de mil profissionais, entre médicos, dentistas e enfermeiros, que sairão três anos depois especialistas em saúde da comunidade. Vamos entregar uma área de saúde muito mais organizada e estruturada também na área ambulatorial e no atendimento hospitalar, ampliando os leitos de hospitais no nosso Estado. A gente também está conseguindo um sistema de educação muito mais preparado, qualificado, equipado, com professores mais valorizados. E vamos apresentar para a sociedade redução de homicídios. Entre 2019 e 2021, muito provavelmente, teremos o menor número de homicídios da história, em um período de três anos, e uma segurança pública reformulada, com mais efetivo, mais equipamento, mais tecnologia. Vamos entregar essas áreas essenciais, como Saúde, Segurança e Educação, com condições muito melhores para prestar serviços e, modéstia à parte, também uma recuperação da capacidade do Estado de investir em Infraestrutura.
O senhor vai ser candidato à reeleição?
A minha posição, só vou decidir em 2022, a partir do mês de maio. O Espírito Santo precisa de um governador, não de um candidato. O ambiente terá que ser analisado até lá na frente. Eu ainda não sei se vou disputar alguma eleição. Vou tomar essa decisão na hora correta. As convenções só vão acontecer no meio do ano que vem, e as tarefas que eu estou exercendo exigem muita dedicação minha. Não posso, com todo respeito a quem está fazendo isso, ainda usar o meu tempo agora no processo de articulação eleitoral.
Qual a sua avaliação sobre o cenário nacional nas eleições de 2022? O que se pode esperar, diante dessa polarização entre Bolsonaro e Lula? Acredita na viabilização de uma terceira via forte?
O ex-presidente Lula é hoje uma liderança que tem um apoio expressivo da sociedade brasileira. As pessoas lembram com êxito do tempo em que ele governou, então ele tem um saldo positivo e acho que é um candidato forte a estar no segundo turno neste momento. O presidente Bolsonaro também tem uma base sólida, bem consolidada, mas enfrenta disputas no seu campo, com o ex-ministro Moro e outros presidenciáveis. Romper com essa polarização não é uma tarefa fácil para qualquer outro candidato, mas é possível que surja alguém efetivamente na hora da eleição. É pouco provável que apareça uma candidatura forte já fazendo enfrentamento e competindo em voto com o presidente Jair Bolsonaro antes de começar o processo eleitoral.
Renato Casagrande
Governador do Espírito Santo
"Espero que o Brasil possa encontrar um caminho de equilíbrio, de diálogo, de alguém que vai pacificar o país, trabalhando pela união da população brasileira e enfrentando o principal problema que temos no mundo e no Brasil, que é a desigualdade social"
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